THE THIRD SURGERY

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Como eu já estava no hospital há quase cinco dias, pedi que comprassem umas batatinhas fritas e um milk-shake no McDonalds. Pedido feito, pedido atendido. Enquanto eu comia, elas me contavam sobre o novo hotel e os hóspedes com os quais tinham feito amizade.

Aquele foi um domingão bem tranquilo e com pouca movimentação pelo hospital. Estávamos muito animados com os últimos resultados. Agora, faltava pouco para saber com mais certeza o resultado final daquela cirurgia. As perspectivas eram excelentes; isso nos deu um ânimo extra, uma força que tirava aos poucos aquele peso de nossas vidas.

Após o jantar, um pouco antes das sete horas, falei que elas podiam ir embora para descansarem um pouco. Eu ficava incomodado de estar dando tanto trabalho. Sabia que faziam por amor e por vontade própria, mas elas também precisavam se desligar um pouco, mesmo que fosse por algumas horas.

Mal elas se despediram, liguei o rádio e fiquei de estação em estação tentando descobrir algo sobre a corrida, mas nada.

"-Caramba meu, por que será que aqui nos Estados Unidos não passa Fórmula 1?", pensei.

Só se ouvia falar em beisebol. Eu não entendia nada do assunto, não conhecia os times e nem os jogadores. A mesma paixão que nós temos pelo futebol, os norte-americanos e os cubanos têm pelo beisebol. Só que no futebol, nós damos mais importância aos lances polêmicos e às fofocas e eles dão muito valor às estatísticas.

Num dos boletins de notícias, finalmente deram o resultado do Grand Prix, mas só falaram o nome de quem ganhou a corrida:

-El ganador del Gran Prix de los Estados Unidos fue el finlandes Keke Rosberg.

E mais nada. Eu teria que esperar a próxima ligação do Brasil e perguntar sobre a corrida e sobre o Corinthians, pois também sequer mencionavam o futebol brasileiro nos noticiários.

Naquela noite fiquei mais acordado que dormindo. Estava ansioso para ir para o hotel e mais ainda para voltar a enxergar.

Como ficaria a minha visão? Eu não tinha a menor idéia. Quantos por cento eu voltaria a enxergar? Só o tempo me daria aquelas respostas e faltava pouco.

Segunda-feira.

Outra vez o Dr. Blumenkranz madrugou e chegou ao meu quarto antes das sete horas.

-Good morning Enrique! How you are feeling today?

Disse ele com animação.

-Good morning Doctor Blumenkranz. I think, that I'm fine, thanks. And you? Respondi.

Ele respondeu que estava muito bem e agradeceu. Em seguida já foi retirando o curativo. Acho que ele estava mais ansioso do que eu para saber o resultado daquela operação. Assim que ele começou a passar o lenço de papel para remover as secreções, eu, mesmo com o olho ainda fechado, já notava uma coloração meio alaranjada causada pela entrada de luz no olho.

Ao abrir os olhos meu cérebro recebeu pela primeira vez a imagem do rosto do Dr. Blumenkranz.

Eu queria é ter dado um grito, daqueles que os lutadores dão ao vencerem suas lutas. Não sei como, mas consegui dominar a emoção e falei:

-I'm seeing your face doctor.

-Oh my God...really Enrique?

Respondeu ele com um sorriso que eu enxerguei.

-Yeah...I'm seeing you. Repetí.

Então ele colocou a mão a uns dois palmos do meu rosto e perguntou quantos dedos eu estava vendo. Eu fazia um pouco de esforço para ir respondendo e pedia a ele que movesse a mão um pouco para facilitar e fui respondendo sem errar. Ele ficou alucinado e perguntou o que mais eu estava enxergando naquele quarto. Fui tentando fixar o olhar nas coisas que estavam ao alcance da minha visão e falei;

Fidel com a dele e eu com a minha.Where stories live. Discover now