Eu tenho ele

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~Hanna ON~
- Como você se sente, querida? - a psicóloga diz.
Acho que arruinada seria a palavra perfeita para me descrever agora.
- Bem. - eu digo.
Shannon me olha com uma cara um tanto decepcionada.
- Hanna, se você não me falar o que sente, eu não vou poder te ajudar.
- E quem disse que eu quero ajuda?
- Então o que você quer?
- Ele. - as palavras saem da minha boca sem muito esforço.
- August?
- É.

Eu e Kriss saímos do psicólogo e fomos para casa no meu carro.
- Eu dirijo. - ela disse.
Dou de ombros e ela entra no carro comigo.
- Você vai ter que tomar isso aqui. - ela disse passando a receita médica.
- Anti-depressivos? Fala à sério.
- Todas as noites você vai tomar. - Kriss ignorou meu comentário.
Ela ligou o carro e começou a dirigir. O sol do meio-dia ia iluminando a cidade. Engraçado que essas pequenas coisas não me fazem sorrir. Não mais...
- Que tal um sorvete? - Kriss disse animada - Eu pago.
- Suas tentativas para me tentar fazer sorrir não vão funcionar. - eu disse sem olhar para cara dela.
- Tudo bem... Só um sorvete então.
Ela dirige mais um pouco até parar em uma sorveteira. Ela estaciona o carro perto do pub. A última vez que eu estive aqui, foi com o August. Ele tinha se declarado para mim e falado que queria aproveitar ao máximo. Como eu não percebi? Fechei o vidro para evitar olhar para aquele lugar. Agora ele não significa mais nada para mim.
- Um McFlurry de Ovomaltine. Hmm - Kriss disse entrando no carro. Nem tinha percebido que ela tinha saído. Ela saboreava o sorvete e esfregava na minha cara de propósito. - Isso aqui está tão bom... Pena que vou comer sozinha.
Ela fazia isso sempre que eu não queria comer. Infelizmente essa tática não vai funcionar. Não hoje. Olhei para ela com um olhar mortal, o que fez ela parar de gracinha e dirigir para casa.
Chegando lá, subi para meu quarto e chorei.
~Elena ON~
- Vai, Elena! Você consegue! - ouvi Léo gritando da areia na praia.
Estava desde ontem tentando ficar de pé na prancha com esse treco que está no lugar da minha perna. E de novo, eu caio na água. Perdi a conta de quantas vezes já caí aqui só hoje. Me levantei da água e, de novo, posicionarei minha prancha para que eu subisse nela. Léo vem correndo em minha direção.
- Deixa eu te ajudar. - ele disse.
Ele veio atrás de mim e segurou minha cintura, me fazendo dar um gritinho de surpresa. Ele me levantou e consegui ficar de pé na prancha. Ele segurava minha perna para que eu não caísse. Tentei achar um ponto de equilíbrio e aos poucos ele foi me soltando. Então eu consegui. Finalmente consegui ficar de pé na prancha. Dei um grito de comemoração e cai nos braços de Léo, que também comemorava.
- Muito obrigada! Mesmo! Você não sabe o quanto isso é importante para mim. - abracei ele meio sem jeito.
- Não foi nada. - ele disse.
Depois do nosso abraço, ele não ficou me olhando como esperei que faria. Ele não queria nada de mim, apenas ser meu amigo. Sorri comigo mesma desejando um novo amigo na minha vida. Me deitei na prancha e disse para ele:
- Vou tentar pegar uma onda.
Meu corpo ficava em cima da prancha, pronto para se levantar e pegar uma onda. Meus braços se movimentavam de forma que eu nadasse mais e mais para o mar. Mas não tanto. Avistei a oportunidade de uma prancha pequena e fácil de pegar. Só que me lembrei da minha prótese. Ia ser muito difícil de pegar uma simples onda como essa. Tentei me levantar na prancha mas minha prótese não colaborou, me fazendo cair de costas na água. Minha outra perna estava ligada a prancha que insistia em ir para o mar. Não conseguia nadar com minha prótese então fiquei presa debaixo da água. Tentei pegar ar várias vezes e todas as vezes que eu conseguia, uma onda me cobria. Tentei de novo e ouvi os gritos de Léo, desesperado. Estava com falta de ar e estava começando a ficar inconsciente. Então eu ia morrer aqui?
E aí, a coisa mais louca aconteceu: vi o August.
- Então você encontrou um novo melhor amigo? Estou com ciúmes.
Arregalei os olhos e tentei toca-lo para ver se isso era real. Não era.
- Não vou deixar você morrer aqui. Você está segura, eu estou com você.
August some na água como qualquer outra onda. Meus olhos vão se fechando e meus pulmões se enchem de água. Então alguém segura meu pulso e me tira da água, me colocando em cima da prancha.
- Fica comigo, Lena, por favor.
Não conseguia respirar. Então de súbito, senti o ar se encher em meus pulmões. Recobrei a consciência e despejei toda a água para fora. Comecei a tossir, engasgada. Estava na areia na praia e Léo me olhava aliviado. Acho que ele fez respiração boca a boca comigo porque sua boca estava suja do meu batom.
- Está sujo aqui. - eu disse colocando meu dedo indicador sobre seus lábios.
Ele riu e passou sua mão para limpar o batom.
- Você me chamou de Lena? - eu perguntei.
- Sim. - ele disse.
Só minha mãe me chama assim. Então ficamos ali, eu e Léo, esperando eu recuperar totalmente meu fôlego. Talvez Léo tenha me salvado, de fato, mas nunca vou me esquecer de quem realmente me salvou: August.
~Kriss ON~
Novamente estava na biblioteca. Isso meio que virou uma rotina para mim já que eu e o Dylan somos... Mais amigos. Estava na ponta dos pés tentando alcançar um livro da prateleira. Estava quase desistindo quando sinto alguém segurar minhas pernas e me levantar, fazendo-me alcançar o livro. Pego o livro e começo a bater no Dylan, insistindo que ele me soltasse. E é o que ele faz. Olho para ele com um sorriso torto me segurando para não rir. Então ele dá um beijo no meu nariz e não consigo mais me segurar. Caio em gargalhadas no meio de uma biblioteca. A bibliotecária me olha com um olhar fulminante, parecido com o que Hanna me olhou hoje, fazendo-me parar de rir.
- Por que você não está com seu uniforme? - eu perguntei para Dylan.
- Hoje é meu dia de folga. - ele disse.
- E você vai fazer alguma coisa hoje? - eu perguntei.
- Eu vou sair com você. - ele cochichou.

