Para uma criança de cinco anos ou para um adulto de vinte e cinco, a vida nunca havia sido de outra maneira; o mundo era tal qual o conheciam, o sol nunca fora distinto, de outra cor senão o vermelho sangrento, e a sociedade seguia valores de liberdade que atordoava os mais fracos. Os mais fracos, por sua vez, escondiam-se como ratazanas nos fundos de um velho depósito abandonado.
A religião não se tornara uma atividade proibida, o governo não se preocupava com quantos deuses um homem e sua casa eram capazes de idolatrar. Uma prova disso eram os templos e as igrejas existentes e frequentadas por aqueles que se consideravam capazes de exercer de sua fé sem perder o poder de compra.
Para muitos, no entanto, poder fazer compras era mais importante do que não perder a missa aos domingos.
Nos supermercados, em shoppings, bares, farmácias, boates, em todos esses lugares e em centenas de outros onde se poderia comprar, não se contava mais moedas ou notas amassadas: bastava usar um scanner, a leitura de todos os seus dados pessoais e bancários — incluindo antecedentes criminais e mandatos de prisão —, seria feita em questão de segundos. Rápido e fácil. Um homem nascido no ano 2000 teria se espantado com a velocidade com a qual era possível saber tudo sobre qualquer pessoa. Nada de perguntas, delicadezas ou permissões: saber era um direito.
O dinheiro líquido fora extinto cerca de quinze anos antes, logo após uma reunião entre os líderes das grandes potências mundiais. O objetivo era facilitar o comércio entre os países e, por mais que inicialmente todos aqueles protestos tivessem abalado as estruturas para a construção de um império de inovação, assim que uma das maiores empresas do ramo de fastfood firmara em seus termos que para prosseguir aproveitando de seus serviços, o pagamento pela batata frita e os hamburgueres deveria ser efetuado através do microchip da OREON, projeto liderado pelo Dr. Guzmán, cenhos antes franzidos afrouxaram-se em uma urgência de passe de mágica.
Se você tivesse um microchip sob a pele, preferencialmente sob as costas da mão direita (o que os cristãos imediatamente reconheceram como sendo "A Marca da Besta"), continuaria tendo acesso à internet e aos serviços de streaming; documentos, passaportes, certidões, tudo fora substituído por aquela microscópica peça produzida pela OREON, e mais tarde por outras três ou quatro gigantes da tecnologia.
ВИ ЧИТАЄТЕ
Delfin: A História de um Menino Golfinho no Fim do Mundo
Наукова фантастикаEm um futuro terrivelmente possível, conhecemos Elizabeth G., uma mulher solitária, que vive em uma cabana, longe do centro da pequena cidade de Santa Mônica. Reclusa e de poucos amigos, "Beth" vê a própria vida transformar-se após o abandono de uma...