Minha própria mente está me pregando peças

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~Hanna ON~
Meus ossos e músculos não colaboraram para eu sair da cama hoje. Elena tinha marcado com nossos amigos, de fazer uma despedida bem amigável onde só iam a gente. Pensei seriamente em ir mas eu não quero. Eu simplesmente não consigo. Um vazio toma conta de mim a cada segundo, me deixando preguiçosa e sem ânimo para fazer nada. A única coisa que quero fazer é dormir. Dormir para sempre. Dormir e só acordar quando essa dor acabar. Eu não estava conseguindo dormir depois daquele sonho. Então fui pegar um remédio para dormir. Tomei-o. Meu corpo começou a ficar mais lento que o normal e meus olhos estavam se fechando mais e mais, até eu finalmente dormir.
~Elena ON~
- Acho que está bom. - sussurrei para mim mesma, vendo a decoração para a despedida de August. Sinto Mufin passar entre minhas pernas e seguro ela em meus braços, ninando-a.
Fiquei analisando a decoração. Uma foto de August foi colocada no centro de tudo. Rosas vermelhas estavam espalhadas ao seu redor e um caderno foi posicionado bem em frente da foto, para escrevermos coisas à ele.
Não sei como todos estão superando isso mas meus ataques de pânico estão ficando mais frequentes e piores. O último ataque de pânico que eu tive foi hoje de manhã. Não acordei ninguém para pedir ajuda, tentei me controlar sozinha. Por sorte acho que estou um pouco melhor.
- Lena? - me virei para trás ao ouvir alguém chamando meu nome. - Eu sei que vai ser difícil você superar essa perda mas eu e seu pai inscrevemos você em uma competição.
- Competição? - eu perguntei.
- De surfe.
Meu coração ficou mais apertado em ver que nunca mais eu poderia entrar em outra competição novamente. Mas ele se encheu de esperança só de pensar que eu poderia estar em cima de uma prancha.
- Como? - foi o que eu consegui dizer.
- Acreditamos em você, no seu potencial. A competição não diz nada sobre ir sem uma perna. - minha mãe disse rindo. Aquilo doeu mas ri junto a ela.
Ela me entregou um papel. O papel da competição. É daqui a um mês. Ela saiu da sala, antes que eu pudesse agradecê-la. Peguei o celular que estava no bolso do meu shorts e não perdi meu tempo.
- Alô? - Alicia atendeu.
- Não vem mais pra minha casa. - eu disse, colocando meu celular entre meu ombro e minha orelha.
- A qual é, Elena, eu e o Léo já estamos a uma quadra daí.
- Não importa. Liga para a Chloe e o Marshall e desmarca.
- Por que eu deveria? - ela disse em um tom de dúvida.
- Só faça isso, okay? - eu disse, indo para o porão da casa.
- , mas eu quero saber o por quê. - ela disse.
Desci as escadas do porão e acabei me desequilibrando no último degrau, deixando meu celular cair.
- Elena, o que está acontecendo? - ouvi Alicia do celular, jogado no chão.
Peguei meu celular e encerrei a ligação. Peguei a prancha que estava apoiada no armário e subi ela escadas à cima. Larguei meu celular em cima da mesa da sala de jantar e arrastei minha prancha para fora. Toda desengonçada, esbarrei em alguém. Minha prancha atingiu a pessoa bem em seu rosto e vejo que doeu ao me deparar com a pessoa caída no chão. Pela sorte do destino, o cadarço do meu tênis estava desamarrado e acabei enroscando meu pé neste. Caí em cima da pessoa que estava reclamando de dor. Minha prancha caiu no chão junto à mim, fazendo um estrondo absurdo.
- Meu Deus! Foi mal. - eu disse, envergonhada.
Me joguei para o lado para sair de cima da pessoa. Joe sentiria ciúmes a julgar pela forma que caí. Olhei para o lado e vi cabelos escuros e cacheados se aproximando de mim. Alicia.
- O que aconteceu? - ela perguntou. Só fui perceber que a pergunta não foi para mim, quando ela ajudou Léo a se levantar. Tive que me levantar sozinha.
