Miragem

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—Terra para estrelinha, chamando! Terra para estrelinha...Aqui é o controle de solo — a voz de Al me despertou de um sono profundo. A viagem havia sido longa e cansativa, e acabei pegando no sono depois de passar horas decifrando enigmas da revistinha de RPG que meu pai trouxera consigo. Soltando um longo bocejo, esfreguei os olhos sonolentos e perguntei:

— Já chegamos, Al?

—Sim, mas você precisa ver com seus próprios olhos —ele respondeu, apontando para a janela do avião. Inclinando-me para ver o que estava além dela, fiquei completamente deslumbrada com a vista mágica que se estendia diante de mim. A noite já havia caído, porém, Sarab estava mais estrelada que o céu.

Após o desembarque, pegamos um táxi e enquanto seguíamos em direção ao hotel, pude apreciar a vista pela janela. Sarab era realmente uma cidade fascinante, que combinava perfeitamente o moderno com o tradicional. Arranha-céus reluzentes e palácios coloridos se misturavam em um cenário de tirar o fôlego.

Durante o trajeto, passamos por galerias de arte, museus e até mesmo um observatório imenso. Meu pai não parava de elogiar as maravilhas da cidade e eu não conseguia discordar.

—Incrível, não acha? —ele comentou enquanto contornávamos uma mesquita cuja cúpula possuía o formato de uma flor de lótus desabrochando. Iluminada em diversos pontos por refletores, a cúpula parecia uma joia gigante.

Eu assenti em silêncio, admirada com a arquitetura impressionante da cidade.

— Quer ouvir um fato interessante sobre a criação dessa cidade? — perguntou meu pai, adotando um tom que indicava que ele estava prestes a compartilhar uma história cativante.

— Claro.

Retirando seus óculos do rosto, Al limpou as lentes com um lenço antes de prosseguir.

— Bem, a narrativa remonta a tempos longínquos, quando o fundador desta cidade, um nobre sheik de grande coragem, embarcou em uma jornada épica através das dunas escaldantes do deserto. Enquanto seu grupo se aventurava pelas ondas douradas de areia, algo extraordinário aconteceu. Uma visão fantástica e irreal emergiu diante de seus olhos exaustos: uma cidade resplandecente parecia materializar-se no meio do deserto. A miragem era tão vívida, tão encantadora, que o sheik e seus companheiros ficaram hipnotizados, convencidos de que aquela cidade espectral era um presente dos próprios deuses.

Ele fez uma pausa breve, como se para criar suspense, antes de continuar.

— No coração do sheik, essa visão deixou uma marca profunda. Ela semeou uma ideia ousada e inspiradora: ele estava determinado a transformar aquela miragem em realidade, a erguer uma cidade que fosse tão deslumbrante e irreal quanto a visão que testemunhara. Apesar das vozes céticas que ecoavam ao seu redor, ele estava decidido a manifestar sua visão e provar que a beleza e a maravilha poderiam emergir mesmo dos lugares mais inóspitos.

Um instante de reflexão seguiu-se, como se meu pai estivesse revivendo aquele momento.

— Ele reuniu recursos e aliados, superando desafios que pareciam insuperáveis. Cada rua, cada edifício, cada detalhe da cidade começou a ganhar vida sob a sua orientação apaixonada. E quando finalmente a cidade tomou forma, ele escolheu um nome que capturasse a essência daquela visão que o inspirou: Sarab, uma palavra árabe que traduz a ideia de miragem.

— Meu pai sorriu, sabendo que ele tinha me levado em uma viagem através do tempo com suas palavras. E eu estava completamente imersa nessa jornada de histórias e legados.

—Uau, isso é surpreendente! — comentei, fascinada com a história e com a cidade em si. Sarab realmente parecia uma miragem, com sua beleza deslumbrante e seus arranha-céus reluzentes. Mas ao mesmo tempo, era uma cidade real, com uma cultura rica e aberta ao mundo.

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