Capítulo 13: Da pra parar?

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Eduardo

Peguei minha prancha e prendi em cima do carro de Felipe, observando meus amigos ajeitarem as coisas coisas que iríamos levar pra praia. Eu estava precisando mesmo de um momento de paz e sossego, depois do caos das últimas semanas. Pelo menos tinha uma coisa boa no meio de tudo isso, minha vida estava mais organizada, o que significava que eu tinha mais chances de conseguir a guarda de Érika.

—Quando é a próxima audiência? —Bernardo indagou, me estendendo a outra prancha para que eu prendesse junto com a outra.

—Daqui à uma semana. —Falei, soltando um suspiro pesado, porque não sabia como meu pai iria reagir quando descobrisse que minha mãe iria declarar seu interesse em deixar a guarda de Érika pra mim. Mas eu sabia que não seria uma reação muito boa.

—A Camila pode depor ao seu favor se necessário. Ela literalmente conhece a sua família desde que vocês eram crianças. —Felipe surgiu, me fazendo comprimir os lábios e me virar pra eles, porque desde que Camila apareceu, eles só sabem ficar citando esse fato de já nos conhecermos. —E eu tenho certeza que ela faria isso, se fosse pra te ajudar.

—Eu não preciso da ajuda dela. Eu precisava estar dividindo o apartamento com uma mulher, e é o que estou fazendo. —Retruquei, fazendo ele e Bernardo trocarem um olhar demorado. —Vou conseguir a guarda da Érika. Nossa mãe está do nosso lado agora. Era tudo que eu precisava.

—Por que você odeia ela, hein? —Léo indagou, saindo de dentro da kombi, me fazendo segurar um revirar de olhos, porque a última coisa que eu precisava era falar sobre Camila com ele também. —Ela parece ser tão gente boa. Fiquei com vontade de abraçar ela depois do que aconteceu no lugar que ela morava. Aquilo foi triste cara.

—Eu sei que foi. —Fiz uma careta pra ele, tentando não absorver a parte do abraço, mas aquilo fez algo desagradável queimar no meu peito. —E eu não a odeio. A gente só não tem uma história muito legal.

—Isso significa que se eu quisesse tentar, eu poderia? Você e ela é zero interesse? —Léo indagou, se sentando no espaço aberto da kombi, me olhando de uma forma muito inocente, enquanto Bernardo e Felipe paravam o que estavam fazendo pra prestar atenção em nós dois.

—Como assim se eu quisesse tentar? Você está interessado nela por acaso? —Questionei, apertando minha mandíbula com força para não soltar um palavrão quando ele abriu um sorriso pra mim.

—Ela é bonita, isso é óbvio. E parece ser super legal. Se você não tem qualquer interesse, por que eu não poderia tentar? —Ele deu de ombros, me fazendo apertar minhas mãos em punho, sentindo meu sangue ferver.

—Você tem 17 anos e ela 22. —O lembrei, vendo-o soltar uma risadinha e escorar as mãos pra trás, com uma expressão que deixava claro que não estava nem um pouco preocupado com esse fato.

—Detalhes apenas. —Léo deu de ombros uma segunda vez, de uma forma que me deixou muito frustrado. —Se ela quiser...

—Ela não vai querer. —Sibilei, vendo Léo erguer as sobrancelhas, antes de olhar para Bernardo e Felipe. Um segundo depois os três caíram na risada, enquanto eu sentia o calor subindo para o meu rosto quando percebi o que ele estava fazendo. O que os três estavam fazendo. —Vocês três são tão babacas.

—A gente é babaca? Você tá afastando a garota, quando claramente ainda gosta dela, e nós que somos babacas? —Bernardo deu um tapinha no meu ombro, ainda rindo junto com eles, quando eu o lançava um olhar fulminante.

—Eu não gosto dela.

—Sim, e tava me olhando como se fosse me assassinar por quê? —Léo indagou, ficando de pé e caminhando pra perto de mim. —E olha que eu nem falei nada demais, além de dizer que ela é bonita. O que não é mentira.

—Da pra parar? —Exclamei, soltando um palavrão logo em seguida, porque os três começaram a rir de novo, enquanto eu bufava em resignação, sabendo que teria que aguentá-los com isso por um bom tempo, enquanto dividisse o apartamento com ela.

—Que bom que vocês já estão aqui. Tô louca pra chegar na praia logo. —Júlia afirmou, saindo de dentro do elevador, com Manu, Érika e Camila logo atrás.

Fechei meus olhos com força, não acreditando que até mesmo elas estavam fazendo aquilo comigo. Voltei minha atenção para o trabalho de amarrar as pranchas pra que elas não caíssem no caminho, usando mais força do que seria necessário nas cordas, enquanto ouvia Júlia apresentar Camila para Felipe.

—Ei, Léo, obrigada por ontem. Você nem me conhecia, mas foi até lá ajudar. —Camila falou, me fazendo olhar por cima do ombro, observando ela se aproximar de Léo. —Vou ficar te devendo uma.

—Não deixe se enganar por esse rostinho bonito, ele é um chato na maior parte do tempo. —Érika se intrometeu, fazendo Léo soltar uma gargalhada, antes de parar de rir e olhar pra minha irmã, fazendo uma careta.

—Você acabou de dizer que me acha bonito? —Léo indagou, mas a resposta de Érika foi mostrar o dedo do meio pra ele, antes de entrar no carro. —E depois o chato sou eu.

—Eu acho que isso foi um sim. —Camila olhou para Léo e ambos acabaram rindo ao mesmo tempo, de uma forma que pareciam se conhecer a décadas, fazendo uma pontada desagradável me atingir em cheio.

—Senhorita. —Léo estendeu a mão pra ajudar Camila a subir na kombi, recebendo um sorriso de agradecimento dela, antes de olhar na minha direção e piscar pra mim, como se soubesse que eu ia estar olhando. —Sabe jogar xadrez, Camila?

Filho da puta! —Soltei, sentindo meu sangue ferver, enquanto imaginava milhares de formas diferentes de matar Léo por estar fazendo isso de propósito. Era a coisa mais infantil de todas.

Sentei no banco da frente ao lado de Felipe, vendo ele me lançar um olhar questionador quando bati a porta com força. Tentei soar o mais tranquilo possível, mas era praticamente impossível já que fui obrigado a ficar escutando Léo e Camila conversando a viagem inteira, cheio de sorrisinhos um para outro. Sabia que era proposital, mas porra, aquilo era irritante.


Continua...

Todas as lembranças perdidas / Vol. 3Where stories live. Discover now