Capítulo 8

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SEBASTIAN WERDEN

A luta de hoje é em uma academia decrépita de boxe. A estrutura está caindo aos pedaços, a única área com algum tipo de manutenção é o ringue no centro do salão e ainda assim os materiais já viram dias melhores.

O lugar está cheio. A multidão preenche praticamente todos os espaços. Daqui consigo ver onde estão fazendo as apostas, as pessoas com os braços erguidos segurando dinheiro e certamente gritando quem ganhará a próxima luta. O barulho é quase ensurdecedor, muitas pessoas falando ao mesmo tempo e com a música alta para completar.

Tudo o que estou vestindo quando passo pelas cordas do ringue é um short de treino. Os espectadores gostam de sujeira, estão aqui pela pancadaria e quanto mais sangue derramado melhor.

Para mim, é um antiestresse muito eficiente. Após o perdão dos Brachmann eu estava perdido, não havia alguém para cuidar de mim ou a quem pudesse recorrer. Eu havia recebido permissão para continuar vivo, mas eu não encontrava muito sentido nesse "privilégio". Foi quando comecei a frequentar as áreas mais violentas da cidade e descobri sobre as lutas clandestinas.

Uma maneira rápida de conseguir dinheiro fácil.

Usei o treinamento vagabundo que havia recebido antes como vantagem para ganhar algumas das minhas primeiras lutas, assim como também apanhei feio dos lutadores mais experientes. Tudo serviu de aprendizado e incentivo para me aperfeiçoar. Eu precisava me manter e dinheiro era muito necessário para isso.

Alguns meses depois os Brachmann enviaram os seguranças para me procurar. De alguma forma eles souberam das lutas e viam potencial para que eu me tornasse verdadeiramente útil. Eu teria algum respeito e, o mais importante na época, receberia dinheiro suficiente para sair do quarto minúsculo e decadente em que eu morava. 

Eles me permitiram continuar vivo, mesmo que não parecesse muita vantagem na época. Os irmãos Brachmann tinham minha gratidão e lealdade. Eu aceitei o trabalho e desde então sou enviado para machucar ou matar as pessoas que os incomodam. A violência é uma velha conhecida, sempre presente na minha vida e se manifestando de maneiras diferentes.

Com o tempo me acostumei a estar na escuridão, a representar o mal, estar cercado por dor e sofrimento. Eu me tornei digno do medo, do suplício por misericórdia e mensageiro da morte. Todos os que fazem negócios com a Organização e conhecem os Brachmann sabem que devem seguir as regras e pagar o que devem ou eu serei enviado.

Meus pensamentos são interrompidos quando o cara enorme passa pelas cordas. Dizer que ele é um gigante seria eufemismo. O homem facilmente passa dos dois metros de altura e há uma grossa camada de tecido adiposo me separando de seus órgãos . Se eu quiser derrubá-lo rápido, preciso evitar o tronco e focar em áreas mais nervosas, como a cabeça.

Dificulta que ele seja cerca de vinte centímetros mais alto que eu, mas não torna impossível.

Dou pequenos pulos para me preparar enquanto o homem, por motivos desconhecidos, urra para mim. O público parece gostar de sua performance, já que gritos, apalusos e até assobios perpassam a música incômoda. Faço uma checagem visual rápida na plateia ao redor, quase em modo automático, mas meus olhos fixam em um taço de cetim branco prendendo a ponta de uma trança perto do ringue.

Uma trança ruiva.

O boné preto que a mulher está usando omite seu rosto de mim pelo ângulo em que estou, a iluminação débil pode não ajudar também, mas não há muitas ruivas com laços de cetim por aí, especialmente em um lugar como este.

A irritação me percorre como um raio. Estou pronto para ir até ela e descobrir que merda está fazendo aqui quando a música é desligada e a buzina soa alto, indicando que é hora de começarmos o confronto.

Meu adversário foi rápido em atravessar o ringue, eu preciso reconhecer isso. Entretanto, apenas um idiota ousaria me enfrentar tão abertamente. Nunca o vi por aqui e ouso julgar sua atitude como erro de principiante, mas eu não me mantive lutando por tantos anos para cair tão rapidamente.

Desvio de seu soco com facilitade e recuo até a esquerda do ringue. Ele caminha até mim com os olhos semicerrados e bufando de raiva. Não sei o que ofereceram a este garoto antes de colocá-lo aqui. Contudo, posso assegurar que pretendo entreter o público e não me atreveria a acabar com a luta tão depressa.

O novato tenta acertar mais soco e a multidão grita quando desvio e soco sua região do fígado. Seus olhos esbugalham e ele se curva um pouco. Eu, em contrapartida, recuo até o outro lado do ringue novamente. Aproveito o tempo que ele leva para se recuperar e procuro pelo laço branco.

A princesa tem o rosto virado em minha direção quando a encontro, mesmo que seu boné faça sombra sobre seus olhos, sei que ela está me observando. Arqueio uma sobrancelha para ela e sua boca se abre como uma espécie de aviso. O grande homem está pronto para continuar.

— Você é um cara morto, irmão! — Fala enquanto marcha em minha direção.

Me viro com velocidade e acerto-lhe um chute em que meu pé encaixa perfeitamente na mesma área em que soquei instantes atrás. Acertar a região do fígado é a estratégia mais segura, rouba o ar do adversário e o impossibilita de prosseguir com o ataque por um tempo, resultando em um bom tempo de vantagem para fugir ou nocautear.

— Eu não sou seu irmão. — Respondo ao decidir investir contra ele e acabar com a luta. Já estou impaciente.

Acerto meu punho com força em seu queixo, observando como seus olhos se fecharam, as pálpebras tremeram e ele tombou para trás como um tronco de árvore abatido. Quando seu corpo caiu contra a lona velha o público vibra. Não houve o espéculo de sangue com o qual todos estão acostumados, mas foi interessante.

Busco pelo boné preto novamente, mas dessa vez o que encontro são os cabelos ruivos iluminados pela parca luz, seus olhos de esmeralda estão arregalados e um filho da puta está atrás dela com seu boné em uma mão.

Sem pensar, caminho pelo ringue em sua direção e sinto minha frustração ser substituída por raiva pura quando consigo ver a outra mão do desgraçado agarrando um dos seios de Lara por cima de sua blusa. Ela se vira e o empurra para longe, gritando algo para ele, mas nada pode me parar agora. Estou pronto para acrescentar mais uma mão a minha coleção pessoal de membros decepados.

A Artista - Série Mafiosos 0.5Where stories live. Discover now