CAPÍTULO 12

1.6K 224 2
                                    

[•••]


   O jantar se passa tranquilamente, e eu como mais que o normal de novo, colocando mais arroz do que sempre boto e quase fazendo a comida transbordar do prato de tanta batata assada (a maioria dos jogadores de futebol colocam desse tanto de comida no prato deles, então ninguém me olha torto).

      As luzes voltaram a ser acesas por todo o acampamento e a maioria dos alunos estão comendo sentados nos bancos ao redor da mesa, com a fogueira acesa poucos minutos atrás crepitando ao lado delas. Eu preferi comer no escurinho confortável alguns metros atrás de onde eles estão, apenas observando.

     Eu como com calma dessa vez, saboreando as batatas cozidas e bem temperadas sem muita pressa. Não sei o que colocaram nessa comida, mas está realmente muito boa. De início achei que poderia ser algum efeito do lance da cauda de peixe, que pode ter potencializado meus sentimentos ou sei lá, mas não tenho certeza disso.

      O clima esfriou bastante nas últimas duas horas, e as cadeiras que praticamente estavam pegando fogo por causa do sol, agora estão frias ao toque. Uma brisa fresca passa por mim e bagunça meu cabelo, me fazendo agradecer internamente por ter vestindo um moleton surrado e quentinho.

      Olho para o céu enquanto mastigo um pedaço de bife, arregalando os olhos e quase cuspindo a comida fora quando percebo a quantidade absurda de estrelas que pintam o fundo preto com pequenas pinceladas. COMO EU NÃO TINHA PERCEBIDO ISSO ANTES?!

      É praticamente possível distinguir todas as constelações conhecidas, e olha que ainda nem está tão tarde. Observo hipnotizado o infinito de pontinhos coloridos dispostos meio que de forma aleatória no céu, alguns são levemente maiores do que outros, e alguns deles possuem uma luz tão fraca que passam despercebidos por olhos desatentos. A cor também pode parecer a mesma se você não prestar bastante atenção, mas é possível perceber que a luz branca tem alguns nuances de outras cores misturadas; a maioria é meio amarelada ou vermelhada, mas algumas também são meio azuladas ou esverdeadas, além daquelas que são simplesmente brancas, parecendo prata líquida.

      A lua crescente não é mais do que uma fina fatia luminosa do lado esquerdo do céu, mas a imagem é tão nítida que eu consigo ver até algumas manchas escuras (provavelmente formadas por crateras) na pequena porção visível dela.

      Nas cidades é impossível ter uma visão maravilhosa como essa, e até mesmo na em que moramos, que é minúscula se comparada as grandes metrópoles do país, as nuvens de poluição e o ar espesso impedem qualquer visão clara do que está sobre nossas cabeças.

      Termino de comer sem desgrudar os olhos do céu magnífico, arrependendo-me de não ter trazido um saco de dormir só para poder ver as estrelas enquanto espero o sono vir. Deve ser uma experiência única.

      Pulo da cadeira e vou deixar o meu prato na mesa onde as louças sujas estão sendo colocadas, contornando as pessoas no meu caminho e tomando cuidado para não trombar em ninguém.

       Pelo visto outra seção de histórias assustadoras vai acontecer hoje, mas não sei se estou com muito ânimo pra isso, na verdade. Prefiro ficar na minha barraca lendo um pouco e escutando música, mas se o tédio bater, nada me impede de vir para cá, como fiz ontem.

[•••]

    — I hear the birds on the summer breeze... — Cantarolo baixinho "ride" da Lana del Rey enquanto descanso os olhos por alguns segundos, para enfim continuar a leitura. Minha voz não é lá muito bonita, mas nada me impede de cantar para mim mesmo (por mais desafinado que seja).

     Já deve passar das dez horas e só faltam mais algumas poucas páginas para que eu termine Aristóteles e Dante descobrem os segredos do universo. E apesar de amar esse livro, sempre acho o final um pouco rápido demais.

     Dante tem um tipo de personalidade meio esquisita, mas é ainda mais preocupante notar que eu me pareço um pouco com ele, descontando a minha frustração em coisas aleatórias e tentando tapar o buraco que a falta de algo faz com outro algo nada interessante, ao invés de tentar resolver o problema. É um pouco difícil de explicar, mas a maioria das coisas do mundo é assim; quem diria que existiam tritões e sereias por aí?? O que mais pode existir nesse vasto universo? Tudo é possível para mim agora, e se uma nave alienígena pousasse do lado de fora da barraca agora mesmo, eu não estaria nem um pouco surpreso.

      Não demora mais do que alguns minutos para que eu termine o livro, sempre ficando um pouquinho emocionado com a cena do deserto. É impressionante como cada vez que leio, vejo uma coisa que deixei passar da última vez.

      Uma versão alternativa de "violets for roses" deixa o final do livro ainda mais impactante, embora a letra não tenha nada a ver com a história, mas blue Banisters (e cada acorde desse álbum) combina com tudo.

      Um bocejo longo escapa de mim enquanto esfrego os olhos, colocando o livro em cima das minhas bolsas e embrulhando-me com os meus cobertores fofinhos logo em seguida. Consigo escutar risadas e conversas vindo do resto do acampamento, eles provavelmente devem está assando marshmallows e contando histórias novamente, mas estou com zero vontade de sair daqui.

      Eu estendo a mão para pegar o meu celular e desliga-lo, porque estou com sono e um tanto cansado. A bateria está em 69% já, o que me faz soltar um suspiro, porque só tenho utilizado o celular para ouvir músicas e tirar algumas fotos do lago uma vez ou outra. Também utilizo a lanterna algumas vezes, e talvez seja isso que esteja fazendo ele descarregar mais rápido que o normal.

      A noite está fria, mas aqui dentro está uma temperatura bastante agradável. Eu encolho o meu corpo e procuro uma posição mais confortável, sentindo aquela sensação de leveza e esquecimento que o sono traz.

[•••]

O BEIJO DO OCEANO (COMPLETO)Where stories live. Discover now