Chuva fina

69 2 4
                                    

A primeira visão que tive foi branca. Era um teto branco,depois paredes brancas e lençóis brancos. Eu estava deitada em uma típica cama de hospital. Olhei em volta,o quarto era muito bom para um hospital. Tinham duas poltronas e uma mesinha afastadas de mim,do meu lado esquerdo haviam janelas grandes e ao meu lado direito uma poltrona vazia e a saída.
Uma poltrona vazia..
Olhei para o meu braço,além de marcas de corte,agora tinham fios ligados a minha veia e no meu dedo um monitor cardíaco.
Chovia,uma chuvinha fina e murmurante,como se vários dedinhos batessem em minha janela. Meus pensamentos eram confusos.
A porta se abre devagar,Sara entra segurando um copinho descartável de café.Sua roupa estava amarrotada,o longo cabelo preso em um coque e seu rosto mostrava o cansaço. Ela levantou o olhar para mim e me encarou séria parada na porta.Então abriu um vasto sorriso.
-Anne! - ela  não conseguia parar de sorrir - Enfermeira! Ela acordou! -fala colocando a cabeça para fora da porta.
Entra uma enfermeira correndo e começa a fazer um monte de coisas que não entendo. Joga uma luz nos meus olhos e pede para eu acompanhar,então verifica meus sinais e diz que vai mandar o doutor.
Depois que ela sai resta eu e Sara. Parecia que o quarto havia ficado pequeno para nós duas. Ela se senta na poltrona ao meu lado e assopra o café.
Minha avó tinha mandado ela? O que aconteceu? Como fui parar ali?
-Anne,fiquei tão preocupada. Você lembra de alguma coisa?
Minha boca se abre para responder, mas parece que a minha língua se enrola nela mesma,embolando o som das palavras.
-S..sim.
Ela se levanta e me abraça.
-Eu tava com medo de te perder. Fiquei aqui o máximo de tempo que pude,sabia que você ia acordar. - ela se senta e me olha com os olhos cheios de lágrimas - Você se lembra do acidente?
Que acidente? Era assim que ela descrevia o sequestro? Eu deveria falar que sim e correr o risco de tudo isso ser falso e ela fazer algo contra mim?
Nego silenciosamente com a cabeça, então me sento procurando uma posição um pouco mais confortável.
O doutor entra e nos olha.
-Oi Annelyn,que bom que acordou. Como se sente?
-Bem. O que é tudo isso?
Ele verifica as anotações feitas pela enfermeira e depois volta a me olhar.
-Annelyn,acho que seria melhor seus familiares te explicarem,mas em resumo você sofreu uma lesão na cabeça e esteve um tempo em um espécie de coma.
Sara segura minha mão. Seus dedos finos se enrolam nos meus,me dando uma sensação de desconforto.
-Posso ir embora?
-Ainda não,precisamos fazer uns exames antes. Mas estou feliz de você ter acordado.
Então meus olhos se fecham. Com toda certeza era sono,escuto a voz dele e de Sara dizendo que eu teria mesmo que descansar. Imagens passam rápidas lela minha mente: a caverna,um carro,a falta dos sentidos,uma chave e a chuva.

Uma SantaOnde as histórias ganham vida. Descobre agora