Minhas ataduras.

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A enfermeira voltou com um kit de primeiros socorros, colocou a pequena maleta sobre os pés de Lucy e tirou de lá algodão, molhando com soro e passando o mesmo nas mãos ensanguentadas de Dank.

A menina estava com os olhos no rosto sereno e preocupado da enfermeira, já Flyn estava focada em seu trabalho, mas podia sentir o olhar pesado da menina em si.

— Por que está me olhando? — perguntou, continuando o trabalho na outra mão.

Lucy nada respondeu, virou o rosto e olhou para o teto com uma linha dura em seus lábios assim como em seu coração.

A mulher de jaleco não se importou, apenas sorriu.

Depois que Kloe limpou as mãos de Lucy, tirou um rolo de ataduras da maleta e ficou de pé na lateral da garota que até agora estava impassível.

— Olhe para mim. — a enfermeira pediu baixinho, encostando calmamente as palmas das mãos.

Dank se retraiu ao sentir a mão da mulher na sua, nisso, puxou em um solavanco o braço de encontro ao rosto. Mas nem chegou ao rosto... Nem chegou a se afastar. A amarra marcou seu pulso mesmo a tira grossa de couro sendo acolchoada. 

A grande verdade, é que Dank estava com muito medo.

Medo de se machucar.

Medo de se apegar.

As pessoas precisam dos problemas para se apoiar e ter algo em que colocar a culpa, mas o problema é que chega um momento que de tanto você se apoiar na dor, a dor acaba se apoiando em você, e isso vai lhe enfraquecendo até você cair no chão; a dor que estava se apoiando em você também cai, mas lhe machuca mais ainda por que ela caiu por cima de você e esmagou seu coração. Depois você pensa: ''Se meu coração estivesse duro, isso não aconteceria. ''

É a dor que esquenta o coração das pessoas.

Por isso as pessoas se apoiam na dor.

Todos têm problemas, e o de Lucy é a esquizofrenia.

— Olhe para mim. — pediu novamente, a voz aveludada fazendo carinho no rosto da garota de madeixas negras.

A menina virou o rosto para o de Flyn, já a mesma sentiu como se a menina estivesse lendo sua alma.

— Eu quero ser sua amiga. — uma afirmação, não uma pergunta. Lucy se contraiu. — Não tenha medo. — elevou a mão para tocar o rosto da menina, mas desistiu ao vê-la se contrair. Ainda é muito cedo.

Dank franziu os lábios para dentro da boca e lambeu os mesmos, eles estavam secos. A maior percebeu que ela queria água, mas foi paciente ao espera-la pedir pela mesma.

— Água. — a menor falou, tão baixo que mesmo a enfermeira ouvindo, a fez esperar. Queria que Lucy perdesse o medo de falar com ela. — Água. Por favor. — repetiu. — Eu preciso, estou com sede. — pediu, as pupilas varrendo o rosto sorridente de Kloe, confusa.

Ninguém sorria para ela, a enfermeira era estranha. E pior. Dank gostava de pessoas estranhas. E foi nesse dia, à tarde, em seu passeio diário pelo jardim da reabilitação, que Lucy Dank viu outra pessoa estranha.

E ela gostou.

A EsquizofrênicaOnde as histórias ganham vida. Descobre agora