Capítulo 1

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LARA BRACHMANN

Observo pela janela os seguranças abastecerem os carros com todas as malas enquanto minha família distribui beijos e abraços de despedida. O momento mais aguardado chegou e eles estão a caminho da Itália para iniciar meu primo Matteo na Famiglia. O que o herdeiro da Organização alemã está fazendo com os italianos ninguém entende muito bem, mas a mãe dele é italiana e exigiu que ele passsasse por esse momento. Ela disse que é importante.

A Iniciação, é como chamam.

Dizem que é muito cruel, que vidas são perdidas no processo e que os meninos são tratados como cães de briga para se tornarem homens fortes. Nunca entenderei a vontade de se expor a violência sem necessidade, mas quem sou eu para condenar quando meu irmão irá na viagem para acompanhar tudo de perto? Simon parecia mais empolgado que o próprio Matteo e eu não ficaria surpresa se ele tivesse pedido autorização aos nossos pais para ser iniciado também.

Com a viagem do Chefe, meu pai assume as obrigações da Organização inteiramente. O que significa que nossa casa duplicará de seguranças, a vigilância será fortificada e me sentirei vigiada em tempo integral. Uma das felicidades de nos mudarmos da casa principal era a privacidade, mas sempre há esses momentos em que me sinto como um estudo de laboratório com todos me observando quando meu tio deixa a cidade.

— Você não parece muito feliz. — A voz da minha avó chama minha atenção.

— Não entendo como alguém escolhe ser torturado.

— Muitos não entendem. — Seu sorriso é gentil, apesar dos olhos frios e clínicos. — As dores fazem parte do processo. Quanto mais longe quiser chegar, mais dores terá de suportar.

— Talvez eu compreendesse melhor se fosse mais parecida com a senhora ou com a tia Melissa.

— Sua bondade é sua melhor arma, Lara. — Minha avó oferece sua mão e eu a aceito de bom grado, permitindo que ela nos guie escadas abaixo.

Tenho uma natureza reclusa. Prefiro estar em casa, trancada no meu estúdio de pintura ou na sala de música. Não gosto de frequentar as festas da Organização ou me aventurar demais por algumas áreas da cidade, gosto de me sentir segura e protegida. Nas festas, mesmo com a presença da minha família, as pessoas me olham com interesse demais para ser ignorado, sempre perguntam ao meu pai quando ele encontrará um marido para mim e as propostas aparecem aos montes. Ficar em casa é melhor.

Quando estamos no lado de fora rapidamente entro na fila de beijos e abraços, desejando uma boa viagem e pedindo atualizações dos acontecimentos. Apesar de compreender as tradições italianas, respeito a vontade de tia Melissa em manter suas origens presentes na vida dos filhos de alguma forma.

— Fique longe do meu quarto! — Simon ordena quando é a minha vez de abraçá-lo.

— Não há nada que me interesse lá. — Respondo com tranquilidade.

Meu irmão também é ruivo, assim como eu e nossa mãe. Ellie não é minha mãe de sangue, mas me criou como se fosse. Ela e Simon tem os cabelos ruivos em uma tonalidade bem forte, o clássico ruivo alaranjado/avermelhado, enquanto o meu é alguns tons mais claro. Não é por acaso que meu pai costuma falar que sua vida é definida em "Luke e os ruivos".

É difícil ter um irmão caçula no auge da adolescência, comandado pelos hormônios, adquirindo uma aparência mais madura e ainda agindo como uma criança implicante. Parte de mim torce para que isso passe com a idade, mesmo sabendo que essa implicância é natural do meu irmão e provavelmente o acompanhará até a morte.

— É melhor eu me manter paciente ou retornarei como filha única. — Bella, filha do tio Adam e da tia Melissa, resmunga para si enquanto eu me aproximo para me despedir. 

— Pense nas vantagens de ter um irmão. Não são muitas, mas elas estão lá. — Abraço.

Grazie, Lara. Eu usarei esse conselho.

— A Bella vai no banco do meio! — Matteo fala correndo para o carro.

— Não! — Bella grita e corre atrás do irmão. — O Simon é o mais novo, ele vai no meio!

— Eu não gosto de sentar no meio! — Meu irmão corre atrás dos primos.

— Eu sou a mais velha! — Bella esbraveja.

— É melhor eu coordenar a briga antes que alguém se machuque. — Tia Melissa fala antes de ir atrás dos adolescentes.

— Espero que fique bem, querida. — Tio Adam fala ao se aproximar de mim. 

— Eu ficarei, não se preocupe. — Sorrio quando ele deposita um beijo em minha testa.

— Sempre estarei a uma ligação de distância.

— Obrigada! Eu digo o mesmo.

— Fique de olho no seu pai, ele se estressa muito fácil.

Solto uma pequena risada e o abraço. Meu pai e meu tio tinham muitos problemas quando eu era criança, mas isso nunca impediu Adam Brachmann de me dar todo o amor e atenção que eu precisasse. Com muita intervenção da tia Melissa e da minha mãe, os dois se acertaram com os anos.

Me afasto e me acomodo ao lado dos meus pais e da minha avó enquanto acompanhamos todos se acomodarem nos carros e partirem. É quando o último carro de escolta sai que meus olhos o encontram do outro lado do jardim, perto de alguns arbustos, o rosto sério como sempre, Sebastian Werden.

O executor dos Brachmann.

Ele nunca veste terno como os outros da segurança, no máximo uma calça social preta como a que ele está usando hoje. Uma blusa de manga longa preta, sapatos sociais e é isso. Nada de terno ou gravata.

Ele tem um corte recente no nariz, o tornando ainda mais ameaçador. Com cavanhaque e barba curtos, cabelos castanhos escuros, assim como os olhos, pele bronzeada e as muitas tatuagens, Sebastian é o tipo de homem que não precisa falar ou fazer algo para se mostrar perigoso. Apenas sua presença é o bastante.

— Por que o executor está aqui? — Pergunto baixinho para a minha avó.

— Seu pai o quer fazendo a segurança enquanto todos estão fora. Ele acompanhará você e sua mãe para casa.

— Ele nunca fez esse tipo de coisa. Há algo mais acontecendo?

— Eu também achei estranho, mas até agora eu não soube de nada que nos cause preocupação.

— Tudo bem.

Sebatian, ou apenas Werden como todos se referem a ele, tem sido minha paixão platônica por um longo tempo. Ninguém sabe sobre sua história, seu passado ou sua família. A verdade é que apenas meu pai e meu tio sabem alguma coisa sobre ele. Eu não dizer o que prende minha atenção nele, ele é bonito de uma maneira diferente, tem uma aura escura ao seu redor e ostenta uma pose de inabalável.

Eu não sei explicar.

A Artista - Série Mafiosos 0.5Where stories live. Discover now