8. Momentos

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O cheiro de desinfetante forte e doce estava reinando no ambiente da casa ou pelo menos do corredor que eu estava.

Me viro e apareço para os dois, dou poucos passos até chegar a cozinha e dizer:

-O que houve? -Digo parecendo estar preocupado. -Não vai dizer que o papai ganhou na loteria?! -Mudo o tom para uma mistura de ânimo e ironia.

-Não é nada disso! -Mamãe diz com um olhar intimidador. -Sente ali! -Ordena.

-Ali? -Digo olhando para minha mãe surpreso.

Minha linda e doce mãe queria que eu me sentasse do lado de meu lindo, belo e respeitoso papai, ao lado dele. Não iria sentar lá! Consta 6 cadeiras em volta a mesa com centro de vidro, e por que tinha que sentar bem ali? Do lado daquele cara? Minha mãe só podia ter enlouquecido! Seu tom de voz e a ordem que ela parecia me dado, não estava conseguindo reconhecer a antiga Ana.

-Sim ali William! -Diz Ana ainda em um tom intimidador.

-Hã?! -Digo surpreso.

Ela me chamou de William? É raro isso acontecer.

-Eu não vou sentar ali! -Digo certo do que falava.

Caminho para a outra cadeira vazia do outro lado da mesa, ao lado oposto em que estava minha mãe e aquele homem. Passo por Andrew afirma meu nome em tom calmo e suave; "William!".

Sento na cadeira e ainda uniformizado não me sentia confortável para brigar. Logo os dois virarem a cadeira para mim digo:

-O que querem?

-Quero que você passe uns... -Andrew quase termina a frase mas Ana interrompe.

-Seu pai quer que você passe uns dias com ele e sua irmã em sua casa em Landwood. -Termina mamãe.

-O que? -Pergunto assustado.

-Ir para Landwood? Passar dias com você? -Digo apontando para Andrew. -Não! Não rola!

-William para com isso! -Interrompe Mamãe em tom alto.

-Que foi? -Digo me levantando da cadeira e batendo forte na mesa que com isso causa impacto e um som de madeira fortemente. -Vai me bater também mãe? Vai fazer como esse aí fazia comigo? -Digo nervoso e em seguinda paro e respiro.

Após minha mãe se sentar, parecendo estar cansada da briga que pra mim nem tinha começado se eles não viesse com essa idéia mais que maluca. Continuo de pé, e após me acalmar, caminho correndo para meu quarto dizendo:

-Vocês realmente não tem noção! -Digo, paro e me viro para os dois já na porta da cozinha. -Eu nunca vou te perdoar Andrew! -Digo olhando para o rosto de meu pai, que incrivelmente derramava uma lágrima. Era o que nunca tinha visto em 17 anos de vida.

Os dois me olham e Ana espantada faz caretas com o rosto para eu parar de fazer um escândalo. Ok, essa mulher liga para o que os vizinhos falam, se importa com o que todos pensam. Porém eu não estava nem aí pelo o que os outros acham de mim ou da minha vida! Deixem que falem.

Olho para minha mãe. Aquele olhar intimidador sumiu de sua face e então me sinto mais seguro e digo:

-Vocês dois se merece! São farinha do mesmo saco! -Digo já saindo dali e indo para meu quarto que ficava no mesmo corredor. Entro no quarto e bato a porta fortemente.

Nervoso, sento em minha cama tirando apenas o tênis de meus pés e deitando na cama, pegando o fone de ouvido branco e o celular dos bolsos do Jeans que vestia. Encaixo o fone em meus ouvidos e começo ouvir música alta. No momento estava ouvindo "Decode" de Paramore no último volume, deitado com o braço entre meu rosto e exausto.

Alguém bate na porta. E mais uma, mais e mais uma vez até que ouço. Tiro meu fone e grito:

-Me deixa em paz! Eu já disse que não vou a lugar algum! -Digo com minha voz em tom normal, até ouvir uma outra voz doce e suave dizendo:

-Sou eu! Julie... -Diz a menina calmamente.

Me levanto apanhando a chave na escrivaninha e em seguida abrindo a porta. Olho para a loira que está diferente, com duas tranças. Posso admitir que a maninha mais nova estava até fofa hoje. Ela me olha e e eu digo:

-O que você quer?

-Posso falar com você?

-Sobre o que?

-Sobre hoje!

Julie parecia gente grande pedindo para conversar. Cedo e deixo ela entrar.

-Ok entre! -Digo com a mão na maçaneta abrindo caminho para Julie.

A menina entra no meu quarto, explorando cada canto com seu olhar. Até meu PSP ela pega na mão e eu digo:

-Deixa isso aí!

-Posso jogar?

-Não! Não pode! -Afirmo rindo da irmã caçula.

Ela deixa o PSP na escrivaninha e se senta em minha cama. Julie me olha e comigo ainda em pé ela diz:

-Você está sendo muito duro com o papai! -Diz a garota da voz doce e suave.

-Se for pra falar do papai pode sair! -Digo ainda calmo abrindo a porta e fazendo um sinal para ela sair.

-Não faz isso maninho! -Diz ela ainda sentada. -O papai merece uma nova chance!

-E quem é você pra falar de chance? Nem saiu das fraldas ainda!

-Eu sou sua irmã! Filha do mesmo pai e isso já basta!

-Julie sai! -Digo desviando o olhar dela para fora.

-Tá eu saio! -Diz Julie se levantando da cama e saindo para porta. Em seguida ela se vira e diz suas últimas palavras:

"Eu sei que você e o papai vão voltar a se falar!"

Fecho a porta na cara de Julie e em seguida me deito na cama, fecho meus olhos e começo a imaginar como seria minha infância se meu pai fosse presente, se ele fosse um pai normal como o pai dos meus outros colegas. Flashbacks passam por minha mente e vejo momentos em que ele foi um péssimo pai, momentos que me fizeram odiar lo ainda na infância. Pois é, a infância é um momento onde devemos ser puros, viver a vida divertida mente, sem pensar em nada, e foi assim que eu não vivi. Penso no dia de festa de fim de ano, o dia em que brincava de rolar na grama com meus primos e ele não deixou, me fez passar vergonha e me repreendeu por uma simples roupa preta, nada que uma grama bem aparada não iria sujar. Penso nos dias em que ia no mercado em família e não podia pegar nada que ele não deixava, não era nem por falta de dinheiro e sim por falta de outro pai em seu lugar.

Imagino tudo diferente, ele ainda conversando e deixando eu rolar na grama, deixando eu pegar pelo menos uma vez um pacote de cereais de heróis e me deixando ser criança. Logo após isso, abro meus olhos já úmidos e pingando.

Meia-Noite (ROMANCE GAY)Donde viven las historias. Descúbrelo ahora