Capítulo 21

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LARA BRACHMANN

— Nota oito. — Minha mãe fala assim que saio do provador. — É bonito, mas não acho que causa o impacto que você merece.

Caminho até o espelho mais próximo para admirar o modelo. É um vestido verde militar, com uma saia drapeada e mangas levemente volumosas. É modesto e romântico, no estilo de roupa que costumo usar em meu cotidiano, mas não é o que estou procurando.

— Não gosto desse. — Me viro para observar as costas fechadas do vestido. — Acho que não quero algo tão recatado para esse jantar.

— Tudo bem. — Minha mãe coloca sua bolsa de lado e dá leves batidinhas no sofá. — Vamos conversar um pouco, meu amor.

— Algo de errado? — Pergunto ao me acomodar onde ela havia indicado.

— Eu sinto que sim, mas gostaria que você me dissesse.

— Não sei do que a senhora está falando.

— Eu sou sua mãe, não pense que pode me enganar. Eu não sou como o seu pai que basta um bater de cílios para o assunto ser esquecido. Há algo te incomodando.

Sim, Sebastian Werden.

O estou ignorando há três dias e ainda há esse jantar bobo na sexta-feira. Eu não quero ir a esse encontro com os Becker, não quando posso estar em casa usando minha tristeza como fonte de inspiração. Eu não sei se fiz o correto ao confessar meus sentimentos para Sebastian, mas não sou capaz de viver com migalhas. Meus sentimentos por ele estão se fortificando e me contentar com um envolvimento ou com algum tipo de "amizade" não é para mim.

Eu não poderia continuar.

Nunca quis ser o hobbie ou o passatempo de alguém, não há motivos para começar agora. Busco por um parceiro, um homem compreensível e amoroso que se interesse por mim, não pelo que a minha família pode oferecer. Tenho uma paixão secreta por Sebastian há anos e sim, posso ter me precipitado em relação ao nosso envolvimento e os sentimentos que surgiram a partir disso.

Eu não preciso ser mantida às escondidas como um "segredinho". Meu pai nunca fez isso e ele teve muitas razões para tal, por quê eu deveria aceitar menos? Papai sempre me mostrou como devo ser amada e valorizada, mesmo com o passado de minha genitora me perseguindo enquanto crescia.

Não posso obrigar Sebastian a ter sentimentos por mim ou colocá-lo em um relacionamento à força, assim como eu não preciso me submeter a uma situação em que não me sinto confortável por migalhas de atenção, fantasiando um compromisso que pode nunca acontecer.

A sinceridade dele doeu, meu orgulho e meus sentimentos estão feridos, mas sou grata por ele não me enganar. Agora cabe a mim ser franca comigo mesma e decidir quanto do meu futuro e bem-estar eu gostaria de apostar em uma incerteza. A resposta é que não quero me arriscar no primeiro lance.

Tudo começa no primeiro lance, exatamente como nos jogos dos cassinos.

— Quero explorar algo novo. — Dou de ombros. — É um jantar social e não quero parecer uma menininha protegida pelo pai. Quero sentir que tenho o controle de alguma forma e a maneira como me apresentarei é muito importante.

Como uma pintura. O primeiro olhar é o que direciona as impreesões do expectador sobre a obra e para despertar os sentimentos desejados, o artista precisa pensar com cuidado nas cores que usará, a estética abordada e até nos tipos de traço utilizados.

— Ninguém está pedindo que aceite a proposta dos Becker, meu amor. Pense que são convidados a serem recepcionados, como quaisquer outros.

— Esse é o problema, mãe! Tenho pensado muito sobre a maneira que lido com essas questões. — Sou cuidadosa com as palavras para não citar a Organização em um ambiente em que qualquer um pode ouvir. — As pessoas sempre falarão sobre mim, não importa o que eu faça ou deixe de fazer. Mesmo que eu me sinta muito bem com o amor, o carinho e a proteção da minha família, não quero que as pessoas me vejam para sempre como uma menina que estará eternamente se escondendo atrás do pai.

— Eu entendo.

— Tudo sobre esse jantar será comentado no meio e boatos surgirão. Eu não quero parecer uma princesinha encatada que esperou até o cavaleiro Becker salvá-la.

— Quer passar uma imagem ousada como a sua avó?

— Ou como a tia Melissa.

— Eu apoio que você explore novos visuais desde que não tente parecer alguém que você não é. Não estou dizendo que você não é forte ou independente como sua avó e sua tia, mas você não é como elas. Você é forte, independente e se tornou uma mulher belíssima, mas não precisa se mostrar uma femme fatale para provar isso.

Compreendendo seu temor, coloco minha mão sobre a sua e sorrio para ela. Quero explorar novos estilos e me sentir ousada sem ficar descofortável. Minha mãe me entende e sempre me ajuda a descobrir o melhor caminho.

— É por isso que conto com a senhora para encontrar o equilíbrio.

— Então é melhor nos apressarmos. Temos uma loja inteira para explorar!

No fundo, não sei o que realmente esperar desse jantar. Podemos nos ater a assuntos frívolos e banais ou os Becker podem falar sobre uma proposta de casamento. Não há chances de eu aceitar a investida. Mesmo que esteja magoada com Sebastian, aceitar uma oferta de casamento para causar ciúmes é impensável. Tenho meus pais como grandes exemplos e, para mim, o casamento é uma instuição séria demais para ser usada de forma tão inconsequente.

Foi ótimo ter esse tempo com a minha mãe, passamos a tarde nos aventurando entre diferentes tipos de modelos, texturas e cores. Apesar da vontade de inovar, eu não fazia ideia do que queria vestir, mas minha mãe tinha ideias muito concretas em sua mente e estava determinada a colocá-las em prática.

Estar próxima a ela nesse momento em que me sinto particularmente sensível sobre meus sentimentos fez maravilhas ao meu humor. A tal ponto que, quando Fagner me acompanhou para casa com o vestido escolhido em mãos, eu não me incomodei em ter o olhar intenso de Sebastian fixado em mim.

Ele havia feito uma escolha e eu também.

A Artista - Série Mafiosos 0.5Where stories live. Discover now