A RONALD McDONALD's HOUSE

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-Hola Julio, todo bien? Estas servido?

Ele agradeceu e subiu pela escadaria externa. Menos de cinco minutos depois, Roxana a esposa dele entrou pela mesma porta da escadaria e disse;

-Hola Enrique, Izaura y Angélica. Julio me dijo que usteds "nos" invitarón a comer? El no puede pues está de salída, pero yo si puedo.

Minha mãe, meio sem graça, confirmou e disse a ela que se sentasse enquanto ia buscar mais um prato e talheres. A partir daquele dia passamos a tomar cuidado em, por educação, oferecer a refeição. O problema era que muitas vezes elas não cozinhavam muita quantidade para que não houvesse sobras, já que o espaço na geladeira era pouco. E aquele fato somou-se a outros onde percebemos que a conduta dos latinos ali na casa, era diferente da dos brasileiros. Eles costumavam aceitar o convite que normalmente era feito apenas por educação.

Chegava a segunda-feira e a minha ansiedade estava voltada, não para a consulta com o médico, mas em ir até a ótica pegar os óculos. Assim que chegamos ao hospital fomos direto para a ótica, e a notícia era a de um atraso no envio das lentes que nos faria ter que esperar por mais dois dias. Fiquei frustrado. Eu já andava com os olhos abertos, mas não dava para andar sozinho ainda e os óculos me dariam essa liberdade.

Após passarmos na clínica, fomos até o departamento financeiro onde nos informaram que já havia chegado a remessa feita pelo Banco Central em meu nome. O valor inicial das minhas despesas, previsto pelo hospital, foi ultrapassado e mesmo com o dinheiro vindo do Banco Central, ainda ficamos com um débito de pouco menos de mil dólares.

-Graças a Deus esse dinheiro chegou. Disse minha mãe.

-Nada como ter QI né mãe? Perguntei ironicamente.

Aquela era nossa quarta semana em Miami e apesar das saudades e da vontade em voltar e mostrar que havíamos conseguido o nosso intento, de certa forma estávamos relaxados graças à estada na casa Ronald McDonald.

Na quarta-feira, lá estávamos nós na ótica e finalmente chegaram os óculos. A moça nos atendia com atenção e verificava os papéis, depois manuseou os óculos, pegou um lencinho para limpar as lentes. Nessa hora, minha vontade era a de pedir licença e pegar os óculos das mãos dela. Finalmente, ela me entregou os óculos.

A sensação era, ao mesmo tempo, maravilhosa e estranha. Quase inconscientemente saí andando tentando saber se realmente teria condições de andar sozinho. Meu cérebro me avisou com imagens não tão precisas, e minhas mãos instintivamente se postaram em frente ao meu corpo para evitar que eu me chocasse com a porta de vidro.

-Cuidado Enrique! Espera aí! Falou a Angélica temerosa.

Pouco a pouco fui saindo da loja e subindo os dois lances de escada. Cada passo era dado com mais confiança. Sim, eu estava andando sozinho e livremente. Não era mais um daqueles sonhos que me tiravam das trevas, era a mais pura realidade. Eu estava enxergando novamente. Parei no alto da escada e esperei que as duas me alcançassem e falei:

-Qual é a porta da clínica?

-A que tem o visor de vidro. Disse-me a Angélica.

-Me deixa ir sozinho para fazer uma surpresa para as recepcionistas, okay?

Abri a porta e andei até a frente do balcão e então começou o alvoroço.

-Mira quien está aqui. Disse a Aurora para as outras. E todas abriram um sorriso de alegria e satisfação e nos deram muitas felicitações.

Fidel com a dele e eu com a minha.Where stories live. Discover now