Açúcar com limão

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Desligo o telefone e corro para dentro da casa. Atravesso a sala gritando como louca.
-Sara! Cadê você?!
Rafa para na minha frente meio assustado.
-Meu Deus,você tá bem?
-Tô sim,cadê a Sara? - o empurro levemente com a mão - Sara!
Ela sai correndo do banheiro.
-Anne,aconteceu alguma coisa?
A puxo pelo braço e a levo para o sofá.
-Aconteceu! - Rafa e Henrique se sentam também.
-Fala - ela sorri apreensiva.
Abro a boca para falar,mas travo um pouco. Falar da minha mãe nunca foi fácil e esse nem era o pior : eu corri para Sara sem me dar conta de tudo que aconteceu antes entre nós duas.
-An,pensando bem..não foi nada.
-E você grita pela casa por nada? -Henrique fala sorrindo.
Olho para baixo e depois crio coragem.
-Minha mãe ligou.
-Que? - falam Rafa e Sara quase ao mesmo tempo.
-Gente,isso não é nada para se assustar. -Henrique fala olhando para mim.
-Viu. - falo brincando enquanto acompanho a mão de Sara encostar no Rick,como um sinal para ele se calar.
-Isso foi agora? - Rafa me olha surpreso - O que ela disse?
-Sim,foi agora. Ela disse que meu pai ligou pra ela pra contar do acidente. - Sara estava com a boca levemente aberta - É,meu pai ligou para ela.
O silêncio se estagna até que Henrique volta a falar:
-Alguém pode me explicar o que está acontecendo?
Sara continua me olhando e tateia com a mão o rosto dele até encontrar seus lábios,então deixa a mão lá.
-E então? - Rafa dá um leve sorriso de esperança.
-Então nós vamos nos ver.
-Ai meu Deus! -Sara se levanta - Quando?
-Amanhã.

                 **********

22h23..22h25..22h27.
O tempo parecia não passar. Me revirei de um lado para o outro da cama. Eu precisava dormir cedo,mas não conseguia.
Fecho os olhos e sinto pequenas explosões multicoloridas de felicidade e apreensão dentro de mim. Eu já havia arrumado minhas coisas para na manhã seguinte ter menos trabalho, desembaraçado o meu cabelo,escolhido minha roupa e falado sobre isso com todas as pessoas possíveis.
Escuto Berta abrir a geladeira. Não tinha como agradece-la pelo o que tinha feito por mim.
Os passos se aproximam e ela abre a porta devagar.
-Tudo bem por aqui menina?
-Tudo sim - sento na cama e sorrio para ela.
-Você está nervosa,não é? - ela entra e senta na minha cama.
-Estou,muito.
-Não fique. - Berta pega a minha mão - Tem motivo para estar?
-Claro que tem,eu não a vejo faz tempo e se ela não gostar da pessoa que me tornei ou não for como eu espero?
-Anne - ela ri baixo - Primeiro: ela tem que gostar da pessoa que você se tornou,pois é uma boa pessoa. Segundo: você não tem como ter certeza de como ela ficou com o tempo,só deixe acontecer.
-Deixar acontecer - repito devagar - Tudo bem.
-Muito bem. - ela se levanta e me dá um beijo na testa - É bom que quando eu voltar você já esteja dormindo.
Berta era assim,uma mistura de açúcar com limão,mas pensando bem,quem não é assim?

Uma SantaOnde as histórias ganham vida. Descobre agora