Desse dia em diante passei a ter acompanhamento psicológico três vezes por semana. Dona Niza não me deixava mais sozinha e Mateo virou minha sombra. Foram doze meses sem saber o que era estar sozinha e nesse tempo Mateo tornou-se meu melhor amigo.

Quando recebi alta da psiquiatra, ganhei também o direito de usar a herança que meus pais haviam me deixado e com dezenove anos de idade me tornei uma dona do meu próprio nariz, por assim dizer.

Prestei vestibular e iniciei minha graduação em arquitetura na faculdade que minha mãe havia se formado. Mateo também já estava cursando e tornamo-nos ainda mais próximos.

Os quatro anos que se seguiram foram anos mais fáceis. Aprendi a lidar com a raiva e com a dor. Não deixei de sentir, mas aprendi a não descontar nas outras pessoas.

Em alguns dias - na maioria deles devo dizer - a dor era tão grande que até para respirar era difícil, mas em outros dias a dor parecia estar submersa em algum lugar dentro do meu coração.

"Mente quem disser que você esquece quem perdeu. É mentira dizer que um dia a dor vai embora. É uma covarde mentira! A dor nunca vai embora. Ela nunca te abandona. Ela sempre vai martelar dentro de você. Ela sempre vai mostrar que está lá. Ela sempre vai te mostrar que a qualquer momento pode te dominar."

Em um desses dias onde a dor se mostrava mais presente, sai para caminhar e uma hora mais tarde estava sentada no alto de uma pedra, da mesma cachoeira que anos atrás havia tentando contra a minha vida. Fiquei lá por horas e quando estava prestes a voltar para casa vi que Mateo estava sentado alguns metros atrás de mim.

Olhei para ele limpando minhas lagrimas e ele arrastou-se até estar em minha frente.

Com o polegar limpou as lagrimas que ainda teimavam e cair.

- Como você está, Anjo?

- Estou bem, Matt. - Menti.

Ele balançou a cabeça em negativa.

- Linda, você não precisa dizer que está bem o tempo todo. É perfeitamente aceitável que você ainda não esteja bem. É normal que ainda doa. Eu não vou mentir e dizer que essa dor vai sumir porque nos dois sabemos que isso não é verdade, mas eu prometo que vou estar sempre com você e que farei o possível para ela se torne suportável.

Dizendo isso ele me abraçou e deixou que eu chorasse com tudo que havia em mim.

Mateo salvou-me novamente nesse dia.

***

Saio dos meus devaneios com os gritos infantis de Gael. Ele grita alegremente e bate palminhas ao perceber que chegamos ao parque. Meu pequeno amo esse lugar e eu o trago sempre que posso.

Saio do carro e dou a volta para pegá-lo. Retiro-o do carro e também a cesta que está com os alimentos para o nosso piquenique. Caminho com ele até uma encontrar uma sobra e o coloco no chão. Estendo uma toalha e espalho sobre ela as guloseimas que Maria preparou.

Gael brinca com alguns carrinhos e tenta comer uma maçã. Pego meu caderno de desenho de dentro da bolsa e aproveito para desenhá-lo. Distraio-me desenhando e quando termino o esboço que fiz, Gael chama mina atenção.

- Mama ... Ucoô. - Pede meu pequeno.

Abro a garrafa e despejo o suco de laranja em sua mamadeira. Ele arrasta-se sobre a toalha e deita desajeitadamente em meu colo. Meu pequeno já demonstra sinais de cansaço.

- Iiiiiiô. - Gael fala sorrindo para alguém que está atrás de nos.

Viro-me para ver quem é estaco ao perceber que o "Iiiiiô" a quem meu filho se refere é nada menos que o homem pelo qual eu fui perdidamente apaixonada.

Doce ReencontroWhere stories live. Discover now