Capítulo 32: E não pode ser agora?

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Encarei Eduardo com as sobrancelhas erguidas, tentando ter certeza de que ele não estava brincando comigo de alguma forma. Mas ele me encarava com a mesma intensidade que eu o encarava, quase como se nem estivesse respirando direito. Isso me fez engolir em seco, observando o leve sorriso que ele me lançou, que me fez estremecer da cabeça aos pés.

—Se tá todo mundo aqui e ninguém esqueceu nada, hora de ir, galera. Antes que fique muito tarde. —Felipe exclamou, batendo palmas para chamar a atenção de todos nós.

Desviei os olhos de Eduardo, observando ele levar cinco segundos a mais para fazer o mesmo. Júlia e Léo se sentaram na frente junto com Felipe, enquanto o restante de nós se ajeitava ali atrás, entre bolsas e sacos de barracas. Bernardo e Manu sentaram juntinhos, enquanto Érika pegou um lugar especial perto de uma janela, não me deixando outra alternativa a não ser me sentar ao lado de Eduardo.

—Você arrumou mesmo uma barraca pra mim? —Indaguei, tentando puxar assusto, porque a tensão no meu corpo era quase palpável demais. Não estava esperando aquela resposta dele, e aquilo me deixou ainda mais ansiosa do que eu já estava, sem saber como agir perto dele.

—Era isso ou você iria dormir no relento, né? —Eduardo murmurou, me fazendo soltar uma risada e balançar a cabeça negativamente. —Espero que não tenha medo de dormir sozinha em uma barraca.

Olhei pra ele, observando aquele brilho característico de quem estava tentando falar outra coisa por trás daquelas palavras. Minha garganta ficou seca, enquanto meus lábios se apertavam com força, sentindo uma corrente elétrica atravessar o espaço entre mim e Eduardo.

—Acho que posso sobreviver duas noites assim. —Falei, umedecendo os lábios com a língua, vendo ele rir baixinho e então assentir.

Não fazia ideia do que estava acontecendo ali, eu só esperava que aquilo não acabasse nunca, porque estar perto de Eduardo de novo, sem ver aquele ressentimento nos olhos dele, era a melhor coisa de todas. Eu podia me acostumar muito rápido a ter meu melhor amigo de volta. Mas meu coração não iria aguentar outro tombo tão grande.

Ficamos em silêncio depois disso, enquanto ouvíamos a conversa dos outros, já que eles pareciam animados demais com aquele acampamento. Era estava quase explodindo de felicidade, contando sobre sua excelente ideia em por tinta verde no shampoo do pai, o que fez a nova namorada dele ir embora parecendo a Fiona.

A viagem demorou praticamente três horas. Três horas em que eu foquei em observar a paisagem pela janela, sentindo os olhos de Eduardo em mim em alguns momentos. A ansiedade quase dava um nó no meu estômago, porque eu ficava me perguntando o que aconteceria quando estivéssemos sozinhos.

[...]

Íamos acampar em um sítio de um conhecido de Bernardo. Não consegui conter o sorriso ao ouvi-lo comentar sobre o lugar onde iríamos montar as barrancas, bem longe da casa da família dona do lugar e pertinho de uma cachoeira. O lugar parecia quase perfeito demais, longe de todo caos da cidade.

—Vocês podem começar a armar as barrancas. Preciso ir até a casa avisar que a gente chegou. —Felipe afirmou, enquanto descíamos do carro, em meio a um gramado perto do início das árvores, onde já era possível ouvir o som da água.

—Mas nada de ir na cachoeira sem a gente. —Júlia exclamou, antes dos dois caminharem na direção contrária,

Tentei ajudar todo mundo na montagem das barracas, mesmo que eu nunca tivesse feito aquilo na vida. Era meu primeiro acampamento e tudo que eu conseguia pensar era em como eu iria dormir sabendo que Eduardo estaria bem ao lado, dividindo uma barraca com Érika.

Quando tudo estava pronto, Felipe e Júlia voltaram. Enquanto os rapazes iam pegar lenha pra fogueira, eu e as garotas fomos fazer o que mais estávamos ansiosas naquele momento, ver a cachoeira. O lugar era lindo demais pra ser verdade e me fazia querer explodir de felicidade, porque fazia muito tempo que eu não me sentia tão bem quanto naquele momento.

—Vem, Camila, pula na água. —Manu chamou, enquanto ela, Júlia e Érika não esperavam um segundo antes de pular. Soltei uma risada, pensando se deveria me molhar naquele momento ou não. Mas não fiz isso, porque naquele instante eu só queria apreciar a sensação de calmaria e aquela visita incrível.

Olhei para trás, sentindo borboletas dançarem no meu estômago quando Eduardo apareceu junto com seus amigos. Estavam rindo de alguma coisa, mas ele abriu um sorriso muito genuíno quando me viu, antes de caminhar na minha direção. Puxei o ar com força, me preparando para aquele momento, porque ainda não tinha absorvido a ideia de que estava tudo bem entre nós dois.

—Com medo da água? —Indagou, enquanto os outros três pulavam na água pra se juntar as garotas. Ri, enquanto balançava a cabeça negativamente.

—Não, vou nadar daqui a pouco. Só achei esse lugar bonito demais. —Falei, olhando ao redor, franzindo um pouco a testa contra o sol que batia no meu rosto. —Acho que essa é a primeira vez em muito tempo que posso apenas me sentar e curtir alguma coisa, sem precisar me preocupar com nada. Faz tempo que eu não sei o que é tranquilidade de verdade.

Eduardo ficou em silêncio ao ouvir minha resposta e eu arrisquei olhar pra ele, sentindo minha pulsação disparar quando percebi que ele parecia incomodado, como se eu tivesse acabado de falar a coisa errada. Comprimi meus lábios, desejando mais do que tudo saber o que estava passando na cabeça dele desde o meu momento vergonhoso de bêbada, quando contei porque fui embora.

—Depois que todo mundo for dormir hoje a noite. —Eduardo olhou pra mim, com uma confiança e uma intensidade tão grande que minha barriga ficou gelada e minhas mãos soaram de nervosismo. —Me encontra aqui na cachoeira. Quero conversar com você.

—E não pode ser agora? —Questionei, me arrependendo de ter perguntado isso quando ele tombou a cabeça de lado, me observando sem nem piscar, antes de descer os olhos lentamente até meus lábios e balançar a cabeça negativamente, enquanto eu sentia o calor se espalhar pelo meu corpo.


Continua...

Todas as lembranças perdidas / Vol. 3Where stories live. Discover now