Capítulo 50: Você deve me odiar.

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Entrei no apartamento, indo pegar meu celular no sofá, vendo meu pai me seguir. Meus amigos ficaram em silêncio assim que o viram, com expressões nada amigáveis, deixando claro que nenhum deles ia com a cara do meu pai. Era incrível como ele deixava uma impressão péssima por onde passava.

—Você falou com as amigas da escola dela? —Questionei, pegando meu celular e checando as mensagens, mas não havia nada de Érika ali.

—Que amigas? —Meu pai indagou, fazendo uma careta, enquanto eu bufava e revirava os olhos, porque é claro que ele não sabia nada sobre a vida da própria filha. O erro era meu de esperar alguma coisa descente vindo dele.

—O que aconteceu? —Camila indagou, já ficando de pé, parecendo visivelmente preocupada.

—A Érika tá sumida desde ontem a noite. —Falei, vendo o susto que aquilo deu nos meus amigos. Me virei para o meu pai, que parecia irritado, com as mãos na cintura. —Vou na casa das amigas dela ver se ela está lá.

—E o que eu faço? Fico sentado esperando você bancar o herói? —Questionou, me fazendo morder o lábio com força para não mandá-lo tomar em um lugar bem ruim.

—Vá procurar ela também. Nos lugares que ela costuma gostar de ir. —Sugeri, vendo-o ficar imóvel e com as sobrancelhas erguidas, porque era óbvio que ele não sabia quais lugares eram esses.

Camila veio atrás de mim, assim como Léo, enquanto meus amigos iam pegar suas coisas pra sair também, provavelmente para procurá-la. Não disse uma única palavra pro meu pai quando entrei no carro, mesmo que o visse me encarando de longe, desconfiado. Eu não tinha nada a ver com aquilo, mas tinha certeza que minha irmã fez tudo de caso pensado.

Fui com Camila e Léo na casa de todas as amigas que conhecia de Érika, da escola, mas nenhuma delas tinha visto a minha irmã nas últimas 24 horas. Então fui em todos os lugares que Érika gostava, imaginando onde ela poderia estar se escondendo. Camila ligou pra todos os hospitais, porque eu também não podia descartar a possibilidade de minha irmã ter se machucado.

Eu tinha certeza que tudo aquilo era de propósito pra irritar o nosso pai e talvez prejudicá-lo. Mas isso não evitou que eu ficasse furioso com ela. Estava preocupado pra caramba, imaginando onde ela teria passado a noite e com quem. Qualquer coisa poderia acontecer a ela nessa cidade. Absolutamente qualquer coisa. E todas as que eu pensava eram bem ruins.

—Vamos achá-la. —Camila afirmou, apertando meu ombro quando entrei no carro, depois de mais uma volta pela quadra da casa do meu pai. Tinha feito o mesmo na casa da minha mãe, além de avisa-la sobre o sumiço de Érika. Fui até mesmo no bar do Paulo, apesar de o lugar estar fechado.

—Não tem ninguém que teria topado essa loucura dela de se esconder? Talvez ajudado ela? —Léo indagou, e eu balancei a cabeça negativamente na mesma hora, porque já tinha ido na casa de todos os amigos de Érika e mandado mensagem para outros. Eles não falariam dela se fosse para o meu pai. Mas sabia que pra mim eles falariam. O problema de Érika estava longe de ser comigo.

Liguei o carro e sai de onde estava estacionado, vendo Camila e Léo ligarem para os nossos amigos pra saber se havia alguma novidade. Dirigi direto pra casa, precisando conversar com meu pai e ver se ele estava fazendo alguma coisa pra ajudar a encontrá-la, ou estava apenas sentado aguardando.

Quando cheguei, deixei Camila e Léo no carro, porque não achava uma boa ideia eles irem comigo. Nem mesmo queria minha garota perto do meu pai, sabendo o quão filho da puta ele podia ser. Quando entrei, o encontrei andando de um lado para o outro da sala, discutindo com a minha mãe no telefone. Os dois culpando um ao outro pelo que estava acontecendo.

—Você avisou a sua mãe? —Questionou, desligando a ligação na cara dela, o que me fez soltar um suspiro pesado e erguer as mãos para esfregar as têmporas.

—É claro. Ela é mãe da Érika também. Precisava saber. —Afirmei, sem conseguir conter o tom sarcástico na minha voz, porque ele tinha me feito uma pergunta tão idiota. —Falei com todos os amigos dela, mas nada. Foi até a polícia?

—Fui, mas só depois de 24 horas pra eles fazerem alguma coisa. —Falou, me fazendo bufar e revirar os olhos, porque a polícia costumava ser uma piada na minha opinião. Quando a gente precisava, eles não faziam nada. —Se isso tiver dedo seu...

—Ah, não começa, tá bom? O negligente aqui foi você, pai. Você que deveria cuidar dela e a manter segura. Ela sumiu nas suas mãos, não nas minhas. Então não venha tentar colocar a culpa em mim. —Exclamei, impedindo que ele terminasse de falar. —Se você não fosse um pai de merda, nada disso estaria acontecendo.

—Me respeite, Eduardo. Eu não criei você pra ser um filho ingrato e mal educado. —Rebateu, me fazendo soltar uma risada amarga, porque ele cagou pra mim a maior parte da minha adolescência.

Quando Camila foi embora e eu fiquei mal, ele não se importou nem um pouco, dizendo que era apenas birra, enquanto minha mãe fazia de tudo pra me ajudar. Ele era tão hipocrita. Sempre defendendo o quão moral ele é, sendo que não é exemplo de absolutamente nada.

—Você não me criou. Você só me colocou no mundo e fingiu que se importava com a nossa família. A Érika fugiu porque é simplesmente insuportável conviver com você. Ainda mais precisando fazer isso sozinha. —Soltei uma risada quando meu pai comprimiu os lábios e fez uma careta, como se eu estivesse o ofendendo. —Você deve me odiar, não é, pai? Deve odiar saber que eu não sou nem um pouco parecido com você. Deve odiar o fato de que eu prefiro a mamãe a você. E você sabe porque eu escolheria ela em vez de você. E deve odiar ainda mais o fato de que a Érika prefere ficar comigo do que com você.


Continua...

Todas as lembranças perdidas / Vol. 3Where stories live. Discover now