Essa dor vai passar

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~Kriss ON~
Eram 11:00 quando eu acordei. Isso significava que eu estava livre da Hanna por mais 24 horas. Perdi a escola de novo, Jessie vai me matar. Sem me importar muito com as consequências, desci as escadas e fui comer meu café da manhã: bacon com ovos.
Que clichê.
É raro eu comer bacon porque Hanna é vegetariana. Então eu sempre acabava comendo uma fruta ou uma tapioca. Tratei-me de dar comida a Daisy e sai de casa em busca de inspiração. Aquela casa não tinha nada motivador.
Não estava tão frio quanto ontem mas nem por isso eu deixei de colocar minha velha blusa de lã. Com falta de opções, decidi ir até a biblioteca.

Como sempre, a biblioteca estava silenciosa e não tinha muitas pessoas lá. Tinha a senhora que era a estagiária e vivia usando coque em seu cabelo grisalho; tinha o grupo dos nerds que faltavam um dia por semana, na escola, só para aprofundar mais seu conhecimento em "casa"; e tinha também as leitoras que era o grupo que eu me encaixava.
- Kriss! - ouvi alguém gritando na biblioteca. Rapidamente olhei para a senhora estagiária e ela me encarou com um olhar mortal.
Olhei para trás para ver quem foi imbecil que gritara meu nome.
- Dylan? - eu exclamei, surpresa.
- Tenho que falar com você. - ele disse.
- Mas você está em horário de trabalho.
- Vem comigo.
Obedecendo o que ele falou, segui-o. Ele segurou minha mão, entrelaçando-a. Passamos por várias estantes já conhecidas para mim, mas depois passamos por estantes que eu nem sabia que existiam. Chegando na última estante do último corredor, nos deparamos com uma porta atrás da estante, que não daria para ser vista se ninguém chegasse perto. Tinha anos que eu vinha para cá e nunca me deparei com aquela porta. Dylan tirou uma chave de seu bolso e abriu-a. Entramos porta à dentro e nos deparamos com uma escadaria. Subimos as escadas, e outra porta tinha no fim desta. Dylan abriu-a e fomos parar do lado de fora da biblioteca.
- Agora eu sei porque tem uma porta do lado da biblioteca. - eu sussurrei para mim mesma.
Ainda com as nossas mãos entrelaçadas, Dylan me levou para uma praça que tinha por perto.
Algumas gotas de água que tinham no chafariz caíram nas minhas bochechas, me fazendo estremecer. Estava com muito frio e a minha velha blusa de lã não estava ajudando. Minha boca estava roxa de tanto frio que eu estava sentindo. Dylan percebendo meu estado, tirou sua blusa e colocou-a em mim. Sua blusa era extremamente quente. Por sorte ele tinha outra blusa idêntica àquela, por baixo, e não ligou muito para o frio.
- Eu li todas as suas cartas. - ele disse, entrando na minha frente e fazendo eu parar de andar.
Olhei para seus olhos azuis e não pude conter um sorriso envergonhado.
- O que achou? - eu perguntei.
- O que eu achei? Acho que foi a melhor leitura da minha vida!
- Obrigada. - eu agradeci, sorridente. A quanto tempo eu não dava um sorriso sincero e feliz?
- Calma, não me agradeça ainda.
- O que você quer dizer?
- Sem sua permissão, eu peguei suas cartas e digitalizei todas elas.
- E por que você faria isso? - eu perguntei, temendo o que estava para sair da boca dele.
- Sem sua permissão, novamente, eu mandei suas cartas para uma editora. A editora do meu livro.
- E? - eu disse, curiosa.
- Eu achei que eles iam demorar mais tempo para ver meu e-mail com suas cartas, mas eles viram hoje de manhã.
- E? - eu disse quase batendo em sua cara para ele chegar direto ao ponto.
- Eles... - ele falou devagar, causando um suspense.
- Fala logo! - eu gritei, curiosa.
- Eles adoraram todas as suas cartas e querem fazer um livro com elas.
- O quê? - eu berrei - Meu Deus!
