Capítulo 30 - Revelações (Parte dois)

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Desmond se sentia letárgico, como se o mundo tivesse parado em volta enquanto Emese o atraía para o conforto de seus braços. Quantas vezes ansiara por aquilo? Não houve um dia de sua infância em que não tivesse desejado que alguém o abraçasse daquela forma, quando tudo parecia tão terrivelmente solitário antes mesmo que ele soubesse que nome dar ao vazio que sentia ao estar diante de todos e não ser visto com ninguém. O que havia feito de errado? Porque seu pai não admitia que ele se aproximasse?

Ouvira Lady Ivanic, a esposa do irmão de seu pai, dizer certa vez que os Vladimic haviam caído em completa vergonha por sua causa. Ninguém podia dizer em voz alta que o Rei havia sido estúpido ou inconseqüente sem que isso fosse considerado traição, assim que toda a culpa era somente dele. O bastardo, filho de uma humana. Fraco, obtuso, que jamais chegaria aos pés do Príncipe. Quanta sorte tinham os Vladimic por ter Sefic como herdeiro!

Desmond quis chorar como uma criança pequena, mas ele nunca teve o direito de ser somente uma criança pequena. Não haveria ninguém para limpar suas lágrimas, ninguém para dizer que ele deveria comportar-se como homem, apenas a determinação quase selvagem de impedir que os vampiros mais velhos rissem dele. E assim ele aprendeu a sobreviver sozinho, acreditando que a única explicação para sua solidão era que a mulher que havia lhe dado à luz estivesse morta...

Seus músculos estavam enrijecidos de maneira quase dolorida quando afastou Emese de si. Os olhos escuros estavam nublados, presos em um passado distante o qual ela não havia compartilhado. Seu coração sangrava.

— Não. — Ouviu-se dizer. — Isso não é verdade. Eu não sou o seu filho, eu sou o filho bastardo de Vladimir e apenas isso.

— Desmond...

Ele a interrompeu com um movimento brusco, passando por ela em direção à porta.

— Não!

— Desmond, você não...

Ele a ignorou, tentando forçar o caminho para fora da cabana, mas a fechadura parecia congelada em seu lugar. Com as mãos em punho, ele socou a madeira com um baque surdo, ignorando a dor aguda que se formou na curvatura de seus dedos até o cotovelo com o impacto.

— Você sabia que ele era um monstro, você deveria ter me deixado morrer quando eu nasci! Eu a odeio por isso! Eu a odeio!

Ele golpeou a porta de novo, e de novo, ignorando o ferimento que começava a se formar em sua mão. O tecido fino começava a se curar em seguida, deixando pequenas marcas de sangue seco na madeira escura.

Uma força invisível pareceu arrastá-lo para trás, mas desta vez não seria tão fácil assim derrubá-lo. Ele fincou os pés no chão com toda a força de seu corpo, e mesmo com a gravidade atuando contra ele, Desmond continuou a acertar a porta.

— Acha que me arrependo, Desmond? Acha que eu estaria aqui se eu não o quisesse com todo o meu coração? — Emese perguntou com a voz embargada.

— Você não sabe nada sobre mim, não sabe do que eu sou capaz, deixe-me ir!

— Isso é inútil, Desmond, a porta não vai abrir até que seja dia. Ou até que você me mate! — Emese gritou sobre o barulho de sua voz, , esforçando-se para recobrar o controle sobre si, e a força que o continha desapareceu naquele momento, fazendo com que ele se chocasse contra a porta pela força de seu próprio impulso.

Ele arfou contra a superfície rígida, sentindo o peito pesado pela emoção. Estava agindo como criança e não conseguia parar. Doía tanto, e ele só queria que aquilo acabasse. Todas as lembranças, todas as dores. Desmond pressionou o rosto contra a porta, contorcido pela tristeza que ele aprendera a guardar com tanta determinação.

O Príncipe BastardoWhere stories live. Discover now