A RONALD McDONALD's HOUSE

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Aquela semana foi passando lentamente e o que dava um tom diferente àquela rotina era o fato de sempre acontecer alguma situação engraçada.

A casa (como já chamávamos o hotel) com aquela convivência tão plural de estrangeiros se tornava um ambiente perfeito para gerar situações fora do comum. Numa certa noite, na cozinha do terceiro andar aconteceu uma dessas situações. Sozinha na cozinha, Cristina, uma argentina, preparava o jantar dela e do marido. Na chapa do fogão, dois filés enormes eram cuidadosamente preparados à moda argentina. Eis que entra de supetão cozinha adentro, uma família jamaicana que o pessoal havia apelidado de os Muñudos, pois eram rastafáris e tinham aquela cabeleira característica dessa seita. Quando os Muñudos enxergaram aquela chacina de carne bovina, se espantaram e começaram a proferir palavras que a Cristina não entendia, pois ela só falava espanhol. Eles falavam, falavam e apontavam para os dois filés.

Tentando ser simpática, ela que já havia colocado os files mal passados em seus pratos, virou-se para eles no intuito de oferecer-lhes aqueles suculentos pedaços de carnes ainda avermelhadas. Aquela cozinha em forma de L, com a porta numa das extremidades e o fogão na outra, obrigava que Cristina fosse em direção aos Muñudos com um prato em cada mão. Quando ela, gentilmente, ofereceu a iguaria aos rastafáris, eles começaram a recuar e gesticular com as mãos para que ela se afastasse e dizendo:

-Push! Push! Push!

E Cristina que não sabia o que eles diziam lhes falava:

-¿Estan servidos? Yo les preparo un filé con mucho gusto.

A essa altura, os Muñudos já enfurecidos saíram da cozinha, falando alto e carregando os seus alimentos naturebas e foram chamar a manager para resolver aquela questão, idiomático-religiosa-gastronômica.

Quando essa história chegou ao segundo andar, ninguém conseguia parar de rir. E quando Rafael, marido da Cristina, nos contava tudo com riqueza de detalhes, a história ficava ainda mais engraçada. Maria Antonieta teve que criar uma regra extra enquanto aquela família de rastafáris estivesse hospedada lá e carne vermelha só seria permitida na geladeira e na cozinha do segundo andar.

Nesse mesmo dia, um pouco mais tarde, Maria Antonieta colocou um aviso em todos os andares, dizendo que naquela sexta-feira teríamos uma festa oferecida por uma organização que ajudava crianças que estavam em tratamento de câncer. A festa seria no terceiro andar e haveria a presença de dois canais de TV locais que fariam a cobertura jornalística do evento. Essa divulgação serviria para arrecadar doações em dinheiro para o tratamento de um garotinho peruano. Desse evento nasceu mais uma das histórias que ficaram na memória dos que a presenciaram.

O garoto tinha nove anos e estava acompanhado apenas pelo seu pai, o senhor Liñares. Várias vezes durante a festa, as pessoas escutavam o pai falando para o filho;

-¡Come hijo! ¡Come!

Então a manager nos confidenciou que o pai era meio sovina e queria tudo estilo "venha a nós". Parece que ele até se aproveitava da situação para tirar algum proveito financeiro e aquela ordem para que o filho comesse não era de preocupação pela alimentação do filho e sim para ele não ter que gastar dinheiro comprando comida mais tarde.

Depois disso, o senhor Liñares passou a ser chamado de: Come Hijo Come. Assim, já tínhamos o Ramon, o Gordiflon, os Muñudos, o Come Hijo Come, a confusão do apelido e tínhamos a certeza de que mais personagens apareceriam naquela viagem.

Aquele fim de semana foi marcado pelo almoço com a família da Maria Antonieta. Eles adoraram a comida e a fama das minhas cozinheiras espalhou-se pelos hóspedes. Em uma ocasião, estávamos comendo e Julio Cabrera, passou pelo refeitório nos cumprimentou, e nós falamos:

Fidel com a dele e eu com a minha.Where stories live. Discover now