Eu estava tão feliz que abracei-o. Ele retribuiu meu abraço repentino. Então ele segurou minha cintura e me ergueu como se eu fosse uma bebê sorridente e ele o pai brincalhão. Ele era extremamente forte. Depois ele me soltou, me colocando no chão. Fiquei tão próxima dele que consegui ouvir seu coração batendo. Os batimentos estavam tão acelerados quanto os meus. Sua mão, congelada por conta do frio, estremecia a cada segundo. Peguei sua mão e coloquei-a em minha bochecha também congelada. Dei um sorriso risonho ao sentir minha bochecha mais fria que o normal.
- Seu sorriso é lindo. - ele cochichou - Você deveria sorrir mais vezes.
Continuei a sorrir. Seu dedão começou a fazer carinho em minha bochecha, não tão fria agora. Fechei meus olhos e ignorei todos os sons ao redor. Foquei em mim. Foquei em nós.
Seja feliz, uma voz martelava em minha cabeça.
Você está fazendo a coisa certa, outra voz disse.
Te amo, a voz de Miles apareceu no meio das outras.
Ao ver que estava fazendo a coisa certa, não pude controlar a vontade de beija-lo. Dylan estava sorrindo quando eu abri meus olhos, libertando-me dos meus pensamentos.
- Seu sorriso é lindo. - eu disse - Você deveria sorrir para mim mais vezes.
- Só para você? - ele perguntou.
- Só para mim. - eu disse, finalmente beijando-o.
Uma sensação boa tomou conta de mim. Sua mão ainda acariciava minha bochecha, mesmo durante o nosso beijo. Seu beijo era surreal. Senti uma sensação louca, como se minha mente estivesse fora do meu corpo; em uma outra dimensão. É uma sensação inexplicável. É uma coisa de outro mundo. Foi o melhor beijo da minha vida. Quando encerramos o beijo, fiquei com uma estranha vontade de beija-lo mais.
- Obrigada. - eu agradeci.
- Não foi nada. - ele disse.
Nossas mãos se entrelaçaram novamente, e voltamos para a biblioteca por onde tínhamos vindo.
- Alguém pode me dizer onde fica a parte de romance? - uma mulher perguntou para o nada.
Dylan vendo o trabalho o chamando, me deu um beijo na bochecha e foi atender a mulher. Fiquei parada no lugar pensando o que deveria fazer. Então, a imagem do nosso beijo me veio à cabeça, como um Flashback. Não pude esconder meu sorriso.
*
Voltei para casa a pé e peguei o carro de Hanna. O carro estava muito frio e estava quase sem combustível.
- Droga. - resmunguei.
Ignorando o tanque quase sem gasolina alguma, vou em direção à escola. No caminho, me deparo com várias crianças com gorros de diferentes cores. As crianças davam as mãos umas às outras, em fila indiana, para atravessar a rua. Tinha duas mulheres, uma na frente e a outra atrás da fila, para guia-los. Uma das crianças acenou para mim quando atravessava a rua. Aquilo me encantou muito, não sei porquê.

Cheguei na escola no mesmo instante que o sinal bateu. Jessie saía da escola com a bolsa em apenas um ombro, estava mascando chiclete e seu cabelo estava raspado. Ela não se importava muito com o cabelo, gostava de pintar e mudá-lo a cada semana. Ela estava sempre apta a mudanças, não gostava de ficar na mesmísse. Quando buzinei, ela automaticamente olhou para o carro. Me vendo dentro dele, ela veio até o carro e entrou neste. Ela não olhou para mim. Ficou olhando para o lado de fora do carro, mais especificamente para o garoto que ela tem uma leve queda desde que começou a estudar aqui.
- Por que você não fala com ele? - eu perguntei.
- Cala a boca e dirige. - ela disse, parando de olhá-lo.
- Me desculpa. - eu disse.
- Pelo o quê? Por me abandonar nesse inferno diário? Ou por nem falar mais comigo direito? Ou por ignorar minhas mensagens? - quando eu ia começar a falar, ela me corta - Agora você vai tentar dar uma boa explicação. Vamos ver, Kriss, você tem um bom argumento para isso?
- Eu conheci alguém. - eu disse.
- Você o quê? - ela perguntou.
- Eu finalmente estou sentindo que as coisas podem mudar, Jessie, me desculpa por não estar falando mais com você. Eu sinto falta da Quinn e do Adam.
- E do Miles? - ela perguntou. Ela não fez essa pergunta para me atingir mas ao mensurar o nome do irmão morto, fiquei triste. Isso me atingiu como um soco. Ela também sentia falta dele, mesmo nem tendo o conhecido.
