No calor da noite

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Na manhã seguinte fui despertada por um forte estrondo, seguido de passadas largas vindas em minha direção. Com a visão ainda turva, olhei na direção da porta, e estremeci ao encontrar um rombo onde deveria estar a fechadura.

Como foi que ele fez isso?

—Venha comigo! — ordenou o príncipe, ao parar diante de mim.

Enquanto eu lutava para colocar meus pensamentos em ordem, percebi que ainda estava escuro lá fora. Como isso era possível? Eu havia passado horas chorando antes de finalmente pegar no sono, e agora parecia que apenas alguns minutos haviam se passado. Estava tonta e confusa, incapaz de raciocinar claramente.
Alheio à minha confusão, o príncipe caminhou em direção à porta, mas quando viu que eu não o seguia, ele se voltou para mim.

—O que você está esperando? Levante-se!— exclamou ele, impaciente.

Suas palavras me atingiram como um meteoro, despertando uma fúria incontrolável em meu ser.

Quem ele pensa que é pra falar comigo dessa maneira?

Se tinha uma coisa que havia aprendido com meu pai, era nunca me submeter diante de homens arrogantes. E se ele pensava que eu iria abaixar a cabeça e aceitar isso, estava muito enganado. Meus olhos brilharam com a intensidade de uma estrela em colapso e senti a adrenalina irradiando em meu peito.

—Escuta aqui, seu grosso—disse, ao me levantar e encará-lo firme nos olhos—, eu não vou a lugar nenhum com você!

—Sendo assim, acho que não me resta outra escolha— ele sorriu de forma resignada e quando dei por mim um braço forte me agarrou pela cintura e fui erguida. Meu mundo pareceu girar 360 graus e eu gritei ao ser jogada sobre seu ombro forte.

—O que pensa que está fazendo? Me solta! — ordenei enquanto me debatia em seu ombro.

Ignorando-me completamente, ele caminhou comigo para fora do quarto e desceu pelas escadarias.
Assim que chegamos do lado de fora, notei os palácios imponentes ao redor e me perguntei se haveria alguém que pudesse me ajudar.

—Socorro— gritei, mas minha voz ecoou vazia pela cidade.

—Poupe seus esforços, não há ninguém por aqui, além é claro, de nós dois— respondeu o príncipe, enquanto continuava seu trajeto. Eu me debatia, tentando me soltar de seu aperto, mas era inútil. Ele só me soltou quando já estávamos além dos portões da cidade.

—Seu abusado, mantenha suas mãos bem longe de mim—Berrei, desferindo um belo de um tapa em sua face.

Dirigindo-me um olhar perplexo, ele levou uma das mãos até o local atingido. Um forte rubor subiu pelo seu pescoço e percorreu toda a extensão do seu rosto até que, por fim, deteu-se em seu olhar, incendiando-o. Contraindo seu maxilar, seus punhos se fecharam e os músculos de seus braços pareceram ganhar mais volume.

—Como ousa...—explodiu ele, seu olhar queimando minha pele, enquanto avançava pra cima de mim lentamente, como as larvas de um vulcão em erupção. Engolindo a seco, coloquei as mãos diante do corpo e comecei a recuar alguns passos, no entanto, acabei tropeçando em alguma coisa e caí. A princípio, achei que seria completamente consumida por aquela força da natureza, porém, parecendo avaliar melhor a situação, ele sacudiu a cabeça e em seguida me deu as costas.

Aliviada, deixei escapar um longo suspiro.

Enquanto isso, o príncipe retirou uma flauta de seu traje e a soprou. De repente, uma luz iridescente começou a cintilar no horizonte, chamando minha atenção. Olhando mais de perto, percebi que se tratava da serpente que havia me atacado anteriormente.

A ÂNFORA MÁGICA Where stories live. Discover now