Prólogo

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Introdução: Por que eu sou e estou assim?

Eu sou nascida e criada na igreja, então minha infância se resume em fazer parte do coral infantil e escola bíblica aos domingos. Não teve um dia de culto se quer que eu fique de forma do coral por vontade própria, ou que eu faltei os domingos de manhã. Às vezes quando não tinha quem me levar à igreja, eu chorava a noite toda e amanhecia no dia seguinte com febre. Olhando para a minha eu do passado, percebo como era bizarra toda a situação. Mas ao me aprofundar nos sentimentos daquela garotinha eu me orgulho de quem eu fui. Eu tive uma conexão com Jesus Cristo que vai muito além do entendimento de muitos. Eu queria estar com Ele sempre, cantar e ouvir a história de sua vida. E assim eu fiz, cada dia enquanto eu podia.

Ouve uma época em que nosso coral de crianças na faixa de 8 a 10 dez anos começou a “entrar em crise”. A nossa líder teve que mudar de cidade, e ninguém quis assumir responsabilidade por nós. As crianças que adoravam contar juntamente de mim foram desanimando até não sobrar mais ninguém no espaço infantil. Quem é, já fez parte ou já visitou alguma igreja sabe que as crianças costuma ter um espaço na igreja onde é somente elas. Seja uma salinha ou alguns bancos na frente do altar.  Então, nesse espaço sobrou apenas a mim e eu fiquei arrasada.

Tempos depois as crianças viraram pré-adolescentes e então surgiu uma chamada. Uma irmã (modo como nos chamamos na igreja) levantou-se e tomou a frente do coral. Nesse dia meu coração se encheu de alegria, expectativa e então eu finalmente agradeci a Deus por estarmos juntos novamente. Reorganizamo-nos, vestimos nossos uniformes e juntos adorávamos a Deus as quarta-feira, sexta-feira e domingos. Estava tudo bem com o coral, com as vozes e até planejamos fazer uma festa. Mas daí outra líder precisou sair, e de novo ficamos sozinhos, desanimamos e sem ter certeza do que deveríamos fazer. Um pesar gigantesco porque tínhamos tudo que precisávamos para crescer, eu acreditava nisso.

Outra vez eu fiquei sozinha no espaço infantil, porém dessa vez eu não tive paciência e fé para permanecer. Antes eu tinha estrema convicção que eu só estava sozinha fisicamente, Deus sempre esteve comigo o tempo todo. Mas depois, pela segunda vez, que importância faria estar ali ou não? No final para mim não fazia sentido esperar confiando de que alguma hora eles voltariam, então eu sai dali. Não ocupei mais o lugar que era meu, não fui mais as escolas bíblicas e nem mesmo orei.

E foi-se mais alguns meses e com meus quatorze anos surgiu novamente a festa da igreja e o resgate do coral, agora já éramos adolescentes. Como eu não ai mais com frequência a igreja, eu não estava por dentro do que eles planejam fazer. E em uma sexta-feira os colegas da igreja se juntaram e vieram me convidar a fazer parte. Eu tentei relutar o máximo que eu pude, me forcei a dizer não; mas quando dei por mim eu já estava lá outra vez. A fé que antes não me importava, aos poucos começou a ser restituída e eu estava feliz. Desconcertada, mas feliz. 

Lembro-me que a festava estava se aproximando e o pastor nos cobrava ensaios, e eu dizia que precisava de um tempo para raciocinar. Porque a parte que não contei e que eu estava frequentando a festinhas de funk, tinha experimentado bebidas alcoólicas e me oferecido pra vários garotos (que nunca me quiseram). Eu precisava de uma pausa entre uma decisão e outra, porém eles não deram esse momento porque provavelmente nunca imaginaram que eu faria uma coisa dessas. Nem mesmo eu acreditava em  mim, mas no fim o dia chegou e eu cantei com toda minha alma os três dias seguidos.

Na quarta-feira da semana seguinte eu voltei na igreja, todos estavam felizes com o evento bombástico, até surgir um comentário: “Jéssica usa máscara”. Ninguém entendeu o significado daquelas palavras, e eles esqueceram. Mas eu não, e muito menos a garota que disse. No final da reunião ela chegou até a mim e disse todas as coisas que sabia, e ameaçou contar para os outros. 

Na presença dela eu banquei a desentendida, mas ao virar as costas eu me tremi porque eu havia realmente me redimido a Deus e prometido não voltar para onde sai. Eu deletei todos os contatos errados, as músicas que me faziam ter pensamentos estranhos. Eu fiz tudo que podia e voltei para o meu lugar com Deus, mas o que eu fiz pareceu não bastar. E a culpa não é de Deus, eu não pensei que fosse, mas duas semanas depois eu assisti minha vida descer ladeira a abaixo.

Fui exposta na frente da igreja toda. A minha família se levantaram e saíram com o olhar de quem diz; você é uma decepção.  Perdi os meus amigos, e no final só me restou vergonha suprema. Eu parei de ir a igreja, parei de cantar, de orar, de ter fé e me importar com o que Deus tinha pra mim. Depois nada mais importou.

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