Vó Moderna

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Existem vários tipos de avós,mas elas ficaram famosas por serem fofas e entupirem os netos de comida,além de muitas vezes serem vistas como frágeis. Bom,essa não era minha avó.
Eu estava parada na porta da sua grande casa esperando sua amiga/cuidadora chegar no portão.
A casa ficava escondida. O portão tinha grades espaçosas,por onde dava para ver o longo gramado e a casa com a cadeira de balanço que nunca vi minha vó usar. Berta apareceu e me olhou com cara de cansada.
-Menina,faz tempo que não te vejo!
-Oi Berta,minha vó está?
E esse foi meu erro. Ela me olhou feio.
-Garota não foi assim que te criamos.
Abaixei a cabeça. Como pude me esquecer? Berta era uma mulher conservadora e com um milhão de pequenas regras.
Por eu ter sido tão direta e nem ao menos ter perguntado como ela estava,além de aparecer sem nada quebrei algumas dessas regrinhas.
-Vem,entra.
Passo por ela e a espero. Seria um risco quebrar outras de suas regras.
                    ***********
Infelizmente ou felizmente a casa não estava bem como eu lembrava e muito menos minha avó.
Os móveis eram todos novos deixando a casa com clima de superficial a não ser por uma caixa bem escondida que atraía meu foco e ao mesmo tempo se perdia no lugar.
Minha avó veio em uma velocidade surpreendente e sua aparência era mais ainda.
-Anne!! -ela abre um vasto sorriso e me abraça - Como você está linda!
-Obrigada vó. -me afasto delicadamente - A senhora também.
Minha avó sempre foi uma mulher com corpo esguio,pernas longas,sorriso encantador e muito bem vestida. Porém ela resolveu mudar tudo isso hoje.Ao invés de usar um vestido que vinha até os joelhos de cor azul,um belo salto de bico arredondado, cabelos presos em um coque elegante e suas jóias ela resolveu colocar uma calça jeans colada,uma blusa de uma banda desconhecida cavada dos lados,seus cabelos tão parecidos com o meu estavam soltos e aparentemente tinha uma tatuagem gritante da mão de Hamsa na costela.
Berta entrou rindo no aposento.
-Interessante para as duas, né?
-Sem joguinhos Berta,diga logo.
-Você tão parecida com sua neta,a carinha dela pela casa e descobrirmos que ela virou uma delinquente.
-Não,minha neta não.
-Sim,sua neta sim.
-Desculpa Berta. -tento fazer elas se calarem.
-Anne, não ligue. A idade fez isso com ela.
Me controlo para não rir das duas.
-Garota,você não veio aqui atoa,não é?
-Na verdade não. Eu precisava sair de casa e claro saber o que vocês achavam sobre certas coisas.
-Então vamos pra cozinha que eu faço um chá.
Velhos hábitos nunca mudam.
A cozinha também estava mais moderna, não sei como aquelas duas não se perdiam. Puxei uma cadeira e assisti Berta colocar as coisas na mesa (ela não me deixaria ajudar) e minha avó fazer o chá. Ao se sentarem e começarmos a comer elas me pediram para contar e foi o que eu fiz. Falei desde quando eu e Sara fizemos nossa pequena travessura na escola até os sons/visão do inferno de hoje.De tempos em tempos elas me paravam para me fazer descrever ou mostrar fotos das pessoas.
-Garota,isso que é história! - ela abaixou o tom de voz- Aqui entre nós,você e o Rafael, só dormiram?
Não aguentei o riso.
-É vó.
-Nem parece sua neta -Berta disse sorrindo
-Meu Deus - corei
-Calma,não nego. Na minha primeira noite com seu avô,aii mais como eu me diverti! Nós dois fizemos..
-Para! - ela se cala - Obrigada,desnecessário.
Berta se levanta levando as xícaras.
-Menina,pelo que pude ver as coisas não andam muito bem com seu pai.
Olhei para baixo e reparei que tinha pulado uma parte da minha "aventura", pois não falei da ligação da minha mãe.
-Bobagem -antes que pudessem dizer algo mudo de assunto - E essa mudança vó?
-Minha filha,fiz o necessário, não dá pra ficar parada no mundo de hoje.
-Mentira garota, sua vó anda de olho em um homem mais novo aqui da rua de cima.
E lá foram elas, brigando novamente.
Ficamos assim até escurecer e minha vó e Berta insistirem para me levarem.
Ao chegar em casa me enchi de preocupação de deixa-las sozinhas. Me despeço de Berta e minha vó me leva até o portão de casa e sussurra em meu ouvido.
-Garota,se mantenha forte e não se estrague.
Então volta para o carro e eu o acompanho com os olhos até ficar distante o suficiente e entro.

Uma SantaOnde as histórias ganham vida. Descobre agora