CAPÍTULO 06

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   Já devem passar das doze horas quando enfim resolvo entrar na água, e fiquei perambulando por aí nesse meio termo, conversando com os professores e escutando algumas músicas dentro da minha barraca.

     Eu estava exagerando quando disse pra Victor que a água estava fria, pois a temperatura parece ser a mesma de sempre que tenho contato com o lago. E falando em Victor, não avisto-o em lugar nenhum, mas vejo Liza conversando com um grupinhos de garotas, deitadas em toalhas esticadas nas margens do lago.

      Dou alguns passo para dentro, sentindo a água morna envolver primeiro os meus tornozelos, depois as coxas, e depois minha cintura, antes de eu mergulhar e começar a nadar para frente, onde deve ter uns três metros de profundidade, que vai ficando cada vez fundo a medida que as margens ficam mais afastadas.

     Depois de abrir os olhos e passar pela ocasional ardência provocada pela água enquanto meus olhos se acostumam a ela, observo o imenso paraíso que se estende pelo fundo do lago.

      Não avisto nenhum dos peixinhos bicolores de ontem, mas há carpas solitárias do tamanho da palma da minha mão nadando tranquilamente para lá e para cá. Elas são um pouco desconfiadas e não arriscam se aproximar de mim.

     Também consigo ver diversas pedrinhas brancas no fundo, que parecem pequenos pedaços de quartzo. Eu mergulho até o fundo para analisa-las, mas assim que sinto os meus pulmões protestarem pela falta de oxigênio, volto para a superfície.

     Passo os minutos seguintes flutuando de costas e com os olhos bem fechados devido aos raios solares. A água envolve meu dorso nu e minhas pernas e me deixa extremamente relaxado. Isso aqui é mil vezes melhor do que nadar em piscinas, onde não tem brisa, não tem essa naturalidade, esse sol...

      Ao abrir os olhos novamente, percebo que a ilha está a apenas uns duzentos metros de distância de mim agora. Ela parece ser bem maior do que pensei que seria. Nessa parte do lago já tem alguns arbustos aquáticos coloridos que mais se parecem com corais presos no fundo. Os peixes aqui são mais abundantes também, e eu consigo ver várias espécies diferentes.

     Olho por cima dos ombros e noto que a praia em que nosso acampamento fica está bem longe. Todos os meus colegas se limitam a nadar bem perto das margens, então estou distante de qualquer outra pessoa.

     Como vim parar tão longe?? Acho que que perdi a noção do tempo novamente.

     A ilha atrai minha atenção quase como se ela tivesse um campo magnético super forte. As árvores de lá parecem ser bem mais vivas e com mais folhas do que as da pequena floresta atrás do acampamento, e talvez seja por causa da proximidade com a água.

     Sem pensar direito, começo a bater os braços e as pernas com força para chegar até lá rapidamente, nem que seja para dá apenas uma olhadinha.

     A falta de correnteza e obstáculos no caminho facilita bastante a minha ida até lá, mas mesmo assim é um pouquinho cansativo, pois sou bastante sedentário.

      Rochas enormes estão dispostas perto da margem, e eu preciso ter cuidado para não bater de cara em algumas delas enquanto me aproximo. Cruzo os últimos metros que me separam da areia caminhando mesmo, enquanto tiro o cabelo do rosto.

     — puta merda... — murmuro para mim mesmo ao apoiar as mãos nos joelhos e respirar fundo, bem mais cansado do que pensei que estaria.

      Olho de relance para o lago e percebo que estou longe pra caralho do acampamento, que fica quase no limite da minha visão. Vai ser um trabalhão para voltar, mas eu posso voltar devagar, sem cometer o erro de nadar como nadei até chegar aqui.

      Voltando a minha atenção para a floresta na minha frente, percebo que ela parece completamente intocada por humanos, mas há uma trilha quase imperceptível por trás de um aglomerado de rochas.

      Pode ser uma trilha de algum animal? Talvez. Pode ser que eu esteja caindo na armadilha de um serial killer ou indo direto para a casa de um bando de canibais assassinos? Com certeza, mas resolvo ignorar esses pensamentos pessimistas e desmotivadores e seguir em frente, tomando cuidado por onde piso, já que estou sem sandálias.

     O ambiente é meio úmido e há várias samambaias e plantas aquáticas de ambos os lados da trilha, mas isso deixa tudo ainda mais bonito. O verde das folhas é tão vibrante que nem parece ser real, e o laranja meio amarelado dos helicônias? É SIMPLESMENTE PERFEITO!! Parece que fui teletransportado para uma floresta tropical.

      Também consigo ouvir pássaros cantando e ver borboletas coloridas voando tranquilamente por aí, pousando nas flores e dividindo o espaço com beija-flores.

      Desço uma pequena ladeira gramada e assim que viro uma curva brusca, dou de cara com a coisa mais impressionante que já vi.

    — Nossa!! — exclamo, sem desgrudar os olhos do pequeno lago circular, que tem a água mais cristalina do mundo. Ele não deve ter mais do que meio metro de profundidade e uns oito de diâmetro, e o chão é revestido por minúsculas pedras que parecem refletir e fracionar a pouca luz que atravessa a copa das árvores, deixando a agora de um turqueza tão profundo que nem parece ser real.

      Pequenas bolhas de ar sobem tranquilamente por todo o lago, indicando que ele é uma espécie de piscina térmica. Arbustos com flores silvestres das mais variadas cores e samambaias circulam toda a margem do lago, deixando-o ainda mais impressionante do que já é.

      Eu me ajoelho perto da água e estendo a mão para checar a temperatura, e embora a grande quantidade de bolhas deixe uma impressão de que a água esteja quase fervendo, a temperatura dela não deve passar de uns 44 graus, sendo apenas morna e completamente relaxante.

      Não há nenhum peixe no lago, até porque a temperatura um pouco mais elevada que o normal não permitiria isso.

     Eu levanto rapidamente e tiro o meu calção, ficando vestindo apenas a minha sunga verde escura. Estou completamente sozinho aqui, então não vejo o porquê ter vergonha.

     — O-oh meu Deus. — Gaguejo para mim mesmo assim que enfio o pé dentro do lago. A sensação é simplesmente sensacional e me faz colocar o outro pé para dentro rapidamente, de modo com que minhas pernas fiquem submersas até pouco acima do joelho.

      Eu mergulho com cuidado para não bater a cabeça no chão e nado até a margem oposta, sentindo a água quente envolver completamente meu corpo e deixar uma sensação maravilhosa na minha pele, como se cada centímetro dela estivesse sendo massageada.

      Sento-me com as costas apoiadas na margem e tiro o cabelo do rosto. Acho que vou precisar cortar o cabelo assim que voltar de viagem, porque esse hábito de ficar tirando o cabelo do rosto é um pouquinho chato.

      As pedrinhas do fundo do lago chamam a minha atenção. Percebo pela primeira vez que elas possuem tons que variam entre um roxo leitoso, azul claro, rosa e branco. Pego uma azul claro e a levanto na frente do meu rosto para analisa-la direito. É realmente muito impressionante, e se parece com um pedaço de diamante.

     — São apenas Águas Marinhas e quartzos, pode até ser bonita, mas não valem nada. — Uma voz sonora e tranquila diz, me fazendo olhar para a frente e dar de cara com um garoto a poucos metros de distância, exatamente onde deixei o meu calção.

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O BEIJO DO OCEANO (COMPLETO)Where stories live. Discover now