Chegamos na casa da praia da Hanna. Ela tinha dado uma cópia de chaves para todos os amigos dela e disse que "sempre que quisessem poderiam ir lá". Chegamos na praia e Dylan levou a cesta de piquenique para a areia. Ninguém vinha nessa parte da praia o que significava que a praia era totalmente nossa. Olhei para o mar como de costume e abri um sorriso, sentindo a brisa do mar batendo em meus cabelos castanhos. Dylan colocou o pano sobre a areia e tirou algumas frutas da cesta. Fiquei decepcionada em ver que ele só tinha trago frutas.
- Desculpa a falta de opções, eu sou vegetariano.
- Tudo bem.
Nos deliciamos com as frutas exóticas e depois fomos nadar um pouco. Subi em cima dele e ele me levou para a água. Ele me soltou e eu caí. Me levantei rindo e comecei a molhar ele. Estava sentindo o tipo de felicidade que eu não sentia a meses. E eu amo Dylan por me trazer esse sentimento. No momento eu só quero cair em seus braços e contar a ele sobre meu dia. Sobre o último livro que eu li e a frase que me fez lembrar ele. E sobre como ele é fantástico. Ele me fez ver que a gente escolhe se quer fica triste ou não. Ele me ajudou a me reerguer, a me encontrar novamente. E eu simplesmente...
- Te amo. - eu pensei alto.
Ele parou de jogar água em mim e me beijou. A água batendo em nossos joelhos e as ondas quebrando em nossas coxas me fez desequilibrar um pouco. Ele segura minha cintura fina e vejo que estou segura. Vejo que nunca mais vou me perder novamente, porque eu tenho ele.
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Boa tarde! Vou postar mais capítulos ultimamente porque a) o livro já está acabando e b) estou inspirada nestes últimos dias.
Obrigada pelos 1,5K de vistos!

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