A RONALD McDONALD's HOUSE

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Ele me colocou uns óculos muito loucos. Totalmente reguláveis, que se adaptavam a qualquer tipo de rosto. E então, foi colocando as lentes no encaixe e me perguntava qual me dava mais nitidez na imagem. Foi maravilhoso! Com as lentes eu já podia ver quase tudo. Era demais!

Ver as cores, as linhas retas dos móveis, a trama do jeans, as coisas mais triviais, ver é tudo! Vi o rosto dele nitidamente e atrás dele pude ver os rostos de minha mãe e da minha irmã. Meus olhos encheram-se de lágrimas. Depois de uma pequena pausa, pedi um Kleenex. Eles perceberam minha emoção e compartilhamos aquele momento em silêncio.

Dr. Blumenkranz, apagou a luz e me pediu para ler as letras dentro de um quadrado de luz e pude ler até o quarto tamanho. Ele ficou incrédulo com o resultado.

-Great Enrique! Excelent! It's incredible!

Ele pediu licença e saiu.

Nisso me levantei e fui até a minha mãe e brinquei com ela;

-Me deixa ver se apareceu alguma ruguinha nova nesses últimos três meses.

As duas quase me bateram...

Alguns minutos depois entra o Dr. Blumenkranz com o Dr. Clarkson, que já tinha me visto antes da cirurgia. Ele me examinou e também ficou impressionado com o resultado obtido após a cirurgia feita pelo Dr. Blumenkranz. Dr. Clarkson felicitou-nos e também ao seu colega e disse que o Dr. Blumenkranz tinha mãos mágicas.

Depois da saída do Dr. Clarkson, Dr. Blumenkranz nos pediu para voltarmos no final da tarde para que víssemos outros médicos também.

Deu-me um pequeno papel, era uma receita e disse que já podíamos fazer os meus novos óculos. Indicou-nos uma ótica que havia no subsolo do hospital.

Perguntei para ele quantos por cento eu tinha recuperado de visão, e ele me disse que os exames haviam mostrado vinte e cinco por cento.

Contei que enxergava linhas irregulares quase no centro da retina e ele me falou que eram scars, cicatrizes das cirurgias. Pedi um papel e as desenhei exatamente como eu as via. Ele olhou o desenho e disse:

-Exactly.

Colocou o desenho no meu fichário, virou-se e disse que havia uma possibilidade de mais uma cirurgia, mas não naquele momento ainda. Disse, ainda, que eu não me assustasse com aquilo, pois estava tudo bem.

Despedimo-nos e fomos para a ótica. Eu estava curioso para saber qual era o grau prescrito na receita. Quando a Angélica me disse que eram oito graus, fiquei assustado. Antes da primeira cirurgia eu usava lentes para um e setenta e cinco graus de miopia.

-Essa lente vai ficar super grossa. Falei

Por um instante, dei mais importância à estética, do que ao fato de poder enxergar, não importando como. Mas nesse mesmo momento as duas me chamaram a atenção. Concordei e me desculpei.

Na ótica, duas notícias pouco animadoras. A lente demoraria uma semana para ficar pronta e o preço era três ou quatro vezes mais caro que meus óculos brasileiros. Como não conhecíamos nada em Miami, mandamos fazer ali mesmo. Passamos na sala do departamento financeiro e Angélica avisou que até sexta-feira traria o restante do pagamento.

Quando chegamos de volta no hotel, havia um recado para nós no escritório. Haviam ligado do Brasil e, pelo que entenderam, era para que nós ligássemos assim que chegássemos. Subimos e Angélica ligou. Meu pai atendeu e disse que ele havia ligado para avisar que tinha conseguido resolver a história toda no Banco Central. Ela perguntou como ele havia conseguido e ele falou;

Fidel com a dele e eu com a minha.Where stories live. Discover now