A caverna

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Conforme avançávamos, eu lutava para manter olhos abertos e seguir Zyan. A tempestade de areia estava se aproximando cada vez mais rápido e o som gutural ecoava de forma ensurdecedora em meus ouvidos. A cada passo que dávamos, a areia se movia para frente e para trás, dificultando nossa progressão. Eu me sentia exausta e com medo, mas Zyan me incentivava a continuar, mantendo um ritmo forte e constante.

Finalmente, avistamos um amontoado de rochas à frente, e eu mal conseguia conter o alívio que senti. A medida que nos aproximávamos, pude ver que as rochas formavam uma entrada estreita, que dava para uma caverna. Zyan acelerou o passo e logo estávamos perto o suficiente para nos protegermos da tempestade de areia.

Ao entrarmos na caverna, nossos olhos demoraram um pouco para se ajustar à escuridão. A umidade do local contrastava com a secura lá fora, e a temperatura era surpreendentemente fresca. Zyan acendeu uma fogueira usando alguns pedaços de madeira que encontrou no caminho, e a luz iluminou o espaço, revelando algumas estalactites e estalagmites que pendiam do teto e emergiam do chão de pedra. O cheiro de terra úmida e rocha molhada misturados com a poeira do deserto pairavam no ar, criando uma atmosfera única.

Encontrando uma saliência de pedra, me sentei para descansar. Ainda podia ouvir o rugido gutural da tempestade lá fora, mas estávamos seguros e protegidos dentro da caverna. Foi um momento de paz e tranquilidade em meio ao caos que nos encontrávamos.

—Aqui, são para você — disse o príncipe ao se aproximar, oferecendo-me o saco de provisões. Embora eu não quisesse admitir, estava morrendo de fome. Minha raiva em relação a ele ainda não havia passado, mas minha necessidade de alimento era maior. Peguei o saco de suas mãos, mantendo um olhar frio e distante em sua direção. Abri o saco de provisões com as mãos trêmulas, curiosa para ver o que havia dentro. Enquanto procurava, meus dedos roçaram em algo úmido e macio. Puxei delicadamente e retirei uma maçã madura e suculenta. O aroma fresco da fruta encheu minhas narinas, e não pude resistir à tentação de mordê-la. O suco doce escorreu pelo meu queixo enquanto devorava a fruta com avidez, sentindo minha fome ser saciada. Além de uma variedade de frutas, encontrei também alguns pedaços de carne seca, pães frescos e um embrulho repleto de tâmaras.

Eu estava terminando de comer minha maçã, quando o príncipe soltou um comentário provocativo.

—Víbora pessoinheta — sibilou ele.

Não sei se é porque ele mencionou a palavra "víbora" mas aquele comentário me irritou pra valer.

—Rá! Me chama de víbora, mas só sabe destilar veneno... Enfim, a hipocrisia — respondi, desdenhosa.

O príncipe pareceu incomodado com a minha resposta.

—Pare de distorcer as coisas. Eu estava apenas sendo cauteloso. Sua aparição foi inesperada e eu não sabia se podia confiar em você — justificou-se, tentando me convencer.

—Oh, claro. E o que te faz pensar que pode confiar em mim agora, hein? — perguntei, desafiando-o.

Nesse instante, um vento forte varreu o interior da caverna, fazendo a fogueira estalar e as sombras dançarem nas paredes de pedra. A tempestade de areia estava ficando cada vez mais intensa.

—Quer saber, que se dane as explicações — disse, elevando a voz para ser ouvida acima do barulho da tempestade.

—Como consegue ser tão ardilosa? — questionou ele com um olhar intrigado.

—É um dom natural! E olha que eu estou apenas começando. — Eu sorri, provocando-o ainda mais.

Allah! Dá-me forças para não matá-la.

Mesmo com o vento soprando com força e dificultando a audição, eu consegui captar algumas palavras do que ele disse. Com um ar petulante, respondi:

—Já está pensando em desistir, príncipe? Pois bem, por que não pega essa pilha de músculos e volta pelo mesmo caminho de onde veio?

A ÂNFORA MÁGICA Where stories live. Discover now