CAPÍTULO 27

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   São menos de 7:00 da manhã quando chego a ilha novamente, me transformando quase em terra firme e começando a correr pela praia de pedrinhas. Algumas nuvens dispostas contra o céu cobrem o sol uma vez ou outra, fazendo a claridade solar mudar de forma abrupta de vez em quando.

      Um sorriso bobo se forma nos meus lábios à medida que me aproximo da entrada da sua caverna secreta, mas assim que começo a descer os degraus grandes, vozes irritadas chamam a minha atenção e me fazem parar no lugar imediatamente.

     — VOCÊ TEM QUE VOLTAR COMIGO, WYATT!!! — Uma voz grave e irritada rosna, e com o coração martelando e um calafrio subindo pela minha espinha, desço mais dois degraus e começo espiar com apenas um dos olhos.

     — Eu não vou agora, Mason! — Wyatt grita o com o seu irmão com uma voz incrivelmente gélida, de um jeito que nunca o vi usando. O seu irmão está em pé ao lado da borda do túnel, com o corpo completamente molhado e vestindo nada mais que uma sunga preta. A sua expressão é de pura raiva, de modo com que o maxilar fique completamente tensionado.

     — VAI REJEITAR SEU POVO POR CAUSA DE UM HUMANO?! — Mason solta uma risadinha amarga, surpreendendo tanto a mim quanto à Wyatt. Ele sabia o tempo todo que eu era humano? O pai dele sabia também? Ai meu Deus...

      Mason parece notar a expressão de surpresa na cara de Wyatt, então continua:

     — ACHA QUE EU NÃO SOUBE NO MOMENTO EM QUE COLOQUEI OS OLHOS NELE?! ELE NUNCA VAI SE COMPORTAR COMO UM TRITÃO!! ALÉM DISSO, AQUELAS MANCHAS NA CARA DELE SÃO COISA DE HUMANO!! NENHUM TRITÃO TEM AQUILO!!

     — E DAÍ, MASON?! O QUE VOCÊ TEM A VER COM ISSO?! ELE VIROU UM TRITÃO POR CAUSA DE UM BEIJO MEU! VOCÊ CONHECE ÀS LENDAS! TEMOS QUE FICAR JUNTOS! — Wyatt rosna, ficando cara a cara com o irmão.

     — Você beijou aquele merdinha na esperança de que ele se transformasse num tritão?? Qual é! você merece mais que isso...

     — E DAÍ SE FOI?! VOCÊ NUNCA VAI ENTENDER NADA SOBRE SENTIMENTOS!! — Wyatt o interrompe, fazendo o seu irmão Arregalar os olhos. Mason abre a boca para protestar, mas fica sem palavras. Ele solta um rosnado e mergulha no túnel submerso, transformando-se antes de sequer tocar na água.

     Um silêncio horrível se estende pela caverna, onde apenas o som da água agitada e da respiração curta de Wyatt ecoa pelo ar. O meu coração bate de forma descompassada, enquanto puro choque cruza o meu corpo. Minhas pernas ficam bambas e eu escorrego do degrau, caindo de cara no chão como um saco de batatas.

       O som chama a atenção de Wyatt, que dá um pulinho estranho e olha para mim, com espanto.

     — Luther... V-você escutou...

     — Você sabia que poderia me transformar antes de sequer nos conhecermos? — Fico em pé com as minhas pernas ardendo e com cortes nos joelhos, surpreendendo a mim mesmo por não ter gaguejado nenhuma vez.

     — Eu posso explicar...

     — NÃO!! NÃO TEM O QUE EXPLICAR!! VOCÊ NÃO TINHA O DIREITO DE FAZER ISSO!! — Grito, sentindo minhas bochechas molhadas. Não sei explicar ao certo qual emoção toma conta de mim. Ódio? Medo? Tristeza? Receio? Só sei que é forte e avassaladora pra caramba, e quando percebo, já estou subindo os degraus grandes e correndo para fora da caverna.

      Não preciso olhar para trás para saber que Wyatt está me seguindo, então corro o mais rápido que minhas pernas bambas permitem.

     — Espera, Luther!! — Ele grita, mas eu não dou ouvidos, antes de mergulhar e me transformar, para então começar a nadar com toda a força que tenho. Sei que não sou tão habilidoso quanto ele, mas minha cauda é maior.

      Não sei se é força de vontade ou o acionamento de algum mecanismo involuntário, mas consigo sentir as minhas barbatanas abrindo o máximo possível, mesmo que isso doa um pouco. Mas pelo menos consigo ir muito mais rápido agora, e a minha barbatana dorsal corta a água como se fosse um leme.

      Sequer vejo o tempo passando, mas consigo perceber que estou me aproximando da praia em que fica o acampamento mais do jamais cheguei na forma humana, e isso provavelmente vai fazer Wyatt não tentar me seguir.

      Quando volto para a minha forma humana, cubro a pequena até a praia e não olho para trás, tentando ignorar a agitação da água e os meus olhos, que estão ardendo sem parar.

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O BEIJO DO OCEANO (COMPLETO)Where stories live. Discover now