Peguei minha prancha do chão e olhei para o rosto de Alicia. Seu olhar fulminante fez minhas mãos e pés soarem, mas o que me fez ficar pálida foi ver o nariz sangrando do Léo.
- Eita. - eu falo.
Alicia da dois passos até mim e posso sentir sua respiração levantando os fios rebeldes do meu cabelo. Parecia um touro bufando.
- Olha o que você fez! - ela gritou na minha cara, apontando para Léo que segurava o seu nariz, atrás dela.
- Me descul...
- Tudo bem. - Léo me interrompe. Ele segurava seu nariz sangrando como se ele fosse, em um passe de mágica, parar de sangrar.
- Agora eu realmente preciso ir. - seguro minha prancha como se ela fosse minha vida. Dou o primeiro passo para sair logo dessa situação mas Alicia segura meu braço.
- E para onde você pensa que vai?!
- E por que você quer tanto saber cada passo que eu dou durante meu dia? - eu disse, bem perto de seu rosto desafiando-a. Em seguida, me soltei dela.
- Lena, você esqueceu seu celular. - minha mãe disse, entrando no meio.
- Obrigada, mãe. - eu disse, pegando meu celular.
Minha mãe percebendo que a presença dela não era bem vinda, deu meia volta e entrou em casa.
- Eu vou surfar, se é que me permitem. - eu disse dando as costas paras os dois.
O som de risadinhas ecoa no ar, bem atrás de mim. Os imbecis nem esperaram eu sair de lá para tirarem sarro da minha cara.
- Como você pretende surfar? - Alicia disse, rindo escandalosamente.
Léo não estava rindo. Talvez por causa da dor de seu nariz sangrando ou talvez porque ele não era tão idiota quanto Alicia.
- Como é? - eu disse em um tom desafiador.
- Como você vai surfar? Você nunca vai conseguir, sua tola.
Léo arregalou os olhos depois de ouvir aquelas palavras saindo da boca de Alicia.
- Eu vou conseguir. - eu disse, esperançosa.
- Não vai. Não perca seu precioso tempo tentando fazer uma coisa que você nunca mais vai conseguir.
- Alicia! - Léo finalmente diz alguma coisa. - O que deu em você?
- O que deu em mim? Não quero enchê-la de esperanças. Ela nunca vai conseguir. - ela falou para seu namorado. - Nunca. - ela disse para mim. - Nun...
Não pensei duas vezes antes de dar um soco nela. Meus dedos doeram mas senti um certo prazer em ver ela caindo no chão. O som dos ossos de seu nariz quebrando me fizeram sorrir. Acho que anos de luta serviram de alguma coisa afinal.
- Sua vadia! - ela disse, estirada no chão com o seu nariz quebrado.
Não pude esconder a risada.
- Agora guarde bem as minhas palavras: - cheguei bem perto de seu rosto - A diferença entre eu e você é que se eu cair, surgirão um milhão de mãos atentas em me ajudar a levantar. Mas se você cair, todos passarão por cima, pois vivemos em um mundo tão porco que as pessoas já se acostumaram a encontrar lixo no meio da rua. Você nunca será mais do que isso. Você não passa de lixo jogado no chão que todos ignoram. Aí é o seu lugar, no chão.
Minhas palavras atingiram ela mais do que meu próprio soco.
- E você - eu disse, apontando para Léo que estava sem palavras - Não perde seu "precioso tempo" - ironizei -com essa aí.
Dei mais uma risada só para descontrair. Segurei minha prancha mais firme e fui para meu carro. Coloquei minha prancha em cima do carro e amarrei com algumas cordas. Entrei no carro e levei um susto quando vi que Léo estava do meu lado. Ele fez um sinal para eu dirigir e foi o que eu fiz. Deu uma boa distância da minha casa.
- Que foda! - ele disse entre gargalhadas. Ao perceber como ele estava, ele mudou seu comportamento. - Quer dizer... Boa escolha de palavras.
- Você não precisa ser certinho comigo. - eu disse, abrindo um sorriso amigável.
- Acho que não nos apresentamos devidamente. Permita-me apresentar. Meu nome é Leonardo.
