Capítulo 22 ✔

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Ouço Mason bater na porta. Um pedido para entrar, suponho. O que é totalmente irônico, já que estou trancada aqui, e ele é o único que tem a chave.

Sem ter como dizer não, o loiro entra, e em seus braços carrega uma bandeja. Não sei qual o tipo de comida que ele traz, mas eu seria capaz de pular em cima dele de tanta fome.

Isto é, se eu não estivesse com medo dele.

Ele está sorrindo. Mas, diferentemente das outras vezes, esse não era um sorriso de deboche, ou para me irritar. Esse era um sorriso que, em qualquer outra circunstância, poderia ser chamado de sincero.

Me recuso a encará-lo, afinal, o garoto havia me batido há pouco. Só que Mason continua dentro do cômodo.

Ele deixa a bandeja sobre a cama, e vem ao meu encontro. Estou no mesmo lugar de antes, no chão, apoiada na parede da "janela tapada". Mason se abaixa, para ficar mais próximo a mim, mas ainda não o olho.

- Hey... Eu...ahn - pela sua voz, vejo que está nervoso. - Olha, me desculpe, eu não queria ter te batido, sinto muito.

Ah, ele sente muito. Eu também senti quando sua mão atingiu minha cara.

Ele tenta me tocar, mas eu desvio, com medo daquilo se repetir. - Por favor, não fique com medo de mim.

- O que está feito, está feito. Você não vai mudar isso pedindo desculpa. - ainda não o encaro, mas percebo que ele bufa.

- Caramba, Mary, eu te amo, você não vê que estou arrependido?

O encaro, pela primeira vez. - Não, você não me ama. Você está obcecado. E essas são duas coisas totalmente diferentes.

Ele sustenta seu olhar, mas eu logo desvio. - Quem ama não faz isso. Aliás, ninguém com o mínimo de sanidade faria isso, mas enfim... Mason, você está doente. Mas nós podemos cuidar disso, olha, se você me deixasse sair, eu te ajud...

- Eu não tenho nada! Você não entende... Se eu a deixar sair, você vai correndo para ele. E isso... Isso eu não permito. - seus olhos, que no início da frase estavam repletos de medo e angústia, se tornaram cheios de ódio e raiva.

Eu, por mais que sentisse medo de Mason agora, também estava com pena dele. Sim, pena. O garoto está transtornado, perdido, obcecado com algo que não pode ter.

Mason perdeu o pai aos nove anos, cresceu sem ele. E a mãe, por causa disso, sempre tentou compensar a falta dele, e eu me pergunto se por causa disso o loiro cresceu sem uma noção de limites.

Não falo mal de Sue, claro que não, a mulher é lutadora, forte. Continuou a criar um filho sem o homem que mais amava. Mas é claro que ela também saiu prejudicada. Sue não tinha condições de criar Mason de luto, e eu tenho quase certeza que contratou babás pra isso.

Volto a realidade com uma tossida de Mason. O garoto tenta, mais uma vez, conseguir o meu perdão, mas ele - finalmente - percebe que isso é algo impossível no momento.

- Bom, se é assim... - ele se levanta. - Vou te deixar sozinha. Eu trouxe algumas frutas ali. Tem pão também. Você deve estar com fome.

Continuo a não o encarar, e com uma expressão que presumo ser triste, o garoto sai do quarto, me trancando novamente.

Eu até tento resistir, mas logo que não ouço mais seus paços, subo na cama e começo a comer o que ele trouxe.

[ ... ]

Essa rotina - de Mason me trazer comida - se repetiu por uns quatro dias. Quer dizer, eu não sabia se foram quatro dias mesmo, mas o tempo entre uma " visita " e outra era o bastante para ser uma refeição por dia.

Opposites || L.T.Onde histórias criam vida. Descubra agora