Capítulo 25 - Da cor do cobre (Parte II)

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Emese retornou para a cabana somente algumas horas depois. O vestido tinha-lhe aderido ao corpo, e os cachos cor de cobre faziam um redemoinho desordenado em torno de seu rosto, grudando-lhe ocasionalmente na pele. Apesar do aspecto desalinhado, Alex não cometeria a loucura de repreendê-la, e observou em silêncio como ela caminhava pela sala, desde sua cama improvisada no chão ao lado da lareira, onde fazia menos frio.

Ignorando propositalmente o fato de que ele estava acordado, ela serviu um pouco de aguardente de ameixa em um copo fundo e o tomou de um gole, agradecendo à queimação em sua garganta e o calor que se instalou em seu estômago. Só depois de um longo momento, ela foi para o quarto e tratou de trocar as roupas molhadas por uma camisola limpa, longa o bastante para cobrir-lhe os pés.

- Está tarde. Você deveria descansar. - Ela falou, fazendo o caminho de volta até a sala. Alex não se surpreendeu por ser pego em flagrante, não era uma novidade para ele que Emese aparentasse ter olhos por todos os lados. Ela se ajoelhou ao lado do vampiro e se dispôs a verificar suas ataduras.

- Estava esperando por você. - Alex admitiu. - Você foi até o velho carvalho?

O velho carvalho era onde Emese costumava fazer orações. Ela não o fazia com muita regularidade, mas ele não podia imaginar outra razão para uma saída tão repentina. Como ela não respondeu, Alex tomou como sendo uma resposta afirmativa e se sentou de rompante.

- Foi agradecer pela vida dele? - A pergunta foi feita em voz baixa, mas havia algo de indignação em sua voz.

- Nós já tivemos esta conversa. - Ela disse, simplesmente, e jogou de lado as tiras de tecido que usara para cobrir os ferimentos de Desmond.

Nos primeiros dias, ele cheirava tão mal que Alex pensou que estivesse apodrecendo, e tinha razão. Emese explicou que a carne envenenada estava morta e precisaria ser substituído por uma nova, motivo pelo qual ela teve que arrancá-la, usando uma adaga quente. Agora, a pele ferida começava a adquirir um tom rosado, como se nada disso tivesse acontecido.

- Eu sei. Mas eu não entendo seus motivos. Quando pedi sua ajuda para salvar Eilenah, você... - Ela o cortou.

- O destino de Eilenah não estava em minhas mãos.

- O dele está? - Inquiriu com amargura.

Emese pousou a mão com suavidade sob o peito rijo, que subia e descia de maneira quase imperceptível ao ritmo de sua respiração. Vivo.

Quando falou, sua voz possuía um tom definitivo, como algo que não admite contestação:

- Você está procurando um culpado, mas não o encontrará nesta sala.

Devagar e com bastante graça, ela se ergueu e caminhou até ele, inclinando-se para tocar-lhe o rosto com dedos enrugados pela água da chuva. Os olhos castanhos fitaram-no de maneira intensa, mas havia carinho neles.

- Punir a pessoa errada não vai trazê-la de volta. Eilenah não pertence mais a este mundo, precisa deixá-la ir. - Como Alex não respondeu, ela lhe afagou a bochecha e se ergueu. - Amanhã será um dia longo.

Alex assentiu e se deitou novamente, vendo como Emese fechava portas e janelas com o movimento de um dedo, antes de se afastar para o quarto que ficava no vão ao lado. De onde estava, ele também podia ver o semblante adormecido do vampiro.

Cada vez que pensava em Eilenah, sentia a raiva por ele ser renovada, e a vontade de enfiar-lhe uma estaca no peito era quase demais para suportar. Porém, quando lembrava que estaria morto se ele não tivesse intervindo, sentia vergonha de si mesmo, mais do que no momento em que se sentiu fisicamente atraído e o beijou. Com esse pensamento, cobriu o rosto com o cobertor e se obrigou a dormir.

O Príncipe BastardoDonde viven las historias. Descúbrelo ahora