CAPÍTULO 24

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  A gente deve ter passado umas três horas vagando por aí, conhecendo as lojinhas e conversando com algumas pessoas, até que Wyatt anunciou que já estava na hora de voltarmos, caso eu quisesse manter a minha farsa por muito tempo.

     — Você quer ir comigo enquanto eu falo com meus pais? — Ele pergunta, apontando de forma distraída para o seu palácio.

     — Hum... Acho que não. — Tenho a impressão de que se eu for vai dá ruim para a gente; que eu estou influenciando Wyatt e voltar para o mundo humano e tals...

    — Okay. Eu vou ser rápido. Fique sentadinho aí. — Ele aponta para uma pedra circular que fica a no máximo dois metros de distância se nós. Eu reviro os olhos com força por está sendo tratado como uma criancinha, mas ele apenas solta uma risada baixinha e começa a nadar em direção ao castelo dos seus pais.

      Nado até a pedra e sento em cima dela, passando a pérola bonita que wyatt me deu de uma mão para a outra de forma distraída. Uma sereiazinha que não deveria ter mais de uns dez anos pediu para trançar o meu cabelo quando estávamos explorando as redondezas, ela colocou alguns pedaços de corais azuis no emaranhado de fios escuros, fazendo uma espécie de coroa bonita, e agora o meu cabelo não está mais flutuando ao redor do meu rosto.

      O mar é muito divertido, mas não é isso que eu quero para mim. É divertido passar um dia aqui, conhecer a cultura das sereias... Mas morar é outra história completamente diferente.

       E o que Leav quis dizer com aquele lance de "Wyatt vai te contar quando ele descobrir"? Será que é alguma chance de tudo isso ser revertido? Ou alguma coisa bem ruim que ela teve receio de nós contar?

       Será que existem humanos que largaram a vida na terra para viver no mar? Será que existem sereias e tritões que deixaram o mar para viver na terra? Será que...

     — Hey. — A voz de Wyatt quebra a minha linha de raciocínio. Eu como sempre, perdi a noção do tempo e sem sequer vi quando ele se aproximou.

     — Como foi? — Levando da pedra e nado até ele.

     — Ótimo. Vamos? — Wyatt abre um sorrisinho amarelo, indicando que ele não está sendo totalmente verdadeiro. Os pais dele devem ter brigado com o fato dele querer ficar indo para a terra firme se aventurar.

     — Sim. — confirmo Levemente com a cabeça, querendo perguntar algumas coisas, mas sinto que isso poderia fazer ele ficar um pouco incomodado. As vezes eu pergunto tanto que ele não consegue falar quase nada por conta própria.

       Wyatt pega a minha mão, e nós começamos a nadar em direção ao pequeno túnel que leva para a saída da colônia. Ainda é difícil acreditar que esse paraíso imenso fica dentro de uma rocha oca, bem debaixo do nariz dos seres humanos.

        Nós começamos a subir em direção ao túnel, e assim que saímos por ele, aquela pressão assustadoramente alta nos pega de jeito, me fazendo ficar um pouquinho tonto, mas a medida que subimos o enjôo vai diminuindo.

       Eu tomo o maior cuidado do mundo para não perder a pérola azul que ele me deu, apertando o punho com força ao redor dela, porque um simples movimento poderia fazê-la se perder pra sempre no fundo do oceano, que parece ser infinito quando eu olho daqui de cima.

      — você ainda tem mais nove dias aqui, certo? — Ele me pergunta, depois de um bom tempo em silêncio.

     — O-oito. Vamos partir bem cedo no último dia. — Encolho um pouco os ombros, deixando de fora o tempo que vamos usar para organizar tudo e limpar a praia para não deixar nenhum lixo sequer. Então provavelmente temos no máximo uma semana.

       Nós atravessamos o recife em silêncio, mas não aquele tipo de silêncio meio desconfortável. Nossos dedos continuam entrelaçados, mesmo quando adentramos no túnel, que é levemente mais escuro que o mar aberto, apesar da reflexão da luz nos cristais.

