I (parte 3)

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Quando recuperei a consciência percebi que estava numa sala limpa, numa cama com lençóis moles e fofos, o ar cheirava a álcool e desinfectante.

Abri os olhos e comecei a sentir o corpo dorido e muitas dores de cabeça como se uma orquestra tivesse a tocar cá dentro. Olhei para o lado e vi que na cama ao meu lado estava Richard a olhar para mim, a sorrir e quando me viu a olhar para ele piscou o olho de forma malandra e disse num tom brincalhão:

— Também te dói o corpo e a cabeça ou é só a mim por ter sido mau menino?

Antes que pudesse responder uma voz ao fundo das nossas camas disse:

— Ah que ótimo, finalmente acordaram. E já prontos a brincar estou a ver. A situação é muito grave!

Olhei para o local de onde vinha a voz, mas não precisava de o fazer, sabia perfeitamente que quem estava no fundo da cama a falar connosco em tom desaprovador, era a Maya, a irmã gémea de Richard.

— Olá para ti também Maya. O que queres dizer com o teu finalmente? — perguntei eu confuso.

— Vocês estiveram adormecidos durante uma semana. Uma semana!!! A mãe e o pai estão super assustados e preocupados. Ficam aqui quase o dia todo. Só saem para coisas da liderança. Houve um dia que pensámos que vos íamos perder a ambos. — respondeu ela zangada, mas eu conseguia perceber alívio na voz dela.

— O que aconteceu? — perguntou Richard tão confuso quanto eu.

Eu comecei a tentar lembrar-me, mas estava tudo nublado e não conseguia juntar as imagens.

— Sim, o que aconteceu? Não me lembro de nada. Está tudo meio nublado. — disse eu, mas, no fundo, sabia que fizemos algo terrível.

Maya olhou para nós com ar desconfiado e disse:

— Não se lembram de nada mesmo? Não se lembram de quase terem mandado a casa pelos ares e de no processo quase terem morto os pais e a vocês? Foi uma sorte eu estar em casa. Fui a correr ver o que causara a explosão vinda da sala e vi todos no chão. Fui imediatamente buscar o líder Marcus e a sua mulher Isabelle para me ajudarem a trazê-los para a ala hospitalar.

Eu olhei para Richard e depois para Maya. Eu não sabia como isso tinha acontecido, mas estava a sentir-me cada vez mais estranho e culpado. Pequenas partes do acidente iam voltando. A energia que tinha sentido nessa noite... Nunca tinha sentido nada assim antes. Mas agora, ao saber que quase tínhamos morto Jonathan e Alice, assim como a nós no processo, senti-me enjoado.

— Eles estão bem? — perguntei eu desolado e pasmado com o tamanho do nosso poder.

— Sim, eles acordaram poucas horas depois e desde aí nenhum deles saiu daqui. Eles estão a resolver coisas no conselho dos líderes, mas devem voltar daqui a pouco tempo. Eu vou descer a ver se vejo o doutor para vir aqui ver-vos. — respondeu ela e levantou-se.

Começou a andar em direção a porta, mas parou a meio do caminho, olhou para nós e correu para nos abraçar e deu-me um beijo na cara, senti escaldar no sítio do beijo, e disse:

— Acima de tudo estou super feliz que estejam bem! Estava super preocupada.

Dito isto, voltou a andar em direção à saída. Richard esperou para ouvir ela correr escadas abaixo para comentar o que tinha acabado de acontecer.

— Estou tão contente por estares bem Tobias!!! — disse Richard a imitar a irmã, fez o som de beijos no ar e começou a rir, mas parou com as dores que sentia.

— Ah! Cala-te. Somos amigos, não há nada de especial entre nós. Seria estranho. Somos como irmãos. Nada vai acontecer entre nós, portanto deixa-te de ideias. — disse eu chateado.

Os Irmãos De Sangue: Um Encontro InesperadoWhere stories live. Discover now