CAPÍTULO 11

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   Não demora muito para que eu chegue perto da praia, sem ao menos me cansar ou precisar de muito esforço para isso.

        Agora eu estou praticamente rastejando no fundo do lago, observando os meus colegas nadando a uns vinte metros de distância. Alguns deles estão em cima de boias, de modo com que eu consiga ver apenas os seus pés.

       Respiro fundo e fecho os olhos, tentando me concentrar e pensar nas minhas pernas, para conseguir tê-las de volta. Não é tão fácil quanto Wyatt faz parecer que é; elas não surgem apenas por eu simplesmente pensar nelas (como acontece com a cauda), é preciso senti-las sem realmente às ter aqui, forçando a transformação vir e aquele calor estranho se instalar na base da minha espinha.

      Eu provavelmente estaria suando de tanto esforço caso não tive dentro da água, mas quando a transformação enfim vem, sinto uma onda de tontura e aquela vontade imensa e tossir/espirrar, porque os meus pulmões já não estão mais adaptados para o que tem dentro deles.

       Tomo impulso no fundo do lago e nado para a superfície o mais rápido que consigo, sentindo os meus pulmões queimarem e os meus olhos arderem. Assim que emerjo, cuspo tanta água que parece que engoli metade do lago; a sensação é um pouco esquisita, porque não é como se eu estivesse vomitando, já que a água vem dos meus pulmões e não do meu estômago.

     — Hey! Cê tá bem?? — Um dos amigos de Victor me pergunta, virando a cabeça na minha direção. Tenho quase certeza que brincamos de pega pega ontem.

     — Estou sim. Só engoli um pouco de água... — quase não tenho tempo de terminar a frase, antes que um espirro meio esganiçado saia de mim.

       Minhas pernas estão formigando, e isso é um pouco estranho. Sabe quando você passa muito tempo em uma posição e a sola dos seus pés começam a pinicar, como se centenas de espinhos estivessem roçando a pele, mas sem dor?? É exatamente essa a sensação, principalmente nas minhas panturrilhas.

        Começo a bater os braços e nadar até a margem, que não fica a mais de uns quarenta metros de distância. Desvio das pessoas e cumprimento todos que falam comigo com um sorriso e um "oi". Até os professores caíram na água, e agora estão fazendo jogo meio esquisito que se resume em passar a bola um para o outro na velocidade de uma lesma.

       Assim que começo a andar, com a água batendo na minha cintura, uma fome súbita faz a minha visão embaçar e eu ficar um pouquinho tonto. Minha barriga solta um toco tão alto que alguns dos meus colegas olham na minha direção, o que me deixa morrendo de vergonha.

      Faz algumas horas que eu saí daqui, mas eu comi bem no almoço e isso com certeza deve ser um enfeito da transformação estranha. Uma super queima de calorias, ou sei lá.

      Os meus primeiros passos em terra firme são meio esquisitos, como se eu estivesse meio bêbado. Eu começo a andar na direção das mesas, esperando encontrar alguma coisa para comer. O jantar não vai custar muito para ser servido, mas eu não posso esperar muito mais se quiser continuar consciente.

       Eu não estava aqui para o lanche da tarde, que deve ter sido umas três horas, então todos devem tem comido sem mim. Quem iria lembrar de mim, né??

      Em cima das mesas há apenas sacos e sacolas vazias, além de alguma sobras e pratos sujos, mas depois de procurar por um tempinho, encontro uma bacia com pães de queijo quase escondida em meio as outras.

      Eu pego três deles, e só não pego mais porquê preciso disfarçar com a outra mão caso alguém esteja observando e ache que eu sou um morto de fome.

O BEIJO DO OCEANO (COMPLETO)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora