Capítulo 14: Belo ponto pra você.

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Quando chegamos na praia, peguei minha prancha e corri direto para a água, precisando mesmo de um momento como aquele pra relaxar. Érika, Felipe e Júlia vieram logo atrás, parecendo super animados com o sol quente e com as ondas perfeitas que estavam dando naquele dia.

Não sei quanto tempo fiquei na água, sentindo o calor do sol na minha pele e o frio da água acalmar meu coração acelerado. Eu gostava de química e amava tocar bateria. Mas não havia nada igual a surfar. Era o momento que eu mais me sentia livre, sentindo o som da água quebrando contra a areia.

Quando sai da água depois de alguns minutos, sentindo minha respiração pesada, encontrei Bernardo e Manu caminhando de mãos dadas pela areia, catando pequenas conchas e observando alguns bichinhos que se escondiam na areia. Olhei ao redor, comprimindo os lábios quando não tive sinal algum de Léo ou Camila.

—Ei, vocês não vão entrar na água? —Indaguei, chamando a atenção dos dois, que trocaram um olhar demorado antes de negar com a cabeça, como se conseguissem se comunicar mentalmente.

Não posso negar que tenho um pouco de inveja da conexão que os dois criaram, assim como a parceria que Felipe e Júlia construíram quando começaram a sair juntos. No início aquilo me pegou um pouco, porque eu sentia que estava sobrando, ou segurando vela algumas vezes, mesmo com a minha irmã junto. Mas então Léo chegou e as coisas melhoraram, até tudo mudar de novo, só com a chegada de Camila.

—Vamos caminhar mais um pouco antes de entrar na água. —Bernardo afirmou, antes de indicar o bar que havia em uma das entradas da areia. —O Léo e a Camila foram pra lá.

Deixei ele e Manu voltarem a caminhar, enquanto ia até nosso cantinho na praia. Finquei minha prancha na areia, antes de olhar na direção do bar, procurando por qualquer sinal dos dois. Um suspiro escapou pelos meus lábios quando senti algo desagradável na boca do meu estômago, enquanto repetia mentalmente pra mim mesmo que não me importava com quem Léo saia, mesmo que essa pessoa fosse a Camila.

Umedeci os lábios com a língua, girando para encarar o mar atrás de mim, que parecia me chamar sempre que uma onda vinha e voltava. Felipe e Júlia estavam se divertindo lá, enquanto tentavam surfar juntos. Minha irmã estava mais afastada, parecendo mais ocupada em aproveitar o momento sozinha. Puxei a prancha para voltar correndo pra água, antes de soltar um grunhido de frustração e finca-la na areia de novo, caminhando em direção ao bar.

Camila

Ergui as sobrancelhas quando Léo me venceu pela terceira vez seguida no xadrez. Quando ele disse que era bom nisso e que até mesmo competia, demorei a acreditar, mas vendo-o jogar, calculando cada movimento que iria fazer, tenho certeza de que não estava mentindo pra mim.

—Eu desisto. Não quero perder de novo. —Afirmei, arrancando uma risada de Léo, que apenas negou com a cabeça, me ajudando a colocar as peças no lugar. —Você já ganhou alguma competição de xadrez?

—Algumas. —Soltou, como se não quisesse citar o número exato, o que me deixou curiosa sobre o quão bom ele era com aquilo. —No que você é boa?

—Nada. —Falei, vendo-o soltar uma gargalhada. —Eu estou falando sério. Sou péssima em quase tudo que tento fazer. Azarada também. Pra falar a verdade, não sou muito de qualquer tipo de jogos.

—E você gosta do que então?

—Literatura e música. —Afirmei, agradecendo o garçom quando ele deixou a bebida que eu tinha pedido ao meu lado da mesa. —Eu tinha uma coleção de livros quando era mais nova. Mas hoje em dia não tenho muito tempo pra ler. E nem dinheiro, com o preço que os livros estão.

—E o que aconteceu com a sua coleção? —Indagou, me fazendo erguer os olhos para encara-lo. A resposta veio na ponta da língua, mas hesitei em dizê-la, porque não me trazia uma sensação boa.

—Precisei me desfazer dela quando me mudei. —Dei de ombros, com a mentira saindo mais fácil do que eu esperava. —Mas quem sabe um dia eu não consiga fazer outra.

—Que pena. Acho tão culto quem tem o costume de ler. Já vi Érika lendo, mas sempre que eu pergunto o que é, ela me mostra o dedo do meio. —Comentou, me fazendo soltar uma risada, porque conseguia imaginar a cena direitinho na minha cabeça. —Eduardo toca bateria, sabia?

—Ah, jura? —Me remexi no lugar, dando outro gole na minha bebida. Era a terceira do dia. —Eu não fazia ideia.

Não estava querendo ficar bêbada, mas era a primeira vez que eu conseguia um momento como aquele, de pura tranquilidade. Eu precisava aproveitar. E pensar que Eduardo estava em algum lugar daquela praia, mexia comigo, então o álcool certamente iria ajudar.

—É, ele toca. Vai me dar aulas também, em breve. Ele, o Bernardo e o Felipe costumam tocar juntos toda semana, em um bar. —Léo comentou, enquanto eu lembrava de vê-los entrando no bar que eu trabalhava. Não tinha dúvidas de que era lá que eles provavelmente tocavam. Meu coração deu um salto no peito, com a possibilidade de ver Eduardo tocando. —Acho que ele ficaria feliz se você fosse assisti-lo um dia desses.

—Não, ele com certeza não ficaria. —Soltei sem pensar, soltando uma risada junto com Léo quando ele me lançou um olhar nada sutil. —Você estava tentando provocá-lo esse tempo todo, não é? Olha, não sei se isso é uma boa ideia. Eduardo não gosta nem um pouco de mim.

—Pois eu acho que ele gosta. Assim como eu acho que você gosta dele. Posso não saber o que rolou quando vocês eram vizinhos, antes de você se mudar, mas certamente rolou alguma coisa. —Léo cruzou os braços na frente do peito, me encarando com uma expressão muito perspicaz. —Todo mundo já notou e todo mundo tá torcendo pra rolar alguma coisa.

—Vocês são um bando de fofoqueiros e enxeridos. —Afirmei, lançando a ele um olhar mordaz que o fez rir, sem nem um pingo de vergonha. —O Eduardo sabe que você está interessado na irmã dele?

O sorriso nos lábios de Léo vacilou, como se ele jamais esperasse ouvir essa pergunta de mim. Ergui o queixo, lançando a ele um sorrisinho afiado, enquanto ele me observava, como se tentasse descobrir se eu estava brincando com a cara dele ou não.

—Não, ele não sabe. —Léo sorriu de novo, se inclinando sobre a mesa para mais perto de mim, exibindo uma expressão maliciosa. —Mas acho que ele está ocupando demais olhando pra você, Camila, pra se dar conta de qualquer coisa que esteja acontece ao redor.

—Belo ponto pra você. —Sibilei, mexendo em algumas peças do jogo de xadrez, enquanto não tirava meus olhos do Léo. —Mas eu tomaria cuidado se fosse você. Pode não parecer, mas ele sempre teve muitos ciúmes dela.

—Não só dela, pelo visto. —Léo riu, olhando por cima do meu ombro, enquanto eu franzia a testa.

Não precisei olhar pra ver o que tinha chamado sua atenção, porque Eduardo parou ao lado da nossa mesa, com uma expressão séria. Mesmo que ele não parecesse muito feliz, só consegui prestar atenção no quão bonito ele estava sem camisa, todo molhado, com os cabelos loiros grudando na testa.

—A Júlia está te procurando. Quer saber se você está interessado em aprender a surfar. —Eduardo afirmou, olhando diretamente para Léo, como se eu nem estivesse ali.

—Claro, Felipe já tinha me prometido isso. —Léo ficou de pé, lançando um olhar carregado na minha direção, antes de abrir um sorriso animado pra nós dois. —Joga com a Camila. Ela se mostrou uma ótima perdedora.

—Cuidado pra não contar vitória antes do tempo, Léo, ou alguma peça pode vir de surpresa e te derrubar. —Falei, colocando a peça que estava na minha mão de volta pro lugar, escutando Léo rir, antes de engolir em seco quando Eduardo sentou na minha frente. —Não precisa jogar comigo se não quiser.

—Eu gosto de um bom jogo. —Eduardo me lançou um olhar tão firme que meu corpo inteiro tremeu dos pés a cabeça e minha respiração falhou. —Pode começar, Camila.

Continua...

Todas as lembranças perdidas / Vol. 3Where stories live. Discover now