Os médicos, nos Estados Unidos, usavam apenas um avental branco sobre uma roupa social e gravata. Diferente também era a relação deles com os pacientes. Eles interagiam bem mais e mesmo sendo os "Peles" da oftalmologia mundial, eles não eram "estrelas". Conversavam entre si e ora um olhava, ora o outro. O Dr. Clarkson era mais velho que o Dr. Blumenkranz que, segundo minha mãe, aparentava uns trinta e poucos anos.
Chamaram Aurora novamente, e ela nos disse que o Dr. Blumenkranz queria fotografar meu olho, e que para isso, nós deveríamos acompanhá-la.
Aceitamos com um "ok" e fomos saindo e tentando nos despedir dos médicos.
Nos levaram até o corredor da entrada, o mesmo onde ficamos na chegada antes de preenchermos a ficha.
Ali, fizemos a primeira conferência para tentar descobrir como tinha sido o primeiro exame e a nossa surpresa pelo fato do Dr. Blumenkranz ser tão jovem. O fato positivo e bem marcante foi a empatia com o médico e isso já nos tranquilizou um pouco. Também comentamos que se ele pediu para fazer fotos do meu olho era porque ele havia visto alguma possibilidade. Se ele tivesse visto que não teria jeito, ele teria nos dispensado.
À essa altura, estávamos acreditando até em Papai Noel, depois de tantas semanas de expectativas e esperanças. Foi quando ouvimos:
-Enrique Dias!
Era uma moça que se postava frente à uma das portas daquele corredor. Angélica me acompanhou e me levou até a cadeira em frente ao equipamento na minúscula sala. Ela saiu, e fiquei ali naquela posição de queixo apoiado, olhos bem abertos e sentindo os flashes disparados pela atendente. Foram mais de trinta fotos, bem diferente do procedimento brasileiro que fez apenas duas fotos.
Voltamos novamente para o corredor da sala 224, que estava lotado e tivemos que sentar separados e depois fomos trocando até ficarmos juntos.
Outra coisa que nos chamou a atenção foi o frio que fazia ali. Lá fora, a temperatura estava perto de quarenta graus e ali dentro, estávamos morrendo de frio. Jamais imaginaríamos que o sistema de ar-condicionado fosse tão forte e não levamos nenhum agasalho. Minhas mãos estavam geladas e a gente ria um do outro de tanto que a gente se esfregava tentando se aquecer.
Outra vez a porta da sala 224 se abre e aparece o Dr. Blumenkranz que já me chamava agora apenas pelo primeiro nome. Entramos e na sala havia outro médico junto com o Dr. Blumenkranz; e novamente a mesma sequência de exames. De concreto, nada havia sido falado conosco ainda, e ele seguia chamando os colegas com os quais trocava algumas palavras e saía da salinha.
Angélica ia traduzindo para nós o que conseguia captar e às vezes as opiniões que eram dadas ao Dr. Blumenkranz, não me eram favoráveis. Os minutos iam passando, a nossa ansiedade aumentando e o frio também.
Já era quase meio-dia e eu já havia sido examinado por uns sete médicos.
O Dr. Blumenkranz nos chamou e disse que poderíamos sair para fazer um lanche, mas pediu que voltássemos em seguida.
Na recepção, Aurora e Lilly nos deram as informações sobre onde ficavam os restaurantes e lanchonetes por ali e também fizeram comentários sobre as primeiras impressões que os médicos estavam tendo do meu caso. Disseram que alguns dos médicos achavam que meu caso era irreversível, mas que o Dr. Blumenkranz ainda não tinha tomado uma decisão final e que ele não estava convencido disso ainda. Elas também disseram que ele era uma pessoa boníssima e um excelente cirurgião e que eu não podia estar em melhores mãos.
Fomos até a parte externa do hospital e foi aquele contraste. Estava um tremendo calor. Não tinha meio termo: ou congelávamos do lado de dentro, ou derretíamos do lado de fora.
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Fidel com a dele e eu com a minha.
Non-FictionUma Historia Real, passada nos anos 1980. Imagine, perder a visão aos 22 anos e ficar condenado a cegueira eterna. O que você faria? No cenário, as lindas praias de Guarujá e Miami, apimentadas com um pouquinho de Guerra Fria. Um jovem estudante de...
O DIA D
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