THE THIRD SURGERY

Start from the beginning
                                        

Ele explicou que a cirurgia havia demorado muito, pois era uma área muito grande a ser reconstituída, mas ele estava muito confiante no sucesso da operação. Minha mãe chorava, acompanhada pela minha irmã. Depois que ele saiu, as duas quase se jogaram em cima de mim, me abraçando e me beijando. Fiquei emocionado também e elas perceberam que aquilo podia não fazer bem para meu olho operado e se recompuseram.

Nesse momento, ouço uma voz masculina falando em espanhol, no quarto. Era o novo paciente, que estava ocupando a cama ao lado e se apresentou:

-Holá, soy Anselmo Martinez. Mucho gusto.

-Hola, respondi.

Angélica então disse que ele estava ali há pouco, e seria operado na manhã seguinte, também de descolamento da retina. Meu novo companheiro de quarto era um porto-riquenho de cerca de cinquenta anos. Falante e extrovertido, puxava conversa a todo o momento. Demonstrou ser uma pessoa bem informada, disse gostar muito do Brasil, da música brasileira e que já tinha ido ao Brasil uma vez.

Logo após o jantar, elas me perguntaram se eu queria mais alguma coisa, pois estavam cansadas e já estava quase na hora do horário de visitas terminar. Minha mãe disse que iam ligar para o meu pai para contar as novidades e que voltariam na manhã seguinte. Pedi que deixassem o meu walkman na mesinha ao lado da cama e que mandassem um beijo para todos.

Nisso, o Anselmo disse a elas que não se preocupassem; qualquer coisa ele estava ali e me ajudaria com mucho gusto. Elas agradeceram e se despediram de mim com abraços e beijos. Fiquei ali descansando e ouvindo a TV que o meu companheiro de quarto estava assistindo. Quase não conversamos naquela noite e no pouco que conversamos, fiquei sabendo que o descolamento na retina dele era mínimo, e ele tinha visão normal no outro olho.

Anselmo falou o nome do médico dele, eu disse o nome do meu, e que eu não lembrava se o médico dele havia participado dos exames que fiz. Ele parecia muito tranquilo e até mesmo despreocupado.

Acabei pegando no sono, só acordei na madrugada. Como eu não tinha nem idéia do horário, estiquei o braço e peguei o walkman.

Quatro horas, exatamente o horário em que todos os noticiários nas rádios em espanhol começavam. Fiquei ali escutando as notícias, e dando breves cochilos. Nessa época as rádios cubanas de Miami mais importantes eram: Cadena Azul, Union Radio e La Cubanissima.

Sexta-feira.

Já passava das seis e meia, quando o Dr. Blumenkranz apareceu dizendo:

-Good morning Enrique. How are you feeling?

Respondi que estava bem.

-No pain? Perguntou ele.

Eu não entendi, e Anselmo me disse em espanhol que ele queria saber se eu tinha dor; eu disse que não e ele me chamou para acompanhá-lo.

Eu não entendia aquilo, já que nas outras cirurgias eu ficara dias deitado em repouso absoluto e sem mexer a cabeça. Levantei-me e ele me deu o braço para que eu o segurasse e fui andando ao lado dele. Pegamos o elevador e ele me levou até o primeiro andar onde ficava a clínica.

Entramos em uma sala e ele me sentou em uma cadeira. Cuidadosamente começou a retirar o curativo e quando o retirou, pediu que eu tentasse abrir o olho, mas eu não consegui. Então, ele foi limpando as secreções com uma gaze e pouco a pouco ia abrindo meu olho com seus dedos.

Senti uma luminosidade diferente daquela que eu estava percebendo antes da cirurgia. Não via nada, apenas uma forma luminosa diferente. Ele pingou umas gotas no meu olho, explicou que era um colírio anestésico e que voltaria em poucos minutos. Ele saiu da sala e eu fiquei ali sentado naquela cadeira bem inclinada para trás e com os olhos fechados. Estava ficando frio ali.

Fidel com a dele e eu com a minha.Where stories live. Discover now