       Assim como para vir, a volta é demorada e um tanto entediante, então nós conversamos sobre várias coisas aleatórias durante o trajeto. Ele faz diversas perguntas sobre como é a minha vida na cidadezinha em que moro, e eu respondo todas na melhor maneira possível, querendo compensar o fato de que nos últimos tempos eu tenha o enchido de tantas perguntas que se tornou um pouquinho chato.

       Com a conversa, eu perco a noção do tempo novamente, e quando noto, o túnel se alarga, e eu consigo avistar a caverna de Wyatt logo em seguida, apesar da superfície um pouquinho agitada.

       Assim que emergimos, eu começo a tossir e expulsar a água dos meus pulmões (é mais fácil quando estou na forma de tritão porque a água sai pelas guelras). Wyatt não tem o mesmo problema que eu, então ele simplesmente se transforma e senta na borda da piscina natural, exibindo suas pernas grossas e bronzeadas, e aquela sunga branca que o deixa bastante gostoso.

       Eu me transformo também e nado até lá, sentando ao seu lado, de modo com que nossas pernas fiquem roçando uma na outra. A pérola solitária ainda está na minha palma, e olhar para ela me faz sorrir.

     — Foi ótimo. Eu amei conhecer sua colônia, Wyatt. — Murmuro, erguendo o olhar para encarar seus olhos dourados e lindos. Os cílios loiros batem levemente enquanto ele pisca, e gotas gordas escorrem pelas suas têmporas.

      — Que bom. Eu amei te mostrar onde eu cresci praticamente toda a minha vida. E... E-espero que possa te levar lá algum dia novamente. — Ele se embaralha com as palavras, fazendo um nó surgir na minha garganta. Nós temos apenas mais uma semana, e...

       Balanço a cabeça para os lados, tentando me livrar desses pensamentos ruins. Eu agarro o seu rosto com as minhas duas mãos e colo nossos lábios, o beijando com força e um certo desespero.

       Wyatt retribui o beijo, agarrando a minha cintura e me puxando para mais perto. Nosso beijo é duro e voraz, e quando percebo, já estou sentado no seu colo, com os meus braços ao redor do seu pescoço e os meus dedos enterrados no seu cabelo claro e sedoso.

      — Bom... Acho melhor eu ir. — Murmuro assim que nos separamos. Eu sinto as minhas bochechas arderem, e tenho certeza que ele consegue sentir minha excitação, assim como eu consigo sentir a sua lá embaixo.

     — O-okay. — Ele confirma, e depois de um beijo lento e molhado, eu levanto de cima dele e fico meio sem jeito, sem saber como esconder aquilo lá embaixo. Parece que meu amigão despertou e quer dá um olá, me fazendo morrer de vergonha.

     — Você pode me ajudar a tirar isso? — Aponto para o meu cabelo entrelaçado nos corais azuis, então Wyatt assente levemente, levanta e se aproxima de mim. Seus dedos trabalham rapidamente no meu cabelo, enquanto meu olhar desce involuntariamente para a sua sunga branca, que está recheada com uma coisa grande e latejante...

       Desvio o olhar na velocidade da luz e tento barrar o gemido que ameaça escapar da minha garganta. Eu fecho os olhos e tento pensar nas coisas mais aleatórias possíveis, tentando ao máximo não pensar... Naquilo.

      — prontinho, Luther. — Ele diz, dando um passo para trás, com os pequenos pedaços de coral azul nas mãos.

      — B-bom... Vou indo, então. — Digo, então ele confirma levemente com a cabeça e me acompanha em direção a saída da caverna.

       Assim que saímos do aglomerado rochoso, percebo que não falta muito para o sol se pôr, e isso me faz engolir em seco, porque Victor deve ter ficado furioso comigo.

      — Vem cá. — Wyatt me chama, abrindo Levemente os braços. Eu vou até lá e lhe dou um beijo rápido.

      — Vou vir logo logo. Se cuida, okay? — Dou um beijo estalado na sua bochecha, antes de virar de costas e começar a correr em direção a água.

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O BEIJO DO OCEANO (COMPLETO)Where stories live. Discover now