Capítulo 19

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LARA BRACHMANN

Estou no meu ponto favorito do andar superior para observar os jardins da frente. Vejo quando a entrada de Sebastian no portão é liberada e ele pilota sua moto pelos jardins com uma bolsa média de viagem em suas costas. Ele nunca trouxe bolsas assim para cá, o que significa que algo mudou durante seu encontro com o meu pai no escritório.

— Esse é um hábito que você herdou do seu pai. — Minha avó fala e me viro para olhá-la, encontrando-a parada no corredor, perto das escadas.

— O que?

— Observar pelas janelas. — O sorriso em seu rosto é singelo, quase tímido, o que é notável se considerarmos que ela é Verena Brachmann. Vovó não possui uma única veia tímida em seu corpo. — Lembro do seu pai fazendo muito isso quando era criança e não mudou à medida que ele envelheceu.

— É apenas um hábito. — Dou de ombros, retornando minha atenção para o jardim, onde Sebastian está conversando com Fagner, a bolsa de viagem em seu ombro.

— Um hábito que vocês dois praticam da mesma maneira. — Ouço seus passos calmos se aproximando de mim. — Eu não os condeno. Observar sabendo que ninguém percebeu passa uma sensação de poder e controle.

— Por que sinto que a senhora tem algo a me dizer e não tem nenhuma relação com o meu hábito de olhar pela janela?

— Você é realmente minha neta. — Seu sorriso confiante e orgulhoso finalmente aparece quando ela se junta a mim na janela. — Outro cassino foi atacado. Seu pai suspeita que os atacantes estão a caminho de Munique e ordenou que o Executor fique aqui em tempo integral.

— Meu pai não me contou nada a respeito.

— Regra de sobrevivência número um na Organização, querida: Tenha suas próprias informações, não espere que elas cheguem até você.

— Qual a necessidade de Sebastian estar aqui em tempo integral?

— Sebastian? — Arqueia uma sobrancelha para mim.

— O Executor. — Me corrijo com um revirar de olhos.

— Você sabe que seu pai sempre a verá como uma garotinha indefesa. Ele quer alguém te protegendo já que ele não está aqui, alguém que ataque sem hesitar e mate sem questionar.

— Falando assim, Werden parece um soldadinho de chumbo do meu pai.

— E no fundo não somos todos? Werden pode ter uma linha de trabalho alternativa, mas ainda é extremamente fiel ao seu pai ou nunca teria pisado aqui.

— Não é novidade para mim estar cercada pelos homens de confiança do meu pai.

— Algum deles ousou descumprir sua vontade e entrar na casa? — Minha avó sorri de repente, como se risse de uma piada que apenas ela sabe. — Werden é um homem singular.

— A senhora se lembra de quando ele começou a trabalhar para os Brachmann?

— É claro. Eu não estava presente na casa e não interagia muito com seu pai ou com seu tio, mas como eu disse, é importante ter suas próprias informações e todos comentavam sobre o julgamento de um adolescente que havia matato os pais durante a madrugada. Foi um escândalo.

— Ele matou apenas o pai, não a mãe.

— Sim, isso se soube depois. Tudo aconteceu muito depressa. Foi uma madrugada tórrida, pelo que eu soube.

— Ele nunca se interessou em assumir o cargo da família?

— Não, ele estava ocupado tentando se manter vivo. O tio reinvindicou o cargo e exigiu que Werden fosse morto. Você sabe, toda essa coisa de justiça para a vítima, mesmo que o pai dele não tivesse nada de vítima.

— Eu não sabia que havia alguém exigido a cabeça dele.

— Werden precisou desaparecer por um tempo, aprender a se cuidar sozinho antes que fosse chamado para ser o Executor. Ironicamente um de seus primeiros trabalhos foi assassinar o tio, o idiota estava tentando nos roubar.

— Como ele consegue parecer tão inteiro depois de tudo o que passou?

— Com o tempo você se acostuma a companhia constante da morte. Nos tornamos muito amigas quando eu ainda era casada.

— Eu lamento tanto por isso, vovó.

— Não lamente, querida. Lamentar não resolve os problemas e toda experiência tem alguma serventia.

— Qual foi a sua?

— Descobrir que sou muito mais resistente do que eu pensava. — Minha avó acaricia meu ombro. — Não sei como chegamos a um assunto tão trágico, mas acho necessário para o seu julgamento.

— Sobre o que?

— Werden, é claro. Você está interessada nele, querida. Isso é mais que óbvio para mim. Eu só quero que tenha certeza no que está entrando caso resolva se envolver mais com ele.

— Mais?!

— Lara, os homens são lerdos, por isso são tão fáceis de manipular, mas você não pode esperar esse tipo de comportamento da sua avó! Werden, ou melhor, Sebastian, não teria aquela reação enciumada sobre o jantar com o Becker se vocês não tivessem algum tipo de envolvimento.

— Vovó! — Sinto meu rosto inteiro esquentar.

— O que? Estou tentando te ajudar aqui. Já pensou qual seria a reação do seu pai quando descobrisse? Werden ainda é o homem de confiança dele! Eu já posso ouvir os sinos da igreja.

— Papai não obrigaria Werden a se casar comigo!

— Você duvida? Querida, essa é a máfia. Tudo acaba em guerra ou casamento.

— Eu não sou um produto puro, vovó. A senhora sabe disso.

— Sua mãe é Amélie Brachmann, não há necessidade de você remoer um passado há muito esquecido e superado. Quanto à outra questão, nós não estamos na Itália.

— Eu ainda me sinto mal sobre isso.

— Querida. — Vovó segura a minha mão e observa Werden e Fagner ainda no jardim. — A pessoa certa nunca te condenará pelo seu passado, seja pela sua genitoria ou por qualquer outra questão. Você não teve culpe de nada, deve se lembrar disso.

— Eu compreendo.

— Nós precisamos admitir que Werden tem uma motocicleta muito legal. — Muda o assunto, evitando aumentar meu desconforto. — Além de ser um tremendo gostoso!

— Vovó!

— O que? Eu sou uma mulher solteira e desempedida! Tenho necessidades.

— Mesmo na sua idade? — A provoco.

— Oh, minha querida. Quando você sabe brincar, nunca perde a graça!

A Artista - Série Mafiosos 0.5Donde viven las historias. Descúbrelo ahora