A RONALD McDONALD's HOUSE

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Esse conselho se encarregava de gerir a casa através de doações e eventos que arrecadavam dinheiro ou produtos. Também recebiam alimentos de redes de supermercados, refrigerantes da coca-cola e eram isentos de alguns impostos. Ela era a única pessoa remunerada na casa de Miami, os demais eram todos voluntários.

Fiquei admirado com aquele projeto tão bem elaborado, gerido e, acima de tudo, essencialmente humanitário.

Nossa conversa foi interrompida várias vezes, para ela atender o telefone ou abrir a porta através do controle interno conectado aos monitores de TV que controlavam os acessos à casa.

Estava encantado com tamanha praticidade tecnológica. Meu pai tinha a mesma função que Maria Antonieta, mas sem nenhuma daquelas facilidades. Quando chegava um carro, alguém tinha que descer até a garagem para abrir o portão; nem pensar em câmeras de vigilância.

Angélica veio me buscar para almoçar e Maria Antonieta fez elogios à elas pelos já famosos pratos.

-¡Que rico que huelen! Mi mama me dijo que tu madre cocina divinamente. Disse Maria Antonieta para a Angélica.

-La comida brasileña és muy sabroza. Respondeu ela.

As duas embarcaram numa conversa culinária e eu acabei convidando Maria Antonieta e cia para almoçarem conosco no domingo.

Ela disse que falaria com o marido e com a mãe e nos confirmaria se estivesse tudo certo. Despedi-me e agradeci pelo papo. Ela disse que eu podia ir lá quando quisesse. Subimos e quando minha mãe soube do convite que fiz, ficou um pouco nervosa.

–E agora? O que eu vou fazer? Não sei nem o que preparar para eles! Disse ela preocupada.

-Calma. Relaxa Sarinha. (apelido devido ao apego dela pela sua lojinha) -Faça o frango no limão, arroz e uma saladinha. Disse eu.

-Angélica, esse menino não tem jeito mesmo. Completou a minha mãe já mais tranquila.

Após o almoço fui me deitar e fiquei no quarto até quase seis horas, quando fomos ligar para o Brasil do telefone público que ficava no corredor.

Conversei com todos que estavam em casa: meu pai, meus irmãos, minha avó e minha prima Rosana. Angélica falou com meu pai sobre a questão da remessa de dinheiro para o hospital e ele contou que estava levando um chá de cadeira no Banco Central em São Paulo. Disse que a cada dia aparecia uma novidade para dificultar a liberação dos dólares, e ele já não sabia mais o que fazer.

Ele disse que em último caso faria um empréstimo no banco e compraria os dólares no mercado paralelo. Essa solução faria com que esses dólares nos custassem mais do que o dobro, somando-se o ágio e os juros do empréstimo.

Meu pai explicou que estavam criando uma série de exigências, como tradução dos documentos hospitalares, perícia médica autorizada e outras burocracias. Tirando isso, ele disse que estava tudo certo por lá e quis saber quando retornaríamos.

Respondi que provavelmente entre três a quatro semanas; ele ficou muito contente com a notícia e perguntou:

-Filho, você está enxergando mesmo? Já pode ver o que?

Respondi que sim e que até já podia ver um pouco de TV. Ele, com a voz embargada, disse:

-Força aí filhão. Fica com Deus que tudo vai dar certo.

-Eu sei pai. Vai sim. Um beijão. Te amo.

Emocionado, passei o telefone para a minha mãe e fui me afastando pé ante pé, tentando visualizar o caminho até a sala de televisão através dos buraquinhos do protetor. Fiquei parado quase em frente à porta do elevador por um par de minutos. Logo depois, um casal se aproximou de mim e perguntou se eu queria ajuda para ir a algum lugar. Eu disse que estava esperando minha mãe, que estava no telefone, e eles falaram que se eu quisesse me sentar que eles me levariam até a mesa; eu concordei e agradeci.

Fidel com a dele e eu com a minha.Donde viven las historias. Descúbrelo ahora