A RONALD McDONALD's HOUSE

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Perguntei por que estavam na casa e me disseram que era por causa da filha deles de vinte anos que teve um problema numa veia na área do cérebro. Ela já havia sido operada e iria ter alta no dia seguinte. Apresentei-os para a Angélica, que veio me buscar para irmos até a mesa. Eles se despediram dizendo que estavam voltando para o hospital para fazer companhia à filha.

Mais uma vez o nosso almoço fez sucesso: macarrão alho e óleo com filé de frango frito com alho e cebola.

Não havia quem saísse do elevador e não quisesse saber o que estávamos comendo. Até a dona Irmia, que estava no térreo, subiu para saber o que estava cheirando tão bem. A gente se divertia ao ver o espanto das pessoas ao saber que era apenas um simples alho e óleo.

Aquela casa se tornava mais e mais acolhedora e divertida. Naqueles dois dias eu já havia conhecido pessoas de seis países diferentes. A cada dia que passava o pesadelo de ter perdido a visão ia ficando para trás e uma nova etapa se apresentava. Apesar de ainda não ter minha vida restabelecida em sua plenitude, os maus momentos foram se afastando da minha mente.

À noite, a casa ficava ainda mais movimentada, pois com o fim do horário de visita nos hospitais, as pessoas retornavam para descansar, comer e se socializar. A grande maioria das pessoas se interessava em saber dos outros doentes, e isso era um grande conforto para os pais, esposos e filhos dos mesmos.

Alguns grupos se formavam de acordo com o idioma, principalmente. Os latinos, que não falavam inglês ficavam agrupados, os latinos que eram bilíngues, tanto estavam entre os latinos como também entre os que só falavam inglês.

Naquela semana a casa parecia uma filial da ONU. Fiz amizade com gente de Curaçao, Haiti, Nicarágua, Peru, Equador, Honduras, Costa Rica, Jamaica, Panamá, Inglaterra, Aruba, México, e claro, Estados Unidos.

Ocorreu-me a idéia de pedir uma moeda para cada pessoa que eu ia conhecendo para ir aumentando a coleção que fazia desde os nove anos.

Quando terminava a novela do canal latino, a sala começava a esvaziar e predominava o grupo anglo-saxão que tomava café, como nós brasileiros tomamos chá e se destacavam também pelo consumo de cigarros. Aquela fumaça me incomodava; meus olhos, ainda muito sensíveis, começavam a arder.

Pedi que Angélica me levasse até o quarto para que eu ficasse deitado escutando meu radinho. As Olimpíadas de Los Angeles estavam para começar, e o assunto reinante era o boicote de Cuba e da União Soviética e seus países aliados. As rádios de Miami exploravam o tema à exaustão. Como ainda era cedo, as rádios de Cuba não entravam na frequencia local. Só depois da meia-noite é que consegui captar alguns sinais. Em um deles o Comandante Fidel Castro declarava o boicote aos Jogos Olímpicos de Los Angeles.

-El pueblo cubano no participará de estos Juegos Olimpicos em territorio imperialista, disse o ditador que continuou por mais de três horas falando sobre o assunto.

Eu escutava um pouco, o sinal sumia e eu tentava achá-lo. Assim chegou mais uma madrugada, onde eu já me considerava um contra-revolucionário vitorioso.

Nosso quarto era confortável, não muito grande, porém com espaço suficiente para nós três. Uma coisa me chamava muito a atenção: o silêncio.

As janelas eram do tipo basculante e para fechá-las ou abri-las, havia uma manivelinha que fazia o trabalho e deixava tão bem fechada que não entrava nenhum ruído externo. Achei aquele sistema excelente e muito inteligente, pois da mesma forma que vedava a entrada do som, impedia a entrada do ar quente e mantinha o ar refrigerado no ambiente interno.

Fidel com a dele e eu com a minha.Where stories live. Discover now