Capítulo 42: Livros.

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Eduardo

Camila estava o observando a beira mar enquanto eu dirigia pelo trânsito. Estava tendo um por do sol incrível naquele momento, dando uma vista perfeita do horizonte. A janela estava aberta, deixando a brisa gelada entrar, o que fazia os cabelos de Camila serem jogados para trás. Tinha que focar no trânsito, mesmo que a vontade de ficar olhando pra ela fosse muito grande.

As coisas estavam indo muito bem entre nós. Bem até demais. Estava fazendo cada segundo ao lado de Camila valer a pena. Queria que ela esquecesse aqueles anos ruins que passou longe. As lembranças pesadas que tinha do pai e da mãe. Queria substituir todas elas por lembranças muito melhores. Queria fazê-la feliz.

—Por favor, não fala pra ela que eu fiquei com ciúmes. —Camila me lançou um olhar envergonhado quando estacionei o carro, antes de descermos para ir até o restaurante onde Carolina e a namorada dela estavam nos esperando. —Sinto vergonha só de pensar nisso.

—Eu não vou falar nada, prometo. —Me inclinei e dei um beijo dela, o que a fez substituir a expressão envergonhada por uma feliz. E pronto, meu coração parecia um foguete dentro do peito.

Desci do carro e dei a volta pra abrir a porta pra ela, antes de entrelaçarmos nossos dedos e atravessarmos a rua até o restaurante. Uma das paredes era toda feita de janelas do chão até o teto, nos dando uma visão de lá de dentro. Não demorei nadinha pra encontrar Carolina lá dentro, sentada ao lado de uma outra garota de pele marrom, com os cabelos longos e muito lisos.

Carolina olhou na nossa direção assim que entramos no restaurante, abrindo um sorriso muito animado quando viu que Camila estava do meu lado. Vi ela murmurar alguma coisa pra namorada, antes das duas ficarem de pé quando nós aproximamos. As apresentações foram feitas rapidinho, porque já tinha ouvido muito falar de Débora, assim como já tinha falado de Camila para Carolina, na época que fazíamos aula de bateria juntos.

—Ainda bem que ele trouxe você. Pensei que ia ter que invadir o apartamento de vocês pra finalmente te conhecer de fato. —Carolina afirmou, fazendo Camila soltar uma risada e olhar pra mim como se achasse a garota adorável. Claro que agora ela a achava adorável. —A gente não conseguiu se falar aquela noite no bar.

—É, eu estava um pouco bêbada. —Camila murmurou, soltando uma risada nervosa, enquanto eu olhava para o lado, tentando não rir.

—A Carol me falou sobre o encontro de vocês no bar. Queria muito poder ver vocês dois tocando juntos ou um show da sua banda. —Débora comentou, me fazendo olhar na direção dela e de Carol.

—A gente toca naquele bar toda sexta à noite. Vocês duas podem ir até lá nós assistir. —Afirmei, antes de indicar Carolina com a cabeça. —Pode tocar com a gente se quiser. O Felipe e o Bernardo não iam achar ruim.

—Olha, eu ia adorar. Mas eu estou a um tempão sem tocar, então não posso prometer que vou me sair bem. —Carolina murmurou, abrindo um sorrisinho, como se estivesse sem graça. —Além do mais, não quero roubar o brilho de vocês com o meu carisma.

—Ah, sim, qualquer coisa vai me avisando, tá? —Falei, soando super sarcástico, o que fez nos quatro cairmos na risada.

[...]

Camila tinha ido trabalhar, então eu não tinha muito tempo assim até o horário de ir buscá-la. Mas já tinha me preparado antecipadamente para aquele momento. Assim que voltei pro apartamento depois de deixá-la no bar, Felipe, Bernardo, Léo, Júlia e Manu já estavam tirando as caixas do carro e levando para o meu apartamento.

Abri um sorriso ao notar que todos eles iriam ajudar, e não só meus dois melhores amigos. Uma pena que Érika não estava ali, apesar de eu ter certeza de que ela encheria meu saco a noite toda. Ficava pensando em como ela conseguia viver com o meu pai sem surtar completamente. Se eu estivesse no lugar dela, já teria dado um soco na cara dele em algum momento. Já quero fazer isso no momento, só de saber que ele se insinuou pra Camila.

—Temos 6 horas antes da Camila sair do trabalho. —Falei, entrando no quarto, vendo a bagunça de caixas que estavam pelo chão.

—Ah, vamos montar as estantes rapidinho. Quero só ver arrumarmos todos esses livros nas prateleiras. —Felipe afirmou, fazendo uma careta quando tirávamos o plástico bolha das peças da estante para montá-la.

—Muito legal da sua parte ter guardado todos os livros dela, Edu. Sério, acho que ela vai ficar muito feliz quando chegar aqui e perceber isso. —Júlia comentou, me fazendo abrir um sorriso, porque nessa época eu já estava magoado, mas não consegui não pensar no quanto Camila ficaria mal por se livrar dos próprios livros.

—E eu ainda trouxe umas luizinhas pra gente colocar e ficar bonitinho. —Manu afirmou, super animada, ajudando Júlia a tirar os livros das caixas e colocar sobre a cama, enquanto Léo e Bernardo montavam outra parte da estante.

Balancei a cabeça negativamente, sabendo que tinha escolhido os melhores amigos que poderia ter. Claro que as vezes a gente discutia e ficava xingando uns aos outros quando perdia a paciência. Mas isso era amizade, não é? Ajudar e também alertar quando o outro está errado, mesmo que no final acabe em briga. Mas sempre estamos ali uns para os outros.

Montamos tudo muito antes do horário da Camila voltar. Com todo mundo ajudando, os livros estavam nas prateleiras rapidinhos, sendo separados pelo gênero e pelos autores. Depois, Bernardo ajudou Manu a prender as luzinhas ao redor das extremidades da estante e das prateleiras, deixando tudo perfeito para quando Camila chegasse.

Mesmo depois que meus amigos foram embora, me deixando sozinho esperando dar o horário de ir buscá-la, fiquei sentado na cama observando aquela estante de livros, que tinha quase pegado uma parede inteira. Meu coração estava batendo acelerado no peito, ansioso para ver a reação da minha garota.

Mas antes de sair para ir buscá-la, fui até o guarda-roupa dela, pegando aquela nossa foto que Camila havia grudado na parte de dentro de uma das portas. Tinha comprado um porta retrato para aquela foto, porque Camila não precisava mais esconder que ainda a tinha. Assim como outro para a foto dela com sua mãe, que eu sabia ser muito importante. Coloquei os dois em lugares que haviam ficado livres na estante, abrindo um sorriso antes de finalmente sair para ir buscá-la.


Continua...

Todas as lembranças perdidas / Vol. 3Where stories live. Discover now