Capítulo 35

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 Eu me encontrava no que eu diria ser um vazio. Um espaço sem fim e completamente branco. A minha frente estava uma mulher de cabelos negros vestindo um lindo quimono de uma beleza inesquecível. Sua pele era clara e ela parecia serena e calma, havia um pequeno sorriso acolhedor em seus lábios vermelhos e seus olhos pareciam diamantes. O dragão. Ela era o dragão.

 - Onde eu to? - Minha voz sai de meus lábios de forma tímida dando um eco no vasto e imenso local vazio do qual estávamos.

 - Vamos saber quem é você...

 A mulher caminha até mim e segura minha mão. Ela me guia um pouco mais a frente e sou capaz de ver  muitas pessoas. Descendentes, ancestrais. Minha mãe estava ali, ao lado de meu pai. Minha avó Vivian, ao lado de meu avô do qual eu não conheci, e os demais do qual eu não fazia a menor ideia de quem eram. Havia um outro que chamou minha atenção. Ele era um homem com uma marca de queimadura no olho esquerdo e em sua mão havia um cajado, ele me parecia com um bruxo e estava do lado de esquerdo de minha avó.

 Eu caminho lentamente em direção a minha avó, havia tempos, muito tempo que não à via. Seus cabelos eram brancos e encaracolados. Seus olhos eram verdes, eram como esmeraldas, assim como os meus. Meus olhos transbordam. O sentimento de saudade inundava meu peito e me chacoalhava e me retorcia de forma violenta. Queria que ela estivesse comigo. Será que é possível mudar o passado? Meus olhos encharcados viajam ao meu redor e ao longe, à minha esquerda, estava Jack. Uma linha vermelha estava em meu dedo, que conectava na dele.

 O que era tudo isso?...

- Sua descendência provem de caçadores. Minha criança, você é capaz de ver o fio vermelho na mão do lobo? 

- Sim...

- Vocês estão conectados, nasceram para ficarem juntos.

- Mas se eu sou caçadora... Então eu não posso ficar com o Jack...- Eu digo com os olhos nele que estava ao longe sem olhar para mim 

- Sim... Desde muito tempo atrás algumas pessoas de sua vila não conseguiam viver em paz com os seres da floresta. Eles nunca conseguiram. Estavam sempre prontos para caçar e matar. Quando sua avó percebeu que você estava destinada a se juntar com Jack seu coração se encheu de fúria junto com os demais caçadores. Infelizmente sua avó nunca foi uma pessoa boa, eu gostaria de dizer que ela era, mas não é... Ela matou diversos seres de minha floresta, sem contar alguns humanos que também ja feriu. Ela era uma traidora, suas mãos estavam sempre apuradas para fazer algo impuro e mal, e sua língua não se segurava dentro de sua boca. Além da magia negra que ela usava, por conta da magia dela, até hoje Haamiah tem problemas para aquieta-la, ela esta sempre tentando voltar a vida, ela não foi capaz de aceitar nem a própria morte... - Eu coloco minhas mãos em minha boca chocada e assustada com a revelação. Por que? Por que ela foi um lobo vestido de carneiro, eu a via como uma anjo... Esta era mesmo a minha mulher? A mulher da qual eu sofri por sentir saudade? A mulher que tirou diversas vidas e seres? Por que?...

- Mas Jack é mais velho que eu, ele nasceu primeiro, como poderiam saber que estávamos destinados?

- Você ja deve ter ouvido sobre os rumores de sua avó ter ficado com um bruxo, não deve? - eu acinto calada, ouvindo tudo e absorvendo tudo com muito atenção e cautela.- Foi assim que ela descobriu, com magia. Com o coração cheio de fúria ela foi até a alcateia de Leonor, pai de Jack, o alpha da alcateia naquele tempo, e apunha-lou sua esposa. Na intenção de matar Jack, é claro, porém não foi o suficiente. Quando Jack descobriu que sua mãe havia sido brutalmente assassinada ele deu o troco...

 De meus olhos escorriam lágrimas de tristeza. Era algo que eu não conseguia evitar. Ela me tratava tão bem, mas apunha-lou uma mulher grávida apenas para que no futuro eu não ficasse com Jack...

- Por que o fato de eu acabar ficando com Jack era tão ruim?...

- Por que era algo que não era aceitável naquela época e infelizmente ainda não é... Mesmo que descubra tudo, ainda sim você seria vista com a "errada". Por que você é humana e estará a namorar um lobisomem... 

- e sobre as pessoas desaparecidas? Haviam rumores terríveis, as pessoas que se perderam nunca voltaram, eu quase não voltei...

- Nisto você esta certa... alguns seres daqui conseguem ser terrivelmente maus. A culpa não é apenas dos humanos de sua vila. Muitos dos seres conseguem ser terrivelmente cruéis e insensíveis.

- Mas o que causou esta guerra?...

- Querida Humana... Me diga. Os monstros fazem a guerra ou a guerra faz os monstros?...

 Não havia uma resposta. Era apenas o preconceito. Sua resposta despertou-me uma curiosidade. Ao mesmo tempo que eu pude entender suas palavras não pude compreende-las. Guerras tem explicação?...

 Eu caminho até o bruxo. Não tiro meus olhos da face dele nem por um momento. Enquanto isso, Jack, que estava em seu próprio vazio, em seu próprio mundo caminha até nós. 

- Então foi por isso?... Eu sabia cordeirinho, eu sabia que você era minha- Diz ele com um sorriso nos lábios. Ver aquele sorriso me ilumina, eu retribuo o sorriso com uma pequena risada e corro para abraça-lo. - Mas se ela é caçadora e não podemos ficar juntos... Então por que estamos destinados? Ela é minha, mas não pode pertencer a mim. - Suas palavras são soltas no ar como lâminas e todas elas voam em direção ao meu coração. Eu era sua, mas não podia pertencer a você.

- Eu já contei a verdade à vocês, agora vocês que precisam decidir o que fazer. Vocês podem fugir e agir como se não se conhecessem, cada um ir para o seu canto e encontrar outro par, ou podem correr o risco, lutar contra o seu próprio mundo e seu próprio povo... Vocês escolhem. Só não se esqueçam de serem os escritores de suas próprias histórias... Foi bom conhece-los... - A mulher começa a se virar para ir embora, mas para subitamente.-  Mulher humana, dependendo de suas respostas, tome cuidado. A alguém com inveja de vocês, uma obsessão por você. Tome cuidado...- Em resposta eu acinto com um certo nervosismo e medo crescente em meu peito. Quem pode ser?...

 Eu olho de relance para minha avó. Ela tinha um olhar mórbido, vazio, sem alma. Lamento por ela ter sido um ser tão ruim...




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