CAPÍTULO 28

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   Os dois dias seguintes foram uma merda. Acho que fiquei mais tempo dentro da minha barraca do que fora. A bateria do meu celular morreu e agora nem sequer consigo ver as horas, e também não estou com cabeça para ler nada, então fico apenas aqui, encarando o vazio e refletindo sobre tudo aconteceu, embora seja um pouco doloroso.

      Ainda não acredito que ele realmente fez isso comigo. Que sabia o que iria acontecer e nem sequer se importou com o que eu acharia disso.

       Acho que devo ter me transformado enquanto dormia, porque consigo ver algumas escamas azuis espalhadas pelo colchonete, além de sentir alguns pequenos cortes nas minhas pernas, onde elas provavelmente estariam na minha outra forma.

     — Hey, Luther. — A voz de Victor quebra o silêncio, me fazendo cobrir as escamas com o cobertor e engatinhar para abrir o zíper da entrada da barraca. Estou vestindo apenas uma samba canção e uma regata branca.

     — Cê tá bem, cara? — Ele Pergunta, entrando dentro da minha barraca e sentando lá no canto. Nas suas mãos há uma pequena tigela com um pedaço de bolo, e assim que ele a estende para mim, eu aceito de bom grado. Não sei qual foi a última vez que comi.

     — Desculpa por não ter ido ficar lá fora com você. Acho que não tô muito bem esses dias. — Explico, enquanto dou uma mordida no bolo de chocolate. O meu cabelo deve está tão horripilante que eu não quero nem pensar nisso.

     — você quer falar sobre isso? — Victor pergunta, mas eu apenas nego levemente com a cabeça e volto a comer. Consigo sentir seu olhar vagar pela barraca, passando pela minha pilha de livros e pelas minhas mochilas.

     — Quando você quiser falar, estou aqui, Okay? Liza também está um pouco preocupada com você. — Ele diz, abraçando os joelhos e coçando levemente a cabeça. Victor está vestindo só um calção branco, que mal chega no meio das suas pernas.

      — Obrigado. Você é um ótimo amigo, Victor. Os dois são, na verdade. Obrigado por tudo. — Digo para ele, sentindo meus olhos arderem com algumas lágrimas, e não fazendo ideia do porquê. Então essa é a sensação de ter amigos? Alguém com quem contar nos momentos difíceis? Alguém com quem conversar? Então quer dizer que durante toda a minha vida eu perdi isso pelo simples fato de ser um idiota?

      — Qual é, não vai chorar agora vai? Você também é um ótimo amigo. — Victor vem até mim e me dá um abraço rápido e meio desajeitado, passando o dedo na minha bochecha para tirar um pouco de chocolate com o qual eu praticamente me lambuzei. O gesto meio íntimo me faria ficar um pouco desconcertado se fosse com qualquer outra pessoa, mas o Victor é... O Victor. É como se tivéssemos nascidos para sermos melhores amigos e eu o conhecesse desde sempre.

      — Toma. — Entrego para ele a outra metade do bolo, empurrando na sua boca quando ele tenta protestar. Victor revira os olhos verdes e me dá um soquinho no ombro.

      Nós ficamos conversando por algum tempo, sobre coisas super aleatórias. Eu agradeço internamente por ele não insistir sobre o porque eu estou tão estranho, até porque seria impossível explicar algo assim sem revelar o 'climax' do relato.

       Nós só saímos da minha barraca quando já está dando quase meio dia, e o sol que reflete na lona vermelha deixa a temperatura aqui dentro quase insuportável. Eu tento ajeitar o meu cabelo bagunçado antes, e também me livrar nas marcas de lágrimas nos cantos dos meus olhos.

      — Você quer nadar, Luther? — Victor pergunta, enquanto tira o seu calção minúsculo e fica vestindo uma sunga verde Marinho, que contrasta perfeitamente com a sua pele bronzeada.

O BEIJO DO OCEANO (COMPLETO)Where stories live. Discover now