- Sim, Léo, eu sei. - eu disse rindo. - O meu é Elena, a garota que acaba de dar um soco em sua namorada...
- E eu lhe agradeço.
- Por que?
- Nunca gostei dela. - ele disse.
- O quê?! - eu exclamei espantada.
- Minha mãe e ela são muito amigas já que minha mãe é a dona do orfanato que ela estava. Minha mãe quer que eu me case com ela para ela não ficar "sozinha".
- Mas ela não está morando na casa dos Clarke?
- Sim, eu sei, e eu não quero isso. Eu quero poder escolher com quem eu posso me casar não os outros me forçando a fazer isso.
- Você vai ter algumas horas de liberdade, Tony Stark. - eu disse passando o papel para ele limpar seu nariz.
Ele riu ao comparar ele com uma pessoa rica.
- Para onde vamos?
- Você vai saber quando você chegar lá. - eu disse, olhando para ele com um sorriso malicioso. Engraçado, essa é a frase que eu sempre digo para Hanna. Ela deveria estar aqui, comigo, não ele. Onde ela está?
~Hanna ON~
O relógio ia marcar 8 horas da noite e decido sair do quarto. Meu dia não passou de ficar mofando na minha cama e chorar. Abri a porta do meu quarto e me deparei com ele. Não tinha mudado nada. Seu cabelo lindamente bagunçado e seu sorriso irritantemente fofo.
- August. - eu digo, colocando minha mão em seu rosto.
Então ele se desfaz em pó. Ele não era real. Só na minha mente. Minha própria mente está me pregando peças.
Sinto que estou enlouquecendo. Ainda trêmula, desço as escadas e me deparo com Kriss no telefone.
- Sim, eu tenho certeza. Eu não te ligaria se não fosse uma coisa urgente. - fez-se uma pausa - Ela precisa de ajuda. Talvez um psicólogo possa ajudá-la.
Kriss acha que estou ficando louca. Ela não é a única que acha isso...
- Ela parece depressiva. Eu não sei o que fazer, só ajuda ela. - fez-se um breve silêncio - , tchau.
Me escondi atrás da parede para Kriss não me ver. Talvez eu realmente precisasse de ajuda. Não me alimento devidamente a dias e não consigo dormir bem sem meus remédios. Talvez eles sejam meus únicos amigos nessa loucura. Volto para meu quarto e pego o frasco com os remédios. Em vez de tomar uma cápsula - que é o correto - eu tomo duas. Vou dormir sorridente, sabendo que vou me encontrar com August no meu sonho.

Minha família toda entra no quarto: Zoey, Kriss, meus pais, Max.
- Não tem mais o que fazer, é hora de se despedir. - minha mãe disse sem esperança.
- Hanna? - Max foi o primeiro a se aproximar de mim. - Mamãe e papai disseram que você foi dormir mas nunca mais vai acorda. Quelia dormir com você. - ele me abraça.
Isso é muita pressão. Pressão demais! Eu não aguento mais essa tortura. Coloco minhas mãos na minha orelha e espremo minha cabeça, como se fosse adiantar de algo. Começo a gritar. O mundo aqui nesse sonho, começa a ficar mais colorido; mais vivo e mais real. Quanto mais eu gritava, sentia uma falta de ar incontrolável.
Então todos presentes, inclusive eu, me ouvem dar um grunhido da maca.
- O que foi isso? - Zoey pergunta.
- É um bom sinal, não é? Ela está acordando! Chamem os médicos!
O quarto se torna uma correria. Max continua abraçado a mim. Zoey e Kriss saem do quarto para buscar algum médico de plantão. Meus pais ficam paralisados e perplexos no meio do quarto.
- Ajuda ela! Ela estava acordando! - Kriss grita para o médico que entrara no quarto.
- Para mim ela não mudou nada. - o médico diz.
- Faça alguma coisa! - Zoey grita. - Já!
O medico checa todos os tubos ligados à mim. Ele olha para Max que estava confuso. Depois ele olha para minha família.
- Eu sinto muito... - o médico diz.

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