XX Capítulo

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Noah Sousa
Eu nunca passei por uma situação como essa, e confesso que não estou sabendo lidar com isso. Juro que quando Ofélia aparecer na porta desse prédio vou me jogar em seus braços e dizer tudo que sinto por ela. Não quero perdê-la, não agora que percebi o grande sentimento que tenho por ela.
Já são três e meia da madrugada e os políciais ainda não conseguiram um acordo com os bandidos. Minha mãe está quietinha ao meu lado, segurando a cabeça com as mãos, pois não há mais lágrima para chorar. Os filhos da Ofélia também estão aqui, e Benjamin dorme no banco de trás do carro do meu irmão que estou encostado. Não sei o que fazer, sinto vondade de passar por todas essas barreiras de políciais e entrar para salvar Ofélia e meu pai. Mas eu não seria louco o suficiente para isso. Ou seria?!

Ofélia Santos
Estou jogada no chão em um canto da minha sala que nem parece mais ser a mesma. A mesa de vidro está estilhaçada no chão, meus papéis estão todos picotados e amassados. E eu estou com o corpo todo amarrado implorando baixinho pela vida. Quem cuidaria dos meus filhos? Com toda a certeza eles seriam separados e iriam cada um para um orfanato diferente. Meu Benjamin talvez tivesse sorte, e fosse adotado logo por ser novo. Mas e o Claiton? E o Naldo? O que seria da minha prima/irmã e agora filha, Somálian? Já é maior de idade e teria que se virar sozinha. Isso não pode acontecer, por Deus, nós não merecemos isso. Sei que ultimamente não tenho orado muito, e nenhuma igreja tenho frequentado, mas eu preciso muito de um milagre. Preciso sair com vida desse lugar. Esses bandidos são loucos, são cinco brutamontes que não têm dó nem piedade de ninguém. A prova disso está no meu próprio corpo, onde tenho um monte de cortes abertos e pedaçinhos de vidro, devido à queda em cima da minha mesa após ter sido arremeçada sobre ela.

-Chegou a hora de nós provarmos se você realmente é boa de cama - três dos cinco homens entram na sala.
-Porque para estar no lugar que está, só pode ser amante do tal Sr. Sousa.
-E entre nós, para ele trocar a gostosa da mulher dele por você, você deve ser espetacular mesmo.
-Não por favor - choro baixinho quando eles começam a se aproximar de mim.
-Isso, chora mesmo vadia - um dos homem acerta um tapa na minha bochecha.
-Aaaaaai! - grito dela ardência em minha bochecha, e por estar com as mãos amarradas não consigo esgregá-las para sentir um alívio momentâneo.
-Grita mesmo que eu gosto.

Nunca senti algo como estou sentindo agora. Já gritei, já chorei, já me esperniei. Minha calça é rasgada, minha calcinha é arrancada à força. São seis mãos em cima de mim, arrancando cada uma das minhas peças de roupa, e acabando com a minha vida. Sei que depois disso eu nunca mais serei a mesma, e pensar nisso me deixa decepcionada comigo mesmo. Já tenho para mim que eu nasci para ser infeliz. Não tive pai, fui abandonada pela minha mãe, fui abandonada pelo pai do meu filho, já passei fome, frio, e vontade nem se fala. Cada vergonha, cada humilhação que já passei em minha vida, e agora tem mais essa para entrar para a minha lista.
As mãos alisam o meu corpo e eu não sei se eu choro de tristeza, ou de dor por conta dos cortes que estão espalhados pelo o meu corpo. É muita decepção para uma pessoa só.
Eles abaixam a calça e eu já fico esperando o pior. Fecho os olhos e imploro para que isso acabe logo.

Noah Sousa
-Pelo amor de Deus, vamos fazer alguma coisa - imploro aos políciais que estão pensando em uma estratégia.
-Não podemos entrar assim, estamos mexendo com pessoas perigosas.
-Por favor senhor policial, não sabemos o que eles estão fazendo lá dentro - duas lágrimas escorrem dos meus olhos - nem sabemos se estão vivos.

Sinto um aperto em meu coração, e motivado pelo desespero pulo as faixas que estão interditando a Lusitano e entro no prédio correndo. Ouço os políciais correndo atrás de mim, mas nem ouso olhar para trás. Subo pelas escadas de emergência, e quando estou chegando no andar da presidência alguns políciais me alcançam.

-Você está louco? - um deles me pergunta segurando o meu ombro - um ato imprudente como o seu é o suficiente para botar tudo a perder. Você está preparado para perder seu pai e sua mulher?

Minha mulher. Isso soaria tão lindo se não estivéssemos em uma situação tão trágica.

-Desculpa - digo baixinho, puto da vida por terem me alçando.
-Já que já estamos aqui, vamos acabar logo com essa palhaçada. Você sabe atirar? - o policial me pergunta.
-Sei - ele me entrega uma pistola.

Tá bom, eu não sei atirar bosta nenhuma. Na verdade nunca nem peguei em uma arma, é a primeira vez. Mas foda-se, duas pessoas importantes para mim estão entre a vida e a morte , e eu vou aprender a atirar na cara e na coragem.
Começamos a subir o restante da escada em fila, tentando fazer o mínimo de barulho possível. Eu estou no meio da fila, e a adrenalina já foi embora e eu estou começando a ficar com medo. Eu sou louco, eu só posso ser maluco. O que eu estou fazendo aqui?! Não sei nada sobre estratégia, defesa pessoal, nem segurar a arma direito eu estou segurando! Eu não posso ser a pedra no caminho que vai botar tudo à perder.

Gustavo Sousa
Eu não consigo acreditar que estou passando por isso. A arma está engatilhada em minha nuca, e por eu estar nervoso não consigo acertar a senha do cofre da Lusitano. E pelo que eu me lembre, se eu errar cinco vezes o sistema de segurança será acionado, as malditas luzes vermelhas começaram a piscar e a sirene vai tocar alto chamando a atenção de todos. E então pode ser o meu fim. Erro 1, 2, 3, 4 vezes. O bandido encapuzado bate com a arma na minha cabeça e ameaça me matar se eu não abrir esse cofre logo. Eu não posso morrer sem ver meu neto nascer. Eu não posso morrer antes de ver meus outros três filhos casarem. Eu não posso morrer antes de ver meu filho mais novo se tornar um homem maduro e responsável. Eu não posso morrer antes de renovar os meus votos com minha esposa. Eu não posso morrer antes de me despedir da minha família. Eu não posso morrer. Eu não posso morrer. Eu não posso morrer.
Respiro fundo e tento colocar a senha pela última vez, e então só vejo tudo à minha volta vermelho, e ouço o barulho ensurdecedor da sirene.

Melissa Sousa
Já nem me restam lágrimas para chorar, pois já chorei tudo que podia. Oro baixinho para que Deus nos dê uma nova oportunidade de ser feliz. Mas a cada minuto que passa eu sinto a minha esperança se esvaindo, e me preparo para ouvir o pior. Me agarro na possibilidade de rever meu marido no paraíso, pois do jeito que as coisas andam, é somente lá que o reencontrei.
Depois de tantas horas na monotonia, sem nenhuma negociação, escuto o barulho ensurdecedor das sineres de segurança da Lusitano. E eu sei muito bem o que isso significa. A senha do cofre foi digitada errada por cinco vezes, e por isso o sistema de segurança foi acionado. Eu só espero que não tenha sido nem o meu marido, e nem a presidenta, pois se for algum deles, posso confirmar a minha tese de que alguém não sairá vivo daquele lugar.

Filhinho de papaiWaar verhalen tot leven komen. Ontdek het nu