Andando em círculos

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—Adhara, acorde.

Senti uma mão quente acariciar meu rosto enquanto uma voz familiar me chamava. Abrindo os olhos gradativamente, encontrei Zyan olhando para mim. Fiquei atordoada por um momento, sem saber se aquilo  era real ou apenas um sonho.

—Zyan? É você mesmo?— perguntei, tentando processar a cena diante de mim. Minhas mãos começaram a tremer, e eu sentia o coração batendo tão forte que parecia que ia explodir a qualquer momento.

— Sou eu — ele suspirou, e meu coração se encheu de alegria e alívio. Ele parecia tão real, ali, sentado ao meu lado que não podia ser apenas uma ilusão. Eu me lancei sobre ele em um abraço apertado, sentindo seu corpo quente contra o meu. Eu não queria mais soltá-lo, tinha medo de que a qualquer instante ele desaparecesse, e por um momento só conseguia chorar. Desfazendo o abraço, comecei a correr meus dedos pelo seu rosto, certificando-me de que era realmente ele.

—Você está vivo — sussurrei, sentindo uma onda de alívio me envolver. Eu não podia acreditar que ele estava ali depois de tudo o que aconteceu.

Instintivamente, olhei para seu abdômen, em busca de algum ferimento, mas para minha surpresa, não havia nada além de algumas cicatrizes.

— Adhara, eu estava morto. Como foi que eu voltei? — perguntou ele com a voz fraca.

—Eu te trouxe de volta — respondi, sorrindo com alívio.

—Você o fez quê?

Expliquei a ele sobre o desafio de Jin e o elixir de cura.

Zyan se afastou abruptamente e se levantou, deixando a areia fina do deserto escapar de seus dedos. Ele olhou para mim, e pude ver a angústia em seus olhos. Seu corpo estava tenso, seus músculos retesados em uma postura defensiva.

—Você não deveria ter feito isso — ele disse, sua voz quase um sussurro.

—Por que não? — perguntei, agora sentindo uma confusão crescente.

—Era para ter me deixado morrer — ele disse, sua voz soando amarga.

—Zyan, não estou entendendo. Você deveria estar feliz — disse, sentindo-me cada vez mais confusa.

—Feliz? — Ele riu amargamente. — Você não entende mesmo, não é?

Eu tentei me aproximar, mas ele se afastou, seu corpo tenso e angustiado.

—Consegue imaginar o que é ficar preso por mil anos, sozinho, sentindo o tempo se arrastar lentamente enquanto você permanece no mesmo lugar? Eu fui apagado da história, esquecido pelo tempo. Tudo que eu conhecia, tudo que eu mais amava, desapareceu. Fui arrancado do meu tempo, da minha vida, e jogado nessa maldita ânfora para perecer — suas palavras saíram como um grito de dor. — Você consegue imaginar a angústia de viver assim, perdido na escuridão? Tive que me agarrar às memórias do passado, às lembranças que eu tinha, para manter minha sanidade. E mesmo assim, às vezes me pergunto se ainda sou humano, se ainda possuo uma alma. Preferia estar morto do que ter que suportar essa solidão por mais uma noite nesse lugar.

O desespero na voz de Zyan era palpável, e suas palavras me deixaram com um aperto no coração. Era difícil imaginar como ele se sentia, mas eu podia ver que sua solidão era insuportável.

—Zyan, eu sinto muito— disse, observando-o com atenção.— Se eu puder te ajudar... — comecei a dizer, antes de ser interrompida.

—Me ajudar?— ele perguntou, sua voz cheia de tristeza.—Ninguém pode me ajudar agora, Adhara. Eu estou condenado a essa cina miserável pelo resto dos meus dias.

Eu não sabia o que dizer. Tudo o que eu podia fazer era ficar ali, olhando para ele com compaixão e tristeza. O clima pesado continuava, e eu me sentia cada vez mais desconfortável com aquela situação.

A ÂNFORA MÁGICA Where stories live. Discover now