O mapa

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Eu estava flutuando em um espaço vazio e silencioso, cercada por uma infinidade de estrelas cintilantes, quando um estranho ruído me trouxe de volta à terra firme. Abrindo meus olhos lentamente, me deparei com o rosto do príncipe, tão próximo que nossas respirações se entrelaçavam em um instante fugaz. Um turbilhão de sensações invadiu meu ser, e meu coração começou a pulsar em um ritmo frenético. Impulsivamente, empurrei-o com determinação, afastando-o de mim.

- O que você pensa que está fazendo? - questionei, enquanto me sentava, meu susto ecoando em minha voz, enquanto buscava compreender a situação.

O príncipe parecia envergonhado, recuando diante de minha reação defensiva.

- Perdoe-me... - murmurou ele, sua voz carregada de arrependimento. - Mas é que... o mapa... veja! - Apontou para o pingente em meu pescoço.

Olhei para baixo e arquejei ao ver o pingente irradiar uma luz cintilante. Conforme a luz se intensificava, percebi uma série de linhas holográficas se formando diante de mim. A princípio, essas linhas pareciam confusas e sem sentido, mas rapidamente começaram a se unir, formando uma espécie de mapa tridimensional. Enquanto eu o estudava, meus olhos foram atraídos para pequenos pontos de luz piscando em vários locais. De repente, o príncipe se levantou lentamente, sua expressão dividida entre curiosidade e fascinação. Ele se aproximou do mapa com cuidado, como se não possuísse intimidade suficiente com aquele objeto mágico.

-Não posso acreditar nisso - sussurrou ele, seus olhos brilhando de excitação e mistério.

O príncipe apontou para os pontos de luz no mapa e começou a traçar um caminho entre eles com o dedo.

-Este é o caminho que precisamos seguir- disse ele.

Eu fiquei em silêncio, observando-o enquanto ele estudava o mapa, absorto em seus pensamentos. As chamas da fogueira crepitavam fracamente, projetando uma luz sobre o príncipe e o mapa.

Depois de compartilharmos uma rápida refeição, partimos na direção indicada pelo mapa. O deserto se estendia em todas as direções, e a noite clara e estrelada nos envolvia. Uma brisa quente soprava em nossos rostos, levantando pequenas nuvens de areia e pedregulhos ao nosso redor. Enquanto caminhávamos, Zyan olhava ao redor com atenção, como se buscasse qualquer sinal de perigo. O deserto parecia vasto e vazio, com pouca vegetação exposta e o silêncio era perturbador, quebrado apenas pelo som dos nossos passos na areia. A incerteza pairava no ar, deixando-nos tensos e alertas.

-Quais serão esses desafios que nos esperam? - perguntei, tentando dissipar a tensão enquanto seguíamos em frente.

Zyan parecia pensativo por um momento antes de responder, seus olhos fixos na vastidão ao nosso redor.

-Não consigo pensar em nada no momento, mas, se tratando de Jin, é melhor estarmos preparados.

-Pra você, é fácil falar, já veio equipado com essas correntes mágicas. - apontei para os seus braceletes - A propósito, como foi que as conseguiu? - perguntei, tentando parecer descontraída.

O príncipe sorriu com minha pergunta.

-Essas correntes... digamos que eu as adquiri de um grupo de ladrões, há muito tempo - respondeu ele, seu sorriso sugerindo que havia uma história interessante por trás disso.

-Então você as roubou? - questionei, erguendo uma sobrancelha, curiosa para saber mais detalhes.

Ele negou com um gesto da mão.

-Eu as consegui numa barganha que fiz com o líder do grupo.

-Hum... Quer dizer então que a prática de magia era comum em seu tempo? - indaguei, intrigada com as implicações.

O príncipe ponderou por um momento antes de responder.

-Não exatamente. A magia sempre foi algo raro e muito valorizado em meu tempo. Mas se soubesse onde procurar, certamente encontraria coisas incríveis - disse, seus olhos brilhando com um misto de nostalgia e fascinação.

-E por falar nisso, é incrível ver o que Jin consegue fazer com sua magia. Olha só para esse lugar. É praticamente um universo inteiro dentro de uma minúscula ânfora - comentei, maravilhada com as habilidades de Jin.

Zyan concordou com um sorriso e, em seguida, retirou um cantil de sua bolsa, oferecendo-me um pouco de água. Aceitei com gratidão, apreciando o frescor em minha garganta antes de devolvê-lo. Enquanto caminhava, envolvida naquela paisagem criada pela magia de Jin, sentia-me imersa em um mundo extraordinário. Era difícil acreditar na imensa quantidade de poder que Jin possuía.

-Zyan, tenho mais uma pergunta - disse após alguns instantes, buscando saciar minha curiosidade. - O que você tem a me dizer sobre Nadija? Quando me encontrou, ela disse que era a guardiã deste lugar. Seria ela uma criação de Jin?

Zyan pareceu ligeiramente desconfortável com a pergunta, seus olhos desviando por um momento antes de responder.

- Não sei dizer ao certo. Tudo o que posso afirmar é que Nadija tem sido uma companheira leal e valiosa para mim.

Observei Zyan, tentando entender a relação entre ele e Nadija. Havia algo na forma como eles se tratavam que parecia mais íntimo do que uma simples amizade. A pergunta ousada escapou dos meus lábios antes que eu pudesse contê-la.

-Vocês são íntimos, não são? - perguntei, sentindo o rubor subir pelo meu rosto.

Zyan me encarou como se a pergunta fosse audaciosa demais, o que fez com que eu me arrependesse instantaneamente. Mas, para minha surpresa, ele respondeu calmamente.

-A Nadija é um ser puro e eu jamais a veria de outra forma.

Eu assenti, sentindo-me envergonhada por ter feito uma pergunta tão íntima. Eu me questionei por que senti a necessidade de perguntar sobre algo tão pessoal, mas decidi deixar isso de lado por enquanto e me concentrar no caminho à frente.

Após alguns instantes, Zyan parou subitamente, deixando-me confusa.

Há algo errado com este mapa - disse Zyan, apontando para um ponto específico no desenho. - De acordo com ele, a dungeon que estamos procurando deveria estar logo após essa vegetação densa. Nós já atravessamos essa área, mas... e a dungeon? - explicou ele, franzindo a testa em confusão.

Eu olhei atentamente para o mapa mágico e pude ver que ele tinha razão. Comecei a me perguntar se havíamos perdido o rumo ou se o mapa estava incorreto.

Enquanto Zyan estudava o mapa, senti uma estranha sensação de inquietação. Olhei ao redor e percebi que a areia estava se movendo de forma estranha, como se algo estivesse se aproximando rapidamente. Antes que pudesse alertar Zyan, o chão sob nossos pés começou a tremer e rachou. Zyan acabou perdendo o equilíbrio, mas antes que pudesse cair, eu o puxei de volta com toda a força que tinha. Seu corpo se chocou desajeitadamente contra meu e ficamos ali, parados, imersos em um silêncio tenso. A adrenalina corria por minhas veias, e meu coração batia tão forte que parecia que eu podia ouvi-lo. Era como se o tempo tivesse parado, e eu não conseguia desviar o olhar dos olhos intensos do príncipe. Por um momento, ficamos assim, sem saber o que dizer ou fazer. Mas então, a tensão entre nós se dissipou quando ele se afastou lentamente, dando um passo para trás.

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