CAPÍTULO 10

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   Estou tão perdido em meio aos meus pensamentos que mal noto quando saio da linha das árvores e chego na pequena praia cheia de rochas da ilha. São tantos pensamentos e incertezas que não faço ideia do que fazer daqui pra frente, e acho que roí praticamente todas as minhas unhas nos últimos dez minutos.

       Parte de mim quer que tudo isso acabe logo, que esse lance do rabo de peixe seja passageiro e que eu volte ao normal logo. Mas a outra parte quer conhecer mais sobre Wyatt e os tritões, e por mais assustador que seja descobrir a existência deles, eu não posso negar que é divertido. É como se eu tivesse sido teletransportado para dentro de um livro de fantasia.

      Além disso, eu só tenho mais doze dias aqui. Depois disso talvez nunca mais nos veremos. E como eu vou viver se isso continuar?? Como vou levar uma vida normal?

       Enfio esses pensamentos no fundo da minha mente, não querendo pensar nisso agora.

      Uma brisa quente assanha o meu cabelo enquanto eu ando até a água. Provavelmente falta umas duas horas ou até mais pro sol se pôr, já começando a tingir o horizonte com tons quentes, tomando o lugar do azul claro.

      Assim que meus pés tocam a água, dou alguns pulinhos desajeitados para a frente, sentindo um pouco de frio, já que estou um pouco úmido. A água aqui é meio morna, mas não chega aos pés da água quentinha do pequeno lago de Wyatt.

      Olho para a frente e encaro a praia onde fica o nosso acampamento, pelo visto ainda há algumas pessoas na água, mas todas estão tão longe que não passam de pontinhos coloridos em meio a imensidão azul que é o enorme largo. A distância me faz soltar um suspiro longo, eu provavelmente vou ter um Mini infarto para chegar até lá. Se pelo menos tivesse como eu ir...

     — WOW!!! — Grito completamente assustado quando a maldita cauda azul surge do nada com apenas um simples pensamento sobre ela. A falta de sustentação me faz cair para a frente e quase bater com a cabeça numa pedra enorme.

     — Merda. — Murmuro para mim mesmo, cuspindo uns dez litros de água que engoli. Demora um pouco para que eu consiga me acostumar com a sensação de ter apenas um membro locomotor ao invés de dois. É como se os meus dois pontos de apoio tivessem desaparecido e se fundido para dar lugar apenas para um, o que na verdade, é a explicação mais óbvia.

     Solto um suspiro longo e olho por cima dos ombros, observando a enorme barbatana eriçada, mostrando os espinhos longos e um pouquinho assustadores.

      E se eu for nadando até a praia??

      Não obviamente até lá para não correr o risco de ser visto, mas próximo o suficiente para não morrer de tanto esforço colocado para nadar na minha forma humana.

      Tento fazer como Wyatt disse, usando todas as articulações que essa coisa tem. Os primeiros movimentos jogam água para todos os lados e faz com que eu pareça mais uma baleia encalhada, mas assim que chego numa profundidade consideravelmente boa e fico submerso, os movimentos ficam mais ou menos uniformes.

      Meus olhos não passam por aquela irritação primária para poderem se adaptar a água, além de que minha visão agora ficou quase mais nítida sob a água do que quando estou na superfície. Isso provavelmente é um dos efeitos da transformação.

       Eu conseguiria contar até os grãos de areia do fundo do lago mesmo estando a uns dois metros de distância dele. Os peixinhos coloridos ficam ainda mais nítidos e com suas cores mais vibrantes. Eles não sentem nenhum medo de mim agora, e até arriscam se aproximar e nadar ao meu lado.

       Experimento nadar um pouquinho mais rápido, indo em movimentos de sobe e desce para potencializar os movimentos da cauda. As barbatanas laterais se abrem quase como em impulsos involuntários, me deixando sempre de barriga para baixo.

       Ainda não consigo usar a nadadeira da parte de trás e mudar de direção rapidamente como Wyatt disse. Quando eu tento, fica ainda mais difícil mudar de direção porque ela barra a água, me fazendo ter que colocar mais força para fazer o movimento.

      Eu nado por alguns minutos tranquilamente, observando atentamente esse mundo submerso e mal lembrando de... ESPERA!!! FAZ QUANTO TEMPO QUE ESTOU AQUI EMBAIXO SEM RESPIRAR?!

       Subo para a superfície na velocidade da luz, embora não sinta vontade alguma de respirar. Na verdade, acho que meu corpo está mais oxigenado do que nunca.

       Assim que coloco o rosto para fora d'água e respiro fundo, uma vontade de tossir e espirrar incontrolável me atinge, me fazendo cuspir toda a água que está nos meus pulmões em questão de segundos.

       Eu troquei a minha forma de respirar e comecei a usar as guelras sem sequer notar!!! Levo as mãos rapidamente até o meu pescoço e toco as três linhas finas, que parecem ser bastante sensíveis.

     — Puta merda. — Murmuro, pronto para outro choque de realidade, misturado com um surto de histeria.

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O BEIJO DO OCEANO (COMPLETO)Wo Geschichten leben. Entdecke jetzt