Lotus do dragão

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Engolindo em seco, desviei o olhar, enquanto tentava recuperar a compostura. Foi quando pude ver com atenção o cenário que se desenrolava abaixo de nós. A passagem havia se aberto para uma escadaria longa e sinistra, que descia em direção às profundezas. As paredes eram úmidas e escuras, e o ar parecia mais pesado ali. Percebi que a queda era vertiginosa e que as areias ao redor da passagem caíam em cascata, obscurecendo tudo abaixo. Uma onda de medo tomou conta de mim e eu estremeci diante do desconhecido.

-Vamos em frente - disse Zyan, ainda parecendo desorientado pelo que havia acontecido, enquanto me entregava o cordão. Assenti e o segui enquanto ele liderava o caminho. A tensão só aumentou à medida que descíamos. As únicas fontes de luz eram as das pedras brilhantes que revestiam as paredes. O silêncio era opressivo, interrompido apenas pelo som de nossos passos ecoando ao redor. Eu estava nervosa e me perguntava o que nos aguardava no final da descida.

Finalmente, após uma descida que pareceu interminável, chegamos ao final da escadaria. Uma porta imensa de pedra bloqueava nosso caminho, coberta por estranhas inscrições que pareciam pulsar com uma luz sinistra. O príncipe parou diante da porta e respirou fundo, parecendo reunir toda a coragem que possuía antes de empurrá-la com um esforço hercúleo. A porta se abriu com um estrondo, revelando uma passagem estreita e escura. A escuridão era densa e sufocante, mas um brilho fraco podia ser visto no final do túnel. Sem hesitação, o príncipe avançou pela passagem, e eu o segui de perto incerta sobre o que esperar. No final da passagem nos deparamos com um enorme salão. O espaço era imenso, com fileiras de colunas de pedra se estendendo por toda a sua extensão. As tochas espalhadas pelo salão iluminavam apenas parte da estrutura, projetando sombras estranhas e ameaçadoras sobre as áreas não iluminadas. A escuridão parecia se esconder em cada canto, como se esperasse o momento certo para atacar. A tensão no ar era palpável, e cada passo que dávamos ressoava pelo salão vazio, como se estivéssemos incomodando o silêncio sepulcral do lugar.

Nesse instante, meus olhos foram atraídos para a grande estátua no centro do salão. Ela era majestosa, em forma de dragão chinês, deslizando espiralmente como se estivesse descendo do céu. A estátua era tão grande que parecia tocar o teto do salão, e sua cauda enrodilhava-se ao redor da estrutura abobadada como se fosse parte dela. Cada detalhe da escultura era incrivelmente preciso, desde as escamas que revestiam o corpo até as garras afiadas que pareciam prestes a arrancar o chão de pedra. À medida que nos aproximávamos da estátua, pudemos ver que ela estava coberta por uma fina camada de poeira, como se não tivesse sido tocada por anos. Mas isso não diminuía sua beleza ou presença imponente.

-Isso é incrível-disse o príncipe, sua voz ecoando pelo salão. -Eu nunca vi nada parecido.

Caminhamos devagar pelo salão, explorando as formações estranhas e tentando compreender a grandiosidade do ambiente. Foi então que notei que a boca do dragão apontava diretamente para a única passagem disponível, deixando um pressentimento sinistro tomar conta de mim. Comecei a me perguntar o que nos esperava do outro lado do portal, sentindo um arrepio percorrer a minha espinha. Havia um par de tochas dispostas em cada lado do portal. Recolhendo-as o príncipe entregou uma pra mim e seguimos pela passagem escura.

-Fique atrás de mim- alertou Zyan enquanto seguia na frente a passos cautelosos. A passagem era bastante escura e a única iluminação disponível vinha das tochas que segurávamos, o que fazia com que as sombras tomassem formas estranhas e ameaçadoras. As paredes lisas e altas do corredor apresentavam uma sequência de estátuas em forma de cabeça de dragão, que se estendiam pelo seu interior. As chamas das tochas refletiam em seus olhos, dando a impressão de que os dragões estavam observando nossos movimentos. Zyan seguia na frente com cautela, fazendo questão de ficar entre mim e o desconhecido. Seu comportamento me deixava um pouco nervosa, mas eu confiava nele. Caminhávamos em silêncio, apenas o som dos nossos passos e o crepitar das chamas das tochas nos acompanhavam. Alguns passos depois, conseguimos avistar a saída. Enquanto o seguia, notei que a escultura de cabeça de dragão à minha direita havia se deslocado, deixando um desnível em relação às outras.

A ÂNFORA MÁGICA Where stories live. Discover now