CAPÍTULO 36

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   O começo das aulas não é tão motivador assim, mas ao contrário dos outros anos, agora pelo menos vou ter amigos com quem conversar.

    Meu horário na livraria também mudou um pouco, e agora só vou ficar lá no período da tarde. Às vezes aquele lugar é o único em que consigo ficar tranquilo, então praticamente implorei para o meu chefe concordar para que eu continuasse trabalhando lá, e não simplesmente me demitisse pela divergência de horários.

    Geralmente todos ficam animados para o primeiro dia, mas quando estaciono o carro do meu pai em uma das poucas vagas disponíveis (sim, agora eu estou oficialmente habilitado, e dirijo de vez em quando pela cidade apenas para saborear a minha nova habilidade), solto um suspiro longo.

     São quase oito e meia da manhã, então preciso andar logo caso não queira chegar alguns minutos atrasados, mas como hoje é o primeiro dia, talvez os professores peguem leve.

    Eu agarro a minha mochila e saio do carro, colocando-a em apenas um dos ombros enquanto subo a série de degraus que levam para as grandes portas duplas da escola. Outra coisa que aconteceu nos últimos dias foi que tive que começar a usar óculos, porque a minha visão estava ficando um pouco embaçada e eu estava tendo dores de cabeça frequentes.

     Meus pais até perguntaram se eu não preferia lentes de contatos ao invés dos óculos, mas eu não me importo o suficiente com o uso deles para fazê-los gastar mais ainda com isso. Na verdade, os óculos redondos até completam a minha aparência de nerd, e Victor insiste em dizer que eu fico bem fofo com eles.

     Caminho em passos rápidos pelos corredores lotados, desviando dos outros alunos e tomando cuidado para não trombar com ninguém. Os horários e números dos novos armários foram mandados por e-mail dias antes, então procuro o armário de número 148 rapidamente, baseando-me nos números dos outros para saber onde exatamente ele fica.

     Quando noto onde o 130 está, fica bastante fácil encontrar o meu, então vou até lá e coloco a senha no pequeno cadeado. Não há nada de mais dentro do armário metálico, apenas meus livros novos e alguns folhetos sobre as normas da escola, cursos oferecidos e matérias interdisciplinares que podemos ingressar caso tivermos interesse.

    Eu deixo todos eles de lado e solto um suspiro longo, antes de pegar os livros de literatura, trigonometria e biologia, que são pesados pra cacete, por sinal.

    — Hey, Luther. — A voz de Victor se sobrepõe entre todas as outras, me fazendo olhar para a esquerda e dá de cara com o meu amigo. Vê-lo já me anima um pouco mais, porque já faz quase quatro dias que não saímos juntos e temos conversado apenas por mensagens.

    Hoje ele veste um jeans escuro e o casaco verde escuro do time de futebol da escola, que combina perfeitamente com os seus olhos. Victor dá um soquinho no meu ombro, então revido com uma leve cotovelada.

    — Qual suas primeiras aulas, bobão? — pergunto, terminando de enfiar os livros de qualquer jeito dentro da minha mochila, mas fechando o zíper com cuidado, porque apesar de antiga, eu gosto muito dessa mochila.

    — Luther, somos da mesma turma desde quando consigo lembrar. Fazemos TODAS as aulas juntos. — Ele responde, revirando tanto os olhos verdes que eles quase saltam pra fora. Eu assinto levemente com a cabeça, me sentindo um péssimo amigo por não ter lembrado disso, mas Victor apenas dá um tapa na minha nuca e solta uma risadinha baixinha.

    — relaxa, Lulu. Você está bem, pela sua cara você parece está com dor.

    — Eu tô bem. É só que... — A cada dia que passa tudo que eu vivi no verão parece ter sido apenas um sonho distante, e embora eu ainda seja um tritão, não consigo manter as memórias vivas e realistas por tanto tempo. Quero dizer tudo isso para Victor e desabafar, mas o som estridente que marca o começo da primeira aula me impede de fazer isso.

O BEIJO DO OCEANO (COMPLETO)Where stories live. Discover now