Brilha, brilha, estrelinha

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Eu estava flutuando junto às estrelas. Quer dizer, eu estava apenas no meu quarto, próxima à janela, observando o céu noturno com a ajuda do meu telescópio, mas a sensação era como se eu fosse um daqueles pontinhos lá em cima, cintilando a milhares de anos-luz de distância.

A partir de agora, o céu é o limite, sorri com o meu próprio trocadilho, sentindo como se fosse a primeira garota a pisar na lua. E o motivo devia-se ao fato de que, logo no comecinho daquela noite, descobri que havia sido aceita em uma das melhores universidades de Dreamspace para realizar o curso de astronomia.

Desde muito pequena, eu já possuía o sonho de me tornar astrônoma, em parte porque sempre senti uma forte conexão com o céu noturno, mas a verdadeira razão pela qual me fez querer ingressar nesta carreira era por causa da melhor astrônoma de todo o meu universo: minha mãe.

Deixando meu telescópio de lado, plantei um beijo nas pontas dos dedos e levei-os até o seu retrato, que repousava em cima da cômoda.

Ela era uma astrônoma brilhante e tão apaixonada pelo estudo das estrelas que, em homenagem à segunda estrela da constelação de "Canis Major", batizou-me com o nome Adhara. Segundo o Allan, meu pai, pouco antes de eu vir ao mundo, os dois estavam na varanda de casa observando o céu estrelado. Assim que avistou a estrela Adhara cintilando, minha mãe teve a certeza de que esse seria o meu nome. Mas, infelizmente, um evento catastrófico levou-a cedo demais deste mundo. Eu tinha apenas seis anos quando aconteceu, mas ainda me lembro claramente da noite em que meu pai se aproximou de mim com um olhar triste e disse que precisava me contar um segredo. Conduzindo-me em seu colo até a varanda, ele disse que minha mãe havia se tornado uma estrela e que, como a função de uma estrela é brilhar no céu, ela não podia mais permanecer aqui conosco, na terra.

Com o passar dos anos, desenvolvi uma paixão pelas estrelas e pelo universo, como uma forma de manter viva a memória da minha mãe. Embora sua perda tenha sido dolorosa, meu pai sempre esteve ao meu lado, me guiando e me apoiando em minha jornada. E agora, com a oportunidade de estudar astronomia na universidade, sentia que estava honrando a memória da minha mãe e seguindo seus passos. Mesmo que ela não estivesse mais presente fisicamente, eu sabia que sua presença estava viva em mim e em cada descoberta que fazia. E, de alguma forma, eu acreditava que ela também sabia disso e estava lá, brilhando em um lugar especial, guiando-me em direção ao meu caminho estelar.

Com um suspiro nostálgico, forcei-me a colocar meus pés em terra firme. Pegando meu celular na gaveta da cômoda, abri o App de anotações e comecei a programar minha agenda de estudos com a determinação de uma astronauta que se prepara para uma missão espacial. Sabia que a jornada rumo às estrelas não seria fácil, mas estava disposta a me esforçar ao máximo para me tornar uma astrônoma tão boa quanto a minha mãe havia sido. Afinal, eu tinha um legado a honrar e um sonho a alcançar e nada nesse mundo poderia me fazer perder o foco.

"Bibi!"

Bastaram apenas duas buzinadas no lado de fora para que minha determinação fosse varrida para o espaço.

Nada, exceto o Al, bufei.

Estacionando seu carro na garagem, Al adentrou a casa pelos fundos e subiu rapidamente as escadas até chegar no meu quarto.

-Vim correndo quando soube da notícia- disse ao atravessar o cômodo feito um foguete -Minha estrelinha vai para a universidade! Estou tão orgulhoso!- Completou ele, me envolvendo em um forte abraço.

-Pai! O que a gente já conversou sobre você me chamar de estrelinha? Eu não tenho mais seis anos -repliquei, inquieta, enquanto tentava me desvencilhar dele a todo custo.

-Tá legal, parei... estrelinha - pigarreaou, ao me soltar, e eu o encarei como se meus olhos possuíssem raios lasers, e meu objetivo fosse transformá-lo em poeira estelar.

A ÂNFORA MÁGICA Where stories live. Discover now