Capítulo 32

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LARA BRACHMANN

— Ela está acordando. — Ouço alguém dizer e logo em seguida passadas rápidas se aproximam de mim.

— Ai, minha cabeça! — Coloco a mão em minha têmpora e forço meus olhos a se abrirem.

Leva alguns instantes para me acostumar a claridade e mais um tempinho precioso para que meu cérebro reconheça o lugar onde estou. Minha mãe está sentada de um lado da minha cama e a minha avó do outro. A decoração branca e rosa delata que estou em meu antigo quarto na casa principal da família.

— Aqui, querida. — Minha mãe pega um copo de água em minha mesa de cabeceira para me oferecer. Me sento na cama com um pouco de dificuldade, sinto que minha energia foi drenada e não tenho a mínima ideia de como cheguei em casa. Eu só me lembro de estar na van.

— Obrigada.

— Como está se sentindo? — Minha avó pergunta.

— Cansada. — Bebo um longo gole de água e mantenho o copo em minhas mãos. — Como eu cheguei aqui?

— Werden lhe trouxe. — Minha avó informa. — Ele perseguiu a van e conseguiu abater os sequestradores.

— O médico já te visitou e disse que você ficará bem. — Minha mãe fala. — Não há indício de que você recebeu alguma substância perigosa. Agulhas são sempre um problema.

— Eu só lembro de colocarem um pano no meu rosto.

— Você está segura agora, querida. — Acaricia a minha perna.

— E o meu pai? — Pergunto.

— No escritório, gritando como um louco ao telefone. — Vovó dá de ombros. — Ele está nervoso, todos ficamos assustados.

— Onde está Sebastian? Ele está com o meu pai?

— Não. — Minha mãe segura a minha mão. — Ele não está aqui.

— Ele foi ferido?!

— Não! De maneira alguma. Ele é um homem experiente, sabe se cuidar. Ele está no centro, com os outros, cuidando da bagunça.

— Eu gostaria de vê-lo.

— Suponho que levará algum tempo.

— Seu tio está retornando. — Minha avó fala. — Ele quer te ver.

— Eu estou bem! Ele não precisa antecipar a volta para casa. A iniciação ainda não acabou.

— Ele deve retornar para o encerramento, mas você sabe como os homens dessa família podem ser teimosos. Seu tio não descansará até que verifique por si mesmo que você está bem.

— Foi um dia difícil. — Minha mãe se levanta e beija a minha cabeça. — Trarei uma comida leve para você. É melhor que descanse.

— Obrigada, mãe.

— Você está bem? — Minha avó me pergunta, me analisando com seu olhar atento.

— Ainda assustada. Não é uma experiência que eu queira repetir.

— Não irá. — Me assegura. — Ninguém ousará tocar em você outra vez.

Aceno em concordância, incapaz de comentar sua afirmação. Não tenho a convicção da minha avó neste momento. Não consigo colocar em palavras o pânico que senti enquanto era forçada a entrar naquela van. Minha luta para escapar ainda é muito vívida em minha cabeça e saber que Sebastian me salvou e que não vi nada acontecer é angustiante. Parece que um pedaço da minha memória foi tomado de mim.

A porta do meu quarto é aberta e meu pai entra praticamente andando na ponta dos pés para não fazer barulho. Seu cabelo está bagunçado, como se ele tivesse passado as mãos muitas vezes por ele e até puxado os fios. Sua blusa está amarrotada e ele parece cansado, como se o dia de hoje durasse um mês inteiro.

— Ela está acordada? — Pergunta baixinho para a minha mãe, que aponta em minha direção.

Quando os olhos do meu pai pousaram em mim, seu suspiro foi tão aliviado que pude ver seus ombros recuperarem um pouco da amplitude. Parte do peso que ele carregava se foi. Sorri para ele e dei batidinhas ao meu lado, convidando-o para se aproximar.

— Deixaremos vocês a sós. — Minha avó fala com um sorriso no rosto e acompanha minha mãe até a saída, fechando a porta atrás delas, dando-nos privacidade.

— Como você está, Estrelinha?

— Precisando do senhor. — Inclino minha cabeça para o lado da cama e me afasto para que ele se aproxime e se acomode, mas meu pai permanece longe.

— Eu lamento muito pelo que aconteceu hoje.

 — Não foi sua culpa, pai. Sempre soubemos que isso poderia acontecer e por mais que tenhamos ensaiado muitas e muitas vezes, a realidade é sempre inesperada e bastante apavorante.

— Eles te machucaram de alguma forma? — Dá alguns passos hesitantes em minha direção.

— Ninguém é corajoso o suficiente para machucar a filha de Luke Brachmann.

Meu pai ri e finalmente elimina nossa distância, se sentando ao meu lado na cama e esticando sua pernas, mantendo os pés para fora do colchão. Eu me aproximei mais e ele me abraçou, deito a cabeça em seu ombro e inspiro seu cheiro. Posso estar um turbilhão de emoções dentro da minha cabeça, mas nada no mundo me traz tanta segurança quanto estar com o meu pai.

— Alguém foi corajoso o suficiente para te pedir em casamento.

— O filho dos Becker? — Provoco. Dou uma risada pelo som de desprezo que ele faz.

— Você sabe a quem estou me referindo.

— Estou apaixonada por ele, pai.

— Há muito tempo, eu sei.

— Como o senhor sabe?

— Você o observava muito pela janela.

— Assim como o senhor fazia com a minha mãe. — Sorrio e movo minha cabeça para o seu peito, escutando as batidas de seu coração e me acalmando. — Sabia que a vovó detesta esse nosso hábito?

— Sua avó é maluca. Devemos mesmo considerar a opinião dela?

— Pai! — O repreendo e ele ri.

— Sebastian é o homem certo para você.

— O senhor tem certeza disso?

— Você tem?

— Tenho.

— Eu também! Ele provou seu valor hoje, mais uma vez. Você é meu bem mais precioso, a estrela que ilumina o meu mundo, não é qualquer homem que saberia te valorizar como deveria.

— O senhor o ameaçou com uma arma, não foi?

— Eu não perderia a oportunidade! — Sua resposta me arranca uma risada alta. — Ele se manteve firme sobre o que queria. Não conte para ele, mas eu admiro a coragem.

— Eu te amo, papai.

— Eu também te amo, Estrelinha. — Beija minha cabeça e apoia seu queixo no alto da minha cabeça, me abraçando apertado. — Eu também.

A Artista - Série Mafiosos 0.5Where stories live. Discover now