- E do Miles. - eu concordei.
- Me desculpa por ser tão chata às vezes. - ela disse.
- Eu já estou acostumada. - eu disse, girando a chave no carro. Ela me olhou com um sorriso e riu. Fiz o mesmo.
Fomos para casa e Jessie foi invadindo a geladeira, para ver se tinha algo para comer.
- Os Lewis só vive de tapioca e frutas? - ela perguntou, fechando a geladeira, decepcionada.
- Podemos pedir uma pizza. - eu disse.
Ela me olhou com um sorriso malicioso e logo discou o número, em seu celular, pedindo uma pizza de mozarela.
Sentei-me no chão e comecei a brincar com Daisy, certamente o pug mais fofo do mundo. Seu rabinho não parava de mexer quando eu estava brincando com ela. Acho que ela está feliz. Tentou me morder várias vezes, mas não para me machucar e sim, por diversão.
Minha brincadeira é interrompida quando a campainha começa a tocar sem parar.
- Já vou! - eu disse, levantando-me do chão.
A campainha não parava de apitar. Estava tocando feito louca. O som irritante de "pi" estava me tirando do sério.
- Meu! Atende logo, eu no telefone! - Jessie gritou.
Me virei para Jessie que gritava para o telefone: "eu quero um refrigerante." e "sim, um refri!". Fui andando até a porta.
- Já vo... - eu gritei, sem paciência, abrindo a porta. Não consegui terminar a frase porque fiquei muito surpresa com quem estava lá.
- Quem aí? - Jessie disse, se aproximando da porta e ficando do meu lado. Aparentemente ela já tinha terminado o pedido.
- Onde a Hanna está? Não achamos ela em lugar algum! - disse uma das amigas de Hanna. Não me recordava o nome dela.
- Ela está acampando com a Elena... E quem são vocês?
- Eu sou a Chloe. Este é o Marshall - ela disse apontando para um cara que estava chorando ao lado dela - aquela é a Alicia - ela apontou para uma garota que estava limpando as lágrimas.
Chloe era a única que não chorava. Seja lá qual for o motivo, ela deve ser a única garota "coração de pedra" e que não chorava por nada, do grupo de amigos dela.
- O que vocês estão fazendo aqui? - eu perguntei.
- A Hanna tem que voltar para cá imediatamente. - Chloe disse, entrando em casa sem eu, ao menos, convida-la. Marshall e Alicia seguiram seus passos.
- Liga para ela, uai. - Jessie fala.
Chloe tira o celular do bolso de sua calça, disca alguns números e coloca o celular na sua orelha.
- Está sem sinal. - Chloe disse, depois de um tempo; colocando o celular de volta, em seu bolso.
- O que está acontecendo? - eu perguntei, olhando para Chloe sem entender absolutamente nada.
Chloe percebeu a expressão estampada em meu rosto e tirou um papel do bolso de sua blusa, entregando-me . Olhei para Marshall e Alicia, que choravam atrás de mim. Marshall estava fazendo o máximo para não parecer um homem chorão e Alicia estava com sua maquiagem borrada. Eles estavam arrasados e alguma coisa me diz, que tem haver com o papel que eu estou segurando neste exato momento. Temendo o que está por vir, começo a ler o papel. Meus batimentos aceleram ao ver o que tinha acontecido. Li o papel todo, não acreditando nisso. Coloquei minha mão sobre a boca, não conseguindo conter meu espanto. Minha outra mão estava tremendo tanto, que deixei o papel cair no chão. Olhei para Alicia e Marshall, novamente. Eles estavam confusos e tristes. Abracei-os. Nem os conhecia direito mas abracei-os.
- Sei como é essa dor. - eu cochichei no ouvido dos dois - Vocês acham que nunca mais vão gostar de alguém novamente e querem chorar até não querer mais. Mas saibam que vocês vão superar isso, okay? - eu disse, olhando para os dois que estavam aflitos - Essa dor vai passar. - eu disse abraçando eles novamente - Algum dia vai. - eu cochichei, mais para mim mesma do que para eles.
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O que será que tinha no papel para fazer todos ficarem em choque? Não sei 🌚 coloquem nos comentários o que vocês acham que é e o que acharam do capítulo, e não esqueçam de deixar o seu voto ❤